quarta-feira, 22 de maio de 2019

Jair Bolsonaro sendo cada vez mais Fernando Collor


As manifestações que ocorrerão dia 26 de maio são uma ideia sem sentido. O objetivo do governo é mostrar força após a população sair às ruas para protestar contra o corte de verbas promovido pelo Ministério da Educação para o ensino. É um recado que Bolsonaro e PSL pretendem dar à população dizendo que o governo ainda tem força e apoio população.

O grande problema é a data que as manifestações irão ocorrer. No dia 26 de maio de 2019, o governo Bolsonaro irá ter apenas 146 dias! É extremamente precoce um governo necessitar convocar manifestações para mostrar força para a população com menos de seis meses governando.

O primeiro presidente que sofreu impeachment, Fernando Collor, também agiu como Jair Bolsonaro. Em 1992, o ex-presidente convocou o povo para ir às ruas em apoio ao seu governo para mostrar que os apoiadores do impeachment eram apenas uma minoria. Collor, alvo de uma CPI no Congresso, proferiu palavras que soam curiosamente atuais. No pronunciamento, o ex-presidente disse: “a minoria atrapalha, a maioria trabalha. Vamos mostrar que já é hora de dar um basta a tudo isso. Vamos inundar o Brasil de verde e amarelo”. Qualquer coincidência é apenas ironia histórica.

O restante da história da manifestação em favor de Collor todos sabemos: o Brasil saiu de preto, o ato fracassou e Collor sofreu o impeachment.

A grande diferença da trágica história de Fernando Collor com a ainda-não-trágica história de Bolsonaro é o tempo que o antigo presidente precisou para apelar pelo apoio popular. Fernando Collor precisou chamar as ruas depois de dois anos de governo.

Com menos de seis meses em um cargo do Executivo, o normal seria o presidente estar surfando uma enorme onda de popularidade e aprovando todas as medidas que bem desejasse. Entretanto, com menos de 150 dias de governo, Bolsonaro parece que está em meio de mandato. É um governo envelhecido como bem definiu o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Há um desgaste e cansaço no ar com o governo Bolsonaro. Tudo parece difícil e as crises criadas pelo próprio governo exaurem a população que anseia por uma melhora no país que não parece que irá acontecer.

Imprensa e analistas já admitem o óbvio que a reforma da previdência não será a cura de todos os males do país. Sozinha e sem outras medidas, fazer ou não a reforma da previdência é a mesma coisa. O povo não engoliu, depois da reforma trabalhista, que menos direitos é mais empregos.

Sem perspectiva de melhora e com perspectiva de piora, a desaprovação presidencial apenas aumentou nos últimos meses. Era preciso entender que a base de eleitores bolsonaristas era frágil. Muitos, para não dizer a maioria, votaram em Bolsonaro para evitar uma volta do PT ao poder. Portanto, o que fez Bolsonaro ser eleito foi o antipetismo e não o bolsonarismo.

Com a fragilidade eleitoral, era previsível que a tolerância populacional fosse pequena com Bolsonaro. Era muito comum ouvir pessoas dizendo “se ele for mal, a gente tira” como se a retirada de um presidente fosse um ato simples e sem sequelas para o país.

Passados menos de seis meses, a fragilidade foi colocada à prova e esfarelou. Apoiando cegamente Bolsonaro, nós temos apenas os fanáticos da extrema-direita e os neopentecostais. A dúvida do voto em Bolsonaro nas eleições de 2018 começa a bater na cabeça de seus eleitores menos fervorosos.

Entretanto, fanáticos da extrema-direita e os neopentecostais são insuficientes para a manutenção de Bolsonaro no poder. As manifestações que emergiram com um caráter radical e golpista contra o STF e Congresso precisaram ser alteradas. Alas menos radicais do bolsonarismo foram contrárias às manifestações, forçando uma alteração para pautas mais democráticas com o objetivo de fazer o movimento não fracassar.

O fracasso das manifestações do dia 26 seria, e ainda poderá ser, terrível para Bolsonaro. Um recado diretamente das ruas dizendo que o presidente está sozinho. Com menos de 146 dias como presidente do Brasil, Bolsonaro precisará das manifestações de domingo para mostrar para o povo e, principalmente, para si mesmo que o país ainda não o abandonou. Quando será convocada a próxima?

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