quinta-feira, 30 de maio de 2019

Bolsonaro é o Napoleão brasileiro


Depois de cinco meses de governo, muitas pessoas dizem que Bolsonaro não governa o país. Elas estão erradas. Bolsonaro governa muito bem o rumo do Brasil que é o caos. O presidente deseja o caos para poder governar. Quando esteve nos EUA pela primeira vez, Bolsonaro disse ser necessário desconstruir muita coisa para poder construir. E é exatamente isso que ele tem feito.

O presidente não se importa com PIB, fome, emprego, crescimento da economia, educação, Amazônia, corrupção e Congresso, Bolsonaro quer a destruição para poder fazer do jeito dele.

Durante os 30 anos que esteve como deputado, Bolsonaro aprendeu o jogo político e viu seus antecessores padecerem nos finais de seus mandatos por conta de governarem com o Congresso. Dilma e Collor sofreram impeachment, FHC saiu queimado e não conseguiu eleger seu sucessor e Lula acabou preso.

O caso de Lula é emblemático. O ex-presidente perdeu três eleições seguidas para conseguir vencer. Quando venceu em 2002, ele não levou. Lula ganhou, mas não levou porque precisou se alinhar a Collors, Sarneys e Malufs da vida, o pior da direita brasileira. Lula não governou sozinho e Bolsonaro quer governar sozinho.

Sem negociar praticamente nada, o presidente conseguiu aprovar a Medida Provisória 870, a MP da reforma administrativa, em meio às críticas de opositores e temores de aliados. A reforma da previdência tramita em bom ritmo no Congresso com pouco esforço do presidente e será aprovada no segundo semestre conforme já previsto por empresários.

Os dois projetos enviados por Bolsonaro mostraram ao presidente que é possível governar sem o Congresso. Os ruídos e atritos iniciais irão ocorrer como é praxe em qualquer processo de mudança organizacional.

Para auxiliar o seu movimento de poder, Bolsonaro conta com um movimento popular antidemocrático e antissistema, originado nas manifestações de 2013, com o objetivo de aniquilar a oposição. Todos contrários ao presidente são taxados de comunistas e esquerdistas. Aqueles contrários a Bolsonaro são vistos como inimigos e não opositores.

Em sua própria perspectiva, Bolsonaro não se vê como um presidente, mas sim como um capitão de uma revolução bonapartista.

O objetivo da revolução capitaneada por Bolsonaro é destruir tudo para vir com a solução bonapartista.

Movimento semelhante acabou ocorrendo no Irã com Ruhollah Khomeini, o Aiatolá Khomeini. O líder revolucionário iraniano era visto com desdém e chacota pela elite e intelectuais iranianos. Muitos zombavam dizendo que ele era incapaz de usar vaso sanitário, apenas fossa séptica. Aqueles que o desdenhavam não foram capazes de perceberem o movimento que estava sendo formado. Quando Ruhollah pisou em Teerã, metade da população era xiita e a revolução foi feita.

Qualquer semelhança com o descrédito e deboches sofridos por Bolsonaro nos tempo de Super Pop e CQC e com o crescimento da população evangélica no Brasil não é mera coincidência.

É provável que a população evangélica seja conclamada a predominante no Brasil de modo oficial no próximo censo do IBGE em 2020.

Os evangélicos correspondem a uma parcela considerável do eleitorado de Bolsonaro. A disciplina religiosa evangélica pode ser utilizada pelo presidente para cativar e manter o seu fiel exército de fiéis. O presidente sabe disso e tem cultivado cada vez mais um tom religioso em seus discursos.

A narrativa cada vez mais utilizada por Bolsonaro e seus apoiadores é a unção divina. Bolsonaro, antes de eleito pelo povo, é um eleito por Deus para governar o Brasil. Uma escolha divina que qualquer oposição a ele é considerada uma oposição ao próprio criador.

Depois de anos sendo motivo de piada, Bolsonaro está se preparando para rir por último daqueles que o debocharam. Vencer as eleições não foi suficiente porque ele precisa vencer e levar. Para levar, Bolsonaro precisará governar sozinho. Para governar sozinho, ele precisar destruir. Estamos todos no rumo que Bolsonaro quer.

domingo, 26 de maio de 2019

O messias do Messias nas ruas do dia 26 de maio


As manifestações do dia 26 de março de 2019 em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e às pautas como reforma da previdência, pacote anticrime e reforma administrativa não tiveram a adesão que o governo esperava e também não foram o fracasso que opositores torciam. As manifestações levaram às ruas um número coerente de apoiadores do governo. O saldo final é Bolsonaro mais fortalecido, mas não muito.

Uma das pautas das manifestações, a reforma da previdência, tramita em ritmo lento, na percepção dos manifestantes, mais por conta do empenho do presidente do que pela ação do Congresso.

Alvo principal da fúria dos manifestantes, Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, é um entusiasta maior do que o próprio Bolsonaro quando o assunto é a previdência. Rodrigo Maia e o Congresso têm tido um empenho muito maior com a reforma do que Bolsonaro, provocando críticas de deputados como Kim Kataguiri (DEM-SP) que mais de uma vez disse para o presidente sair do Twitter e trabalhar pela aprovação da medida.

Em tal ponto, as manifestações tendem a favorecer mais aos interesses do Congresso. Bolsonaro fica um pouco mais pressionado pelo clamor popular e precisará começar a trabalhar pela reforma.

Os manifestantes ainda não se deram conta que o interesse de Bolsonaro é muito pequeno com a reforma. O presidente não foi eleito para fazê-la, mas sim para combater a corrupção, diminuir a violência urbana e proteger as famílias. Para a sorte do presidente, a percepção equivocada da população de que a culpa para a não aprovação da reforma é do Congresso garante a Bolsonaro um álibi poderoso.

Bolsonaro poderá dizer, respaldado pelos manifestantes, que o governo está parado pelas ações espúrias dos deputados e não pelas suas próprias incapacidades.

Entretanto, como tudo na vida que segue a teoria de utilidade marginal, tal álibi ficará desgastado quanto mais for utilizado. Se a economia não melhorar e o emprego não aparecer, não há fanático que engula “a culpa é do Congresso” por muito tempo.

Apesar do aumento de popularidade que as manifestações irão dar a Bolsonaro, os índices de aprovação dificilmente voltarão aos patamares pós-eleição. A base frágil de eleitores que votaram em Bolsonaro por conta do antipetismo já foi dissipada, permanecendo 35% de fies bolsonaristas.

Com as futuras crises que irão ocorrer por serem praxe do estilo de administração de Bolsonaro, os índices de aprovação tenderão a voltar ao piso dos 35%.

Se as manifestações serviram com certeza para algo, foi para identificar quem são os 35% da população que sustentam o governo Bolsonaro. Uma parcela considerável do montante é composta por religiosos neopentecostais.

Bolsonaro sabe muito bem quem são seus apoiadores e governa para eles com o restante da população vindo a reboque. É sintomático o presidente ter concedido uma entrevista exclusiva para a Record TV logo após as manifestações terem terminado.

Para manter o importante e valioso apoio dos neopentecostais, Bolsonaro precisará inclinar cada vez mais seu discurso para o campo religioso. Antes das manifestações, Bolsonaro foi a uma Igreja Batista e discursou em frente a um telão luminoso que exibia a bandeira do Brasil. Dias antes, o presidente compartilhou um vídeo de um pastor congolês dizendo que Bolsonaro era um enviado por Deus para governar o país.

Durante as manifestações, um sacerdote da Liga Mundial Cristã celebrou um ato religioso em agradecimento a Deus pela vida do presidente e apontou que a esquerda está do lado do diabo, afirmando que Bolsonaro foi escolhido por Deus e não tem “Messias” no nome à toa.

Tal estratégia adotada por Bolsonaro é perigosa porque há inclinação para caminhos irracionais. O discurso religioso tende a ser confundido com o apoio presidencial, transformando-se em uma mistura irracional de fundamentalismo.

Questionar Bolsonaro é questionar o próprio Deus que o enviou para redimir e solucionar os problemas do país. A facada levada em Juiz de Fora é um sacrifício da imolação do cordeiro para a salvação do Brasil.

Os 35% tendem a se transformar em um exército de pressão contra todos aqueles que estão contrários a Bolsonaro. Aqueles que não fizerem as vontades de Bolsonaro estarão contrariando Deus e acabarão sendo vistos como inimigos do próprio criador. Se os vilões do Congresso estão tão contra Deus, o melhor a fazer é fechá-lo, encerrando a nossa democracia.

O desemprego, a saúde precária e péssima economia deixam de serem incompetências de Bolsonaro para serem vontades de Deus ou culpa dos endemoniados congressistas. Se a irracionalidade político-religiosa imperar, que Deus nos ajude.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Jair Bolsonaro sendo cada vez mais Fernando Collor


As manifestações que ocorrerão dia 26 de maio são uma ideia sem sentido. O objetivo do governo é mostrar força após a população sair às ruas para protestar contra o corte de verbas promovido pelo Ministério da Educação para o ensino. É um recado que Bolsonaro e PSL pretendem dar à população dizendo que o governo ainda tem força e apoio população.

O grande problema é a data que as manifestações irão ocorrer. No dia 26 de maio de 2019, o governo Bolsonaro irá ter apenas 146 dias! É extremamente precoce um governo necessitar convocar manifestações para mostrar força para a população com menos de seis meses governando.

O primeiro presidente que sofreu impeachment, Fernando Collor, também agiu como Jair Bolsonaro. Em 1992, o ex-presidente convocou o povo para ir às ruas em apoio ao seu governo para mostrar que os apoiadores do impeachment eram apenas uma minoria. Collor, alvo de uma CPI no Congresso, proferiu palavras que soam curiosamente atuais. No pronunciamento, o ex-presidente disse: “a minoria atrapalha, a maioria trabalha. Vamos mostrar que já é hora de dar um basta a tudo isso. Vamos inundar o Brasil de verde e amarelo”. Qualquer coincidência é apenas ironia histórica.

O restante da história da manifestação em favor de Collor todos sabemos: o Brasil saiu de preto, o ato fracassou e Collor sofreu o impeachment.

A grande diferença da trágica história de Fernando Collor com a ainda-não-trágica história de Bolsonaro é o tempo que o antigo presidente precisou para apelar pelo apoio popular. Fernando Collor precisou chamar as ruas depois de dois anos de governo.

Com menos de seis meses em um cargo do Executivo, o normal seria o presidente estar surfando uma enorme onda de popularidade e aprovando todas as medidas que bem desejasse. Entretanto, com menos de 150 dias de governo, Bolsonaro parece que está em meio de mandato. É um governo envelhecido como bem definiu o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Há um desgaste e cansaço no ar com o governo Bolsonaro. Tudo parece difícil e as crises criadas pelo próprio governo exaurem a população que anseia por uma melhora no país que não parece que irá acontecer.

Imprensa e analistas já admitem o óbvio que a reforma da previdência não será a cura de todos os males do país. Sozinha e sem outras medidas, fazer ou não a reforma da previdência é a mesma coisa. O povo não engoliu, depois da reforma trabalhista, que menos direitos é mais empregos.

Sem perspectiva de melhora e com perspectiva de piora, a desaprovação presidencial apenas aumentou nos últimos meses. Era preciso entender que a base de eleitores bolsonaristas era frágil. Muitos, para não dizer a maioria, votaram em Bolsonaro para evitar uma volta do PT ao poder. Portanto, o que fez Bolsonaro ser eleito foi o antipetismo e não o bolsonarismo.

Com a fragilidade eleitoral, era previsível que a tolerância populacional fosse pequena com Bolsonaro. Era muito comum ouvir pessoas dizendo “se ele for mal, a gente tira” como se a retirada de um presidente fosse um ato simples e sem sequelas para o país.

Passados menos de seis meses, a fragilidade foi colocada à prova e esfarelou. Apoiando cegamente Bolsonaro, nós temos apenas os fanáticos da extrema-direita e os neopentecostais. A dúvida do voto em Bolsonaro nas eleições de 2018 começa a bater na cabeça de seus eleitores menos fervorosos.

Entretanto, fanáticos da extrema-direita e os neopentecostais são insuficientes para a manutenção de Bolsonaro no poder. As manifestações que emergiram com um caráter radical e golpista contra o STF e Congresso precisaram ser alteradas. Alas menos radicais do bolsonarismo foram contrárias às manifestações, forçando uma alteração para pautas mais democráticas com o objetivo de fazer o movimento não fracassar.

O fracasso das manifestações do dia 26 seria, e ainda poderá ser, terrível para Bolsonaro. Um recado diretamente das ruas dizendo que o presidente está sozinho. Com menos de 146 dias como presidente do Brasil, Bolsonaro precisará das manifestações de domingo para mostrar para o povo e, principalmente, para si mesmo que o país ainda não o abandonou. Quando será convocada a próxima?

sábado, 18 de maio de 2019

É o povo que sustenta Bolsonaro?


É inevitável dizer que o governo Bolsonaro acabou. A grande imprensa trabalha com duas possibilidades para o fim de Bolsonaro: renúncia ou impeachment. Entretanto, eu trabalho com uma terceira opção que é a pivotagem, termo comum em empreendedorismo que significa mudar a estratégia de uma empresa que estava indo pelo caminho errado. Seja qual for o caminho tomado, o governo atual na forma como conhecemos irá deixar de existir.

Bolsonaro conta hoje com quatro núcleos de poder que dão indícios de abandono.

O primeiro núcleo de poder é aquele que podemos apelidar de “intelectuais de direita” ou “pensamento de direita”. São pertencentes a tal grupo aqueles considerados pensadores de direita como Lobão, Olavo de Carvalho e Luiz Felipe Pondé. Os três já deram sinais de abandono, sendo que Lobão e Olavo já abandonaram o navio Bolsonaro. Lobão até mesmo começou a criticar publicamente o presidente.

O segundo núcleo de poder é aquele constituído pela imprensa. O grande destaque do núcleo é Marco Antônio Villa da Jovem Pan. Villa é uma figura central no núcleo da imprensa por ter sido um duro crítico dos governos petistas, principalmente de Fernando Haddad como prefeito de São Paulo. Por ter sido bastante aclamado pela direita, Villa consegue ter maior penetração com tal público, tornando suas palavras mais aderentes aos prováveis eleitores de Bolsonaro.

O terceiro núcleo de poder é constituído pelo próprio governo. Em tal núcleo estão Sérgio Moro, os militares e Paulo Guedes. A presença de Bolsonaro na presidência prejudica a imagem dos militares com a população, frustra os planos de Sérgio Moro e desidrata os objetivos reformistas de Paulo Guedes. Não seria de estranhar que tal núcleo começasse a ter interesse na queda de Bolsonaro. É pertinente lembrar que Bolsonaro ficou muito incomodado com a intenção dos militares de tutelá-lo.

O quarto núcleo de poder são os partidos e políticos de direita. Apesar de nunca terem embarcado de verdade nessa barca Bolsonaro, partidos de direita e até mesmo do centrão começam a debandar e a provocar seguidas derrotas do governo no Congresso. Partidos como DEM e PRÓS e políticos como Janaína Paschoal, do próprio PSL, já fazem críticas públicas ao presidente. O próprio PSL possui deputados críticos ao modo de agir do presidente.

Com tantos elementos contrários, Bolsonaro deveria estar por um fio de ser derrubado. Entretanto, a situação não é o que parece. A aprovação de Bolsonaro encontrou um piso de 35% de pessoas que consideram o governo bom ou ótimo. Os 35% de bom ou ótimo são mais do que suficientes para manter Bolsonaro como presidente pelos próximos anos. Com até 20%, Bolsonaro consegue manter-se no poder. Macron, presidente francês conseguiu permanecer no poder com uma aprovação bem menor.

O que precisa ser investigado e acompanhado atentamente é a resiliência dos 35% que seguram o governo Bolsonaro. Por quanto tempo tal parcela da população irá manter a aprovação do presidente nos níveis atuais? Diversas pesquisas recentes apontam uma manutenção de tal valor.

Vale ressaltar, porém, que nenhuma pesquisa foi realizada após as manifestações ocorridas no dia 15 de maio. Os dias que se sucederam foram turbulentos para o presidente. Além das manifestações contra o corte de verbas para o ensino, Bolsonaro viu a investigação contra Flávio Bolsonaro ficar mais grave e o retorno das palavras “impeachment” na boca dos jornalistas e analistas políticos. O próprio presidente chegou a mencionar a palavra para justificar o corte no ensino.

A próxima pesquisa de aprovação será essencial para mensurar qual dos três caminhos citados no começo do texto será tomado. Se as manifestações contra o corte no ensino forem suficientes para fazer a aprovação positiva de Bolsonaro romper o piso dos 30%, é bem possível que os caminhos dados pela grande mídia sejam aqueles a serem tomados.

terça-feira, 14 de maio de 2019

João Doria vem aí


Passados quatro meses e algumas semanas do início do governo Bolsonaro, os indicadores de desempenho governamentais são preocupantes. O desemprego aumentou, a projeção de crescimento do PIB caiu, os dados que embasam a reforma da previdência são frágeis, brigas e intrigas administrativas ocorreram e a aprovação de presidente e ministros caíram, inclusive a de Sérgio Moro, ministro mais popular do governo. Tudo isso sem que houvesse qualquer tipo de oposição mais contundente.

Nunca antes na história desse país houve um governo tão autodestrutivo como o de Bolsonaro. Recentemente, o presidente tratou de comprometer publicamente a reputação de seu pilar de sustentação mais importante, o ministro da Justiça Sérgio Moro. Se o país tinha 99% de certeza que Moro aceitou ser ministro para pleitear uma vaga no STF, com a fala de Bolsonaro, o Brasil tem 100% de convicção. Em fala para o jornalista Milton Neves, o presidente revelou que possuía um combinado com o antigo juiz para colocá-lo no STF.

A revelação de Bolsonaro levanta suspeita sobre o herói da classe-média que lutou contra a corrupção e contra os corruptos, aquele que prendeu o considerado como o bandido maior da nação, o ex-presidente Lula. A moral de Moro com a população está ameaçada por uma troca de cargos e favores típica da velha política, o que não seria problema nenhum se não fosse feita por aqueles que a condenam.

É o início do fim do fim do início do governo Bolsonaro.

Entretanto, apesar do que muitos acham e esperam que ocorra, a derrocada de Bolsonaro não favorece um cenário para a esquerda em 2022. Porém, a desidratação de Bolsonaro favorece Lula.
Apesar de parecer dicotômico, para entender o parágrafo anterior, é preciso ter em mente que Lula é uma figura diferente. Lula não representa a esquerda. Lula representa ele mesmo porque Lula é uma entidade que está sobre a esquerda. O ex-presidente transcende partidos e espectros políticos.

A lembrança dos tempos de Lula, onde os pobres comiam e tinham direitos, ainda é recente. Os cortes e mazelas de Bolsonaro com os mais pobres reacende a memória afetiva da população com Lula.

O antipetismo ainda é a força política mais relevante no momento. Mas antipetismo não é antilulismo. É importante a atenção aos termos. Enquanto o antipetismo for forte, a esquerda não terá chances.

É difícil saber se Lula terá condições de ser candidato em 2022. Além das questões burocráticas que poderão impedi-lo, a idade do ex-presidente será um fator de complicação já que Lula terá 77 anos até lá.
Sem Lula, a esquerda precisaria se articular e trabalhar muito para sedimentar na cabeça e nos corações dos brasileiros o seu valor até 2022. O tempo, entretanto, é curto e joga contra a esquerda que teima em não fazer oposição contundente.

Ciro Gomes tem tentado com o Observatório Trabalhista ser o líder da oposição, ditando seus rumos e pautando suas ações. O trabalho de Ciro Gomes é louvável por estar educando o país a como fazer oposição novamente. Porém, mesmo com muito trabalho e esforço, falta a Ciro o carisma necessária para convencer e emocionar. Falta uma pitada de Lula a Ciro.

Com a esquerda em dificuldades e Bolsonaro desmoronando, 2022 parece estar caindo de bandeja no colo do governador de São Paulo João Doria.

João Doria é comunicativo e sabe se expressar. Foi apresentador de televisão e conhece aquilo que as pessoas querem ouvir. Ele foi pioneiro no Brasil em utilizar a internet como plataforma para a vitoriosa e implacável campanha para prefeito de São Paulo em 2016.

Em São Paulo, todos sabem das pretensões do governador de disputar a presidência na próxima eleição. No PSDB, Doria reina absoluto e colocou para escanteio antigos caciques como Alckimin e José Serra. O partido é dele.

Nos bastidores, a articulação política já está sendo traçada. Compõem as secretarias de Doria diversos integrantes do antigo governo Michel Temer. O ex-ministro da Fazendo Henrique Meirelles (MDB) faz parte das secretarias de Doria, além do astuto e poderoso nos bastidores Gilberto Kassab (PSD).

O caminho para 2022 está mais próximo do que as pessoas imaginam. Em 2020, o Brasil terá uma prévia nas eleições municipais. A força de Bolsonaro, o carisma de Lula, o esforço de Ciro Gomes e a influência de João Doria serão previamente testados ano que vem.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

O governo é um BBB

O governo Bolsonaro virou um verdadeiro Big Brother Brasil. Durante 24 horas por dia e sete dias por semana, polêmicas e mais polêmicas tomam as manchetes dos jornais, blogs, vídeos no YouTube, memes e afins. Não existe mais privacidade no governo e as redes sociais se transformaram no confessionário onde reputações são expostas e roupa suja fica ainda mais suja.

No gabinete mais vigiado do Brasil, dois grupos disputam a liderança e a preferência do público. De um lado, o grupo olavista comandando pelo guru presidencial Olavo de Carvalho e seus seguidores que incluem ministros e filhos do presidente. Do outro lado, militaristas liderados pelo vice-presidente Mourão.

Observando tudo com olhos atentos, o big boss Bolsonaro trabalha para manter os níveis de audiência de seu governo que começam a apresentar quedas no horário nobre.

A mais nova polêmica entre os grupos envolveu o líder Olavo de Carvalho com o vice-líder militarista, o general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo. O general vem sofrendo ataques coordenados dos olavistas Carlos Bolsonaro e do próprio Olavo, incitando seus seguidores nas redes sociais a endossarem o repúdio a Santos Cruz. O ministro disse a Bolsonaro que há um ataque coordenado contra ele e que não passará pelo constrangimento passado pelo eliminado Gustavo Bebianno. Santos Cruz suspeita que o big boss seja o incentivador dos ataques.

A suspeita do ministro tem fundamento porque Bolsonaro desautorizou indiretamente Santos Cruz pelo Twitter. O ato de Bolsonaro foi suficiente para inflamar a ala olavista que age para reduzir o poder dos militaristas no governo. Carlos Bolsonaro, um dos olavistas, criticou publicamente a estratégia de comunicação governamental adotada por Santos Cruz e deflagrou uma crise envolvendo o general Mourão, fritando publicamente dois dos principais membros da ala militarista.

No atual momento do jogo, Bolsonaro parece mais simpático com o grupo olavista. O presidente tem demonstrado incômodo com o grupo militarista por uma possível tentativa de surrupiar o cargo de big boss da presidência e tutelar os destinos do programa.

A simpatia de Bolsonaro aos olavistas tem sido vista como omissão por militares que deram o recado pelo mais respeitado general da reserva, o general Eduardo Villas Bôas. Villas Boas disse que Olavo é desprovido de princípios e não promove soluções concretas para o país além de dizer que rebater o guru de Bolsonaro seria dar importância a ele.

Por sua vez, para manter alta a audiência do gabinete mais vigiado do Brasil, Olavo disse que os militares estão se escondendo atrás de Villas Bôas, referindo-se a ele como um “doente em uma cadeira de rodas”. O comentário provocou repúdio em senadores que saíram em defesa do general. Lasier Martins (Podemos), Luiz Carlos Heinze (PP) e Paulo Paim (PT) assinaram um documento em favor do general.

O atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM) também se manifestou contra Olavo de Carvalho ao prestar solidariedade ao ministro Santos Cruz. Outro senador, o Major Olímpio (PSL), defendeu a ala militar e pediu para que Olavo não seja associado ao PSL.

O público, por sua vez, acompanha consternado o reality show governamental, buscando explicações para a situação que está ocorrendo. Em socorro do público, a imprensa especializada tenta explicar o inexplicável e demonstra cada vez mais que não faz a mínima ideia do que está dizendo.

A verdade sobre o BBB da presidência é que ele deve ser assistido da mesma forma que a vida deve ser vivida na ótica de Albert Camus. Segundo Camus, a vida vai ser melhor se a vivermos sem buscarmos um sentido. É possível que o conselho de Camus seja utilizado para entendermos o governo Bolsonaro.

terça-feira, 7 de maio de 2019

Weintraub sequestrador do ensino


O ministro da Educação Abraham Weintraub sequestrou o ensino brasileiro e está cobrando a reforma da previdência como resgate. Realizar um corte em um orçamento já aprovado em pleno meio de semestre é injustificável. Se o ministro precisasse reduzir os custos com o ensino, ele poderia fazer no planejamento orçamentário para o próximo período.

O corte nas verbas para o ensino só é justificado pela estratégia de aprovar a reforma da previdência. O próprio ministro e o general Mourão revelaram a estratégia ao condicionar a retomada nas verbas para o ensino ao crescimento econômico com a aprovação da reforma da previdência.

No dia 7 de maio, durante participação na Comissão de Educação no Senado, Weintraub disse: “Não houve corte, há um contingenciamento. Se a economia tiver um crescimento com aprovação da nova Previdência, se retomarmos a dinâmica de arrecadação, revertemos. Precisamos cumprir a lei de responsabilidade fiscal”.  É a admissão do sequestro vinda da boca do próprio sequestrador.

Apesar de titubear em alguns momentos, o governo Bolsonaro deseja aprovar a reforma da previdência. Mesmo com o presidente receoso e não mostrando sinais de estar convencido e apenhado com a ideia, o discurso geral do governo é aprovar a reforma. Quando um ministro da Educação tem mais a ver com a área econômica do que com o ensino e parecer mais engajado com o projeto da previdência, é um sinal claro dos interesses governamentais.

Entretanto, Bolsonaro e sua equipe falharam ao convencer a população a apoiar a aprovação da reforma. Mesmo com a grande mídia se negando a questionar os dados apresentados por Paulo Guedes e pressupostos duvidosos como a geração de empregos, a população parece calejada por eventos recentes e titubeia com promessas mirabolantes de políticos.

Com roteiro parecido ao da reforma da previdência, a reforma trabalhista de Michel Temer prometia retirada de direitos em troca de geração de empregos. O que ocorreu foi justamente o contrário. Os trabalhadores perderam direitos e a taxa de desemprego subiu no primeiro trimestre de 2019, atingindo 12,4% da população segundo dados do IBGE.

Para agravar a desconfiança e insegurança da população com a previdência, os dados e número apresentados por Paulo Guedes são frágeis e duvidosos. Em entrevistas, o ministro parece dizer números aleatórios para geração de emprego, passando um ar fictício e pouco convincente para os mais críticos.

Se os cálculos do ministro forem baseados no Power Point divulgado pelo governo como estudo oficial governamental que endossa a reforma, a desconfiança da população fica ainda mais justificável.

Já que os métodos convencionais estão fracassando e os eleitores não elegeram Bolsonaro para fazer a reforma da previdência, o governo optou pela adoção do “método da dor” para persuadir pela força a população.

O governo sabe que a educação é uma temática sensível ao povo brasileiro, ficando ainda mais evidente com os protestos ao anúncio de Weintraub referente aos cortes por balbúrdia na UFF, UFBA e UnB. Os protestos da população foram o sinal inequívoco para o governo que haveria uma forma de convencer a população a apoiar a reforma previdência. Bastava expandir os cortes para todo o ensino que a população iria reagir. E foi exatamente o que aconteceu.

A população ficou desesperada com a medida de Weintraub e acusou o golpe como previsto pelo governo. Desorientada e pouco articulada, a população tende a pagar o preço do resgate para ter de volta a tão necessária educação.

Entretanto, para a maioria dos casos de sequestro, o final nunca é positivo para o sequestrador. Se não ocorrer nenhum caso de Síndrome de Estocolmo, o governo poderá pagar um alto preço por ter ameaçado a população da forma tão violenta e cruel.