Aparentemente,
depois do “marxismo cultural”, vivemos um tempo de “fascismo cultural” onde o
mais importante é a união ao invés da polarização. No fascismo cultural a
política tende a se unir, deixando de existir a polarização para a convergência
de todos os interesses em um único objetivo que é o bem da nação, como se o bem
da nação para os mais pobres fosse o mesmo para os mais ricos.
Porém,
as diferenças não importam no fascismo cultural. Todos devem deixar seus
interesses de lado para lutarem por um país melhor, seja lá o que isso queira
dizer. Mas se as pessoas estão unidas, significa que todos estão no caminho.
Em
um mundo pós-moderno, a ideia do fascismo cultural é muito sedutora, pois,
assim como os gravetos que compõem o fascio,
as pessoas são frágeis individualmente. A falta de conexões profundas e
duradouras provoca a liquidez do ser humano que passa a adotar formas variadas
com o transcorrer das situações. Assim como uma poça d´água na calçada que muda
de forma conforme o vento, a vida do homem na pós-modernidade também varia de
forma, provocando incertezas e inseguranças com o futuro. Hoje, o indivíduo
pode estar casado, amanhã, divorciado; hoje, o indivíduo pode estar trabalhando
como médico, amanhã, pode estar trabalhando como advogado. É um mundo de
infinitas possibilidades, mas também de muitas incertezas e as relações pessoais
frágeis provocam um sentimento de impotência e insegurança nos indivíduos.
Portanto,
para sentir-se mais forte e seguro, o indivíduo, cada vez mais individualizado na
sociedade, busca a proteção grupo. A poça d´água busca se aglutinar ao lago
para poder ter estabilidade. Por conta do seu tamanho e volume, dificilmente o
lago sofrerá grandes mudanças porque a quantidade de poças d´água é tão grande
que apenas haverá mudanças se algo muito brusco ocorrer. Há uma sensação de
segurança dos indivíduos ao fazerem parte de um grupo maior. É a união fazendo
a força de todas as varas jutas compondo o fascio
e o fascismo.
No
estado de união do fascismo cultural, aqueles que pensam diferente do grupo são
cooptados a pensarem da mesma forma ou serão severamente punidos. É a
concentração do poder pela violência e a hostilidade com a democracia,
confundidos com o próprio estado democrático. Tudo por conta de um sentimento
de lealdade ao grupo e à figura do líder.
O
líder é fundamental para dar rumo e sentido na vida dos indivíduos que incerta.
Se os indivíduos possuem incertezas para que qual rumo tomar, a figura do líder
mostra o caminho como se fosse um guru ou conselheiro espiritual.
Outra
característica fascista presente no fascismo cultural é a vitimização. Quantas
vezes políticos fascistas culturais já disseram serem vítimas da maldita
polarização que dominou o Brasil?
Assim
como o fascismo busca inimigos fictícios, o fascismo cultural encontrou na
polarização o inimigo a ser combatido. Todas as pessoas podem emitir a suas
opiniões desde que não sejam polarizadas. A política precisa ser pasteurizada,
pois a polarização apenas atrapalha o bom andamento da democracia e o
desenvolvimento do país.
Os
fascistas culturais dizem que enquanto as pessoas brigam na guerra “direita
contra esquerda”, o Brasil não irá prosperar. Portanto, deve haver uma união
dos pensamentos onde todos pensam iguais, contanto que seja o pensamento do
líder fascista.
O
leitor e a leitora mais atentos deve ter percebido que evitei posicionar o
fascismo cultural na direita ou na esquerda. Obviamente, há um propósito para
tal. Isso porque o fascismo cultural, diferentemente do fascista cultural, é
democrático. Ele não possui fronteiras ou divisões, podendo existir tanto na
esquerda quanto na direita.
Se
você, leitor ou leitora, ouviu falar sobre união das esquerdas para derrotarem
a direita, fique sabendo que você está de frente para o fascismo cultural.