Depois de cinco meses
de governo, muitas pessoas dizem que Bolsonaro não governa o país. Elas estão
erradas. Bolsonaro governa muito bem o rumo do Brasil que é o caos. O presidente
deseja o caos para poder governar. Quando esteve nos EUA pela primeira vez,
Bolsonaro disse ser necessário desconstruir muita coisa para poder construir. E
é exatamente isso que ele tem feito.
O presidente não se
importa com PIB, fome, emprego, crescimento da economia, educação, Amazônia, corrupção
e Congresso, Bolsonaro quer a destruição para poder fazer do jeito dele.
Durante os 30 anos que
esteve como deputado, Bolsonaro aprendeu o jogo político e viu seus
antecessores padecerem nos finais de seus mandatos por conta de governarem com
o Congresso. Dilma e Collor sofreram impeachment, FHC saiu queimado e não
conseguiu eleger seu sucessor e Lula acabou preso.
O caso de Lula é
emblemático. O ex-presidente perdeu três eleições seguidas para conseguir
vencer. Quando venceu em 2002, ele não levou. Lula ganhou, mas não levou porque
precisou se alinhar a Collors, Sarneys e Malufs da vida, o pior da direita
brasileira. Lula não governou sozinho e Bolsonaro quer governar sozinho.
Sem negociar
praticamente nada, o presidente conseguiu aprovar a Medida Provisória 870, a MP
da reforma administrativa, em meio às críticas de opositores e temores de
aliados. A reforma da previdência tramita em bom ritmo no Congresso com pouco
esforço do presidente e será aprovada no segundo semestre conforme já previsto
por empresários.
Os dois projetos
enviados por Bolsonaro mostraram ao presidente que é possível governar sem o
Congresso. Os ruídos e atritos iniciais irão ocorrer como é praxe em qualquer
processo de mudança organizacional.
Para auxiliar o seu
movimento de poder, Bolsonaro conta com um movimento popular antidemocrático e antissistema,
originado nas manifestações de 2013, com o objetivo de aniquilar a oposição.
Todos contrários ao presidente são taxados de comunistas e esquerdistas.
Aqueles contrários a Bolsonaro são vistos como inimigos e não opositores.
Em sua própria
perspectiva, Bolsonaro não se vê como um presidente, mas sim como um capitão de
uma revolução bonapartista.
O objetivo da revolução
capitaneada por Bolsonaro é destruir tudo para vir com a solução bonapartista.
Movimento semelhante
acabou ocorrendo no Irã com Ruhollah Khomeini, o Aiatolá Khomeini. O líder
revolucionário iraniano era visto com desdém e chacota pela elite e intelectuais
iranianos. Muitos zombavam dizendo que ele era incapaz de usar vaso sanitário,
apenas fossa séptica. Aqueles que o desdenhavam não foram capazes de perceberem
o movimento que estava sendo formado. Quando Ruhollah pisou em Teerã, metade da
população era xiita e a revolução foi feita.
Qualquer semelhança com
o descrédito e deboches sofridos por Bolsonaro nos tempo de Super Pop e CQC e
com o crescimento da população evangélica no Brasil não é mera coincidência.
É provável que a
população evangélica seja conclamada a predominante no Brasil de modo oficial
no próximo censo do IBGE em 2020.
Os evangélicos
correspondem a uma parcela considerável do eleitorado de Bolsonaro. A
disciplina religiosa evangélica pode ser utilizada pelo presidente para cativar
e manter o seu fiel exército de fiéis. O presidente sabe disso e tem cultivado
cada vez mais um tom religioso em seus discursos.
A narrativa cada vez
mais utilizada por Bolsonaro e seus apoiadores é a unção divina. Bolsonaro,
antes de eleito pelo povo, é um eleito por Deus para governar o Brasil. Uma
escolha divina que qualquer oposição a ele é considerada uma oposição ao
próprio criador.
Depois de anos sendo
motivo de piada, Bolsonaro está se preparando para rir por último daqueles que
o debocharam. Vencer as eleições não foi suficiente porque ele precisa vencer e
levar. Para levar, Bolsonaro precisará governar sozinho. Para governar sozinho,
ele precisar destruir. Estamos todos no rumo que Bolsonaro quer.