As
manifestações que ocorrerão dia 26 de maio são uma ideia sem sentido. O
objetivo do governo é mostrar força após a população sair às ruas para
protestar contra o corte de verbas promovido pelo Ministério da Educação para o
ensino. É um recado que Bolsonaro e PSL pretendem dar à população dizendo que o
governo ainda tem força e apoio população.
O
grande problema é a data que as manifestações irão ocorrer. No dia 26 de maio
de 2019, o governo Bolsonaro irá ter apenas 146 dias! É extremamente precoce um
governo necessitar convocar manifestações para mostrar força para a população
com menos de seis meses governando.
O
primeiro presidente que sofreu impeachment, Fernando Collor, também agiu como
Jair Bolsonaro. Em 1992, o ex-presidente convocou o povo para ir às ruas em
apoio ao seu governo para mostrar que os apoiadores do impeachment eram apenas
uma minoria. Collor, alvo de uma CPI no Congresso, proferiu palavras que soam
curiosamente atuais. No pronunciamento, o ex-presidente disse: “a minoria
atrapalha, a maioria trabalha. Vamos mostrar que já é hora de dar um basta a
tudo isso. Vamos inundar o Brasil de verde e amarelo”. Qualquer coincidência é
apenas ironia histórica.
O
restante da história da manifestação em favor de Collor todos sabemos: o Brasil
saiu de preto, o ato fracassou e Collor sofreu o impeachment.
A
grande diferença da trágica história de Fernando Collor com a ainda-não-trágica
história de Bolsonaro é o tempo que o antigo presidente precisou para apelar pelo
apoio popular. Fernando Collor precisou chamar as ruas depois de dois anos de
governo.
Com
menos de seis meses em um cargo do Executivo, o normal seria o presidente estar
surfando uma enorme onda de popularidade e aprovando todas as medidas que bem
desejasse. Entretanto, com menos de 150 dias de governo, Bolsonaro parece que
está em meio de mandato. É um governo envelhecido como bem definiu o senador
Renan Calheiros (MDB-AL).
Há
um desgaste e cansaço no ar com o governo Bolsonaro. Tudo parece difícil e as
crises criadas pelo próprio governo exaurem a população que anseia por uma
melhora no país que não parece que irá acontecer.
Imprensa
e analistas já admitem o óbvio que a reforma da previdência não será a cura de
todos os males do país. Sozinha e sem outras medidas, fazer ou não a reforma da
previdência é a mesma coisa. O povo não engoliu, depois da reforma trabalhista,
que menos direitos é mais empregos.
Sem
perspectiva de melhora e com perspectiva de piora, a desaprovação presidencial
apenas aumentou nos últimos meses. Era preciso entender que a base de eleitores
bolsonaristas era frágil. Muitos, para não dizer a maioria, votaram em
Bolsonaro para evitar uma volta do PT ao poder. Portanto, o que fez Bolsonaro
ser eleito foi o antipetismo e não o bolsonarismo.
Com
a fragilidade eleitoral, era previsível que a tolerância populacional fosse
pequena com Bolsonaro. Era muito comum ouvir pessoas dizendo “se ele for mal, a
gente tira” como se a retirada de um presidente fosse um ato simples e sem sequelas
para o país.
Passados
menos de seis meses, a fragilidade foi colocada à prova e esfarelou. Apoiando
cegamente Bolsonaro, nós temos apenas os fanáticos da extrema-direita e os
neopentecostais. A dúvida do voto em Bolsonaro nas eleições de 2018 começa a
bater na cabeça de seus eleitores menos fervorosos.
Entretanto,
fanáticos da extrema-direita e os neopentecostais são insuficientes para a
manutenção de Bolsonaro no poder. As manifestações que emergiram com um caráter
radical e golpista contra o STF e Congresso precisaram ser alteradas. Alas
menos radicais do bolsonarismo foram contrárias às manifestações, forçando uma
alteração para pautas mais democráticas com o objetivo de fazer o movimento não
fracassar.
O
fracasso das manifestações do dia 26 seria, e ainda poderá ser, terrível para
Bolsonaro. Um recado diretamente das ruas dizendo que o presidente está
sozinho. Com menos de 146 dias como presidente do Brasil, Bolsonaro precisará
das manifestações de domingo para mostrar para o povo e, principalmente, para
si mesmo que o país ainda não o abandonou. Quando será convocada a próxima?
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