As manifestações do dia
26 de março de 2019 em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e às pautas como
reforma da previdência, pacote anticrime e reforma administrativa não tiveram a
adesão que o governo esperava e também não foram o fracasso que opositores
torciam. As manifestações levaram às ruas um número coerente de apoiadores do
governo. O saldo final é Bolsonaro mais fortalecido, mas não muito.
Uma das pautas das
manifestações, a reforma da previdência, tramita em ritmo lento, na percepção
dos manifestantes, mais por conta do empenho do presidente do que pela ação do
Congresso.
Alvo principal da fúria
dos manifestantes, Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, é um
entusiasta maior do que o próprio Bolsonaro quando o assunto é a previdência.
Rodrigo Maia e o Congresso têm tido um empenho muito maior com a reforma do que
Bolsonaro, provocando críticas de deputados como Kim Kataguiri (DEM-SP) que
mais de uma vez disse para o presidente sair do Twitter e trabalhar pela
aprovação da medida.
Em tal ponto, as
manifestações tendem a favorecer mais aos interesses do Congresso. Bolsonaro
fica um pouco mais pressionado pelo clamor popular e precisará começar a
trabalhar pela reforma.
Os manifestantes ainda
não se deram conta que o interesse de Bolsonaro é muito pequeno com a reforma.
O presidente não foi eleito para fazê-la, mas sim para combater a corrupção,
diminuir a violência urbana e proteger as famílias. Para a sorte do presidente,
a percepção equivocada da população de que a culpa para a não aprovação da
reforma é do Congresso garante a Bolsonaro um álibi poderoso.
Bolsonaro poderá dizer,
respaldado pelos manifestantes, que o governo está parado pelas ações espúrias dos
deputados e não pelas suas próprias incapacidades.
Entretanto, como tudo
na vida que segue a teoria de utilidade marginal, tal álibi ficará desgastado
quanto mais for utilizado. Se a economia não melhorar e o emprego não aparecer,
não há fanático que engula “a culpa é do Congresso” por muito tempo.
Apesar do aumento de
popularidade que as manifestações irão dar a Bolsonaro, os índices de aprovação
dificilmente voltarão aos patamares pós-eleição. A base frágil de eleitores que
votaram em Bolsonaro por conta do antipetismo já foi dissipada, permanecendo 35%
de fies bolsonaristas.
Com as futuras crises
que irão ocorrer por serem praxe do estilo de administração de Bolsonaro, os
índices de aprovação tenderão a voltar ao piso dos 35%.
Se as manifestações
serviram com certeza para algo, foi para identificar quem são os 35% da
população que sustentam o governo Bolsonaro. Uma parcela considerável do montante
é composta por religiosos neopentecostais.
Bolsonaro sabe muito
bem quem são seus apoiadores e governa para eles com o restante da população
vindo a reboque. É sintomático o presidente ter concedido uma entrevista
exclusiva para a Record TV logo após as manifestações terem terminado.
Para manter o importante
e valioso apoio dos neopentecostais, Bolsonaro precisará inclinar cada vez mais
seu discurso para o campo religioso. Antes das manifestações, Bolsonaro foi a
uma Igreja Batista e discursou em frente a um telão luminoso que exibia a bandeira
do Brasil. Dias antes, o presidente compartilhou um vídeo de um pastor congolês
dizendo que Bolsonaro era um enviado por Deus para governar o país.
Durante as
manifestações, um sacerdote da Liga Mundial Cristã celebrou um ato religioso em
agradecimento a Deus pela vida do presidente e apontou que a esquerda está do
lado do diabo, afirmando que Bolsonaro foi escolhido por Deus e não tem “Messias”
no nome à toa.
Tal estratégia adotada
por Bolsonaro é perigosa porque há inclinação para caminhos irracionais. O discurso
religioso tende a ser confundido com o apoio presidencial, transformando-se em
uma mistura irracional de fundamentalismo.
Questionar Bolsonaro é
questionar o próprio Deus que o enviou para redimir e solucionar os problemas
do país. A facada levada em Juiz de Fora é um sacrifício da imolação do cordeiro
para a salvação do Brasil.
Os 35% tendem a se
transformar em um exército de pressão contra todos aqueles que estão contrários
a Bolsonaro. Aqueles que não fizerem as vontades de Bolsonaro estarão
contrariando Deus e acabarão sendo vistos como inimigos do próprio criador. Se
os vilões do Congresso estão tão contra Deus, o melhor a fazer é fechá-lo,
encerrando a nossa democracia.
O desemprego, a saúde
precária e péssima economia deixam de serem incompetências de Bolsonaro para
serem vontades de Deus ou culpa dos endemoniados congressistas. Se a irracionalidade
político-religiosa imperar, que Deus nos ajude.
Parabéns Professor Leonardo, lhe acompanho todos os dias e vejo muita sensatez em seu texto e seus vídeos. PARABÉNS .
ResponderExcluirParafraseando o chargista Maurício Ricardo, em um de seus últimos vídeos: eles tomaram para eles a camisa da seleção brasileira, nossa bandeira nacional e agora querem ficar com o monopólio de Deus. Não, nosso Deus não.
ResponderExcluirRealmente Mateus, o Prof Leonardo faz um excelente trabalho. 👏🏾👏🏾👏🏾
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