quinta-feira, 30 de maio de 2019

Bolsonaro é o Napoleão brasileiro


Depois de cinco meses de governo, muitas pessoas dizem que Bolsonaro não governa o país. Elas estão erradas. Bolsonaro governa muito bem o rumo do Brasil que é o caos. O presidente deseja o caos para poder governar. Quando esteve nos EUA pela primeira vez, Bolsonaro disse ser necessário desconstruir muita coisa para poder construir. E é exatamente isso que ele tem feito.

O presidente não se importa com PIB, fome, emprego, crescimento da economia, educação, Amazônia, corrupção e Congresso, Bolsonaro quer a destruição para poder fazer do jeito dele.

Durante os 30 anos que esteve como deputado, Bolsonaro aprendeu o jogo político e viu seus antecessores padecerem nos finais de seus mandatos por conta de governarem com o Congresso. Dilma e Collor sofreram impeachment, FHC saiu queimado e não conseguiu eleger seu sucessor e Lula acabou preso.

O caso de Lula é emblemático. O ex-presidente perdeu três eleições seguidas para conseguir vencer. Quando venceu em 2002, ele não levou. Lula ganhou, mas não levou porque precisou se alinhar a Collors, Sarneys e Malufs da vida, o pior da direita brasileira. Lula não governou sozinho e Bolsonaro quer governar sozinho.

Sem negociar praticamente nada, o presidente conseguiu aprovar a Medida Provisória 870, a MP da reforma administrativa, em meio às críticas de opositores e temores de aliados. A reforma da previdência tramita em bom ritmo no Congresso com pouco esforço do presidente e será aprovada no segundo semestre conforme já previsto por empresários.

Os dois projetos enviados por Bolsonaro mostraram ao presidente que é possível governar sem o Congresso. Os ruídos e atritos iniciais irão ocorrer como é praxe em qualquer processo de mudança organizacional.

Para auxiliar o seu movimento de poder, Bolsonaro conta com um movimento popular antidemocrático e antissistema, originado nas manifestações de 2013, com o objetivo de aniquilar a oposição. Todos contrários ao presidente são taxados de comunistas e esquerdistas. Aqueles contrários a Bolsonaro são vistos como inimigos e não opositores.

Em sua própria perspectiva, Bolsonaro não se vê como um presidente, mas sim como um capitão de uma revolução bonapartista.

O objetivo da revolução capitaneada por Bolsonaro é destruir tudo para vir com a solução bonapartista.

Movimento semelhante acabou ocorrendo no Irã com Ruhollah Khomeini, o Aiatolá Khomeini. O líder revolucionário iraniano era visto com desdém e chacota pela elite e intelectuais iranianos. Muitos zombavam dizendo que ele era incapaz de usar vaso sanitário, apenas fossa séptica. Aqueles que o desdenhavam não foram capazes de perceberem o movimento que estava sendo formado. Quando Ruhollah pisou em Teerã, metade da população era xiita e a revolução foi feita.

Qualquer semelhança com o descrédito e deboches sofridos por Bolsonaro nos tempo de Super Pop e CQC e com o crescimento da população evangélica no Brasil não é mera coincidência.

É provável que a população evangélica seja conclamada a predominante no Brasil de modo oficial no próximo censo do IBGE em 2020.

Os evangélicos correspondem a uma parcela considerável do eleitorado de Bolsonaro. A disciplina religiosa evangélica pode ser utilizada pelo presidente para cativar e manter o seu fiel exército de fiéis. O presidente sabe disso e tem cultivado cada vez mais um tom religioso em seus discursos.

A narrativa cada vez mais utilizada por Bolsonaro e seus apoiadores é a unção divina. Bolsonaro, antes de eleito pelo povo, é um eleito por Deus para governar o Brasil. Uma escolha divina que qualquer oposição a ele é considerada uma oposição ao próprio criador.

Depois de anos sendo motivo de piada, Bolsonaro está se preparando para rir por último daqueles que o debocharam. Vencer as eleições não foi suficiente porque ele precisa vencer e levar. Para levar, Bolsonaro precisará governar sozinho. Para governar sozinho, ele precisar destruir. Estamos todos no rumo que Bolsonaro quer.

2 comentários:

  1. Muito bom esse texto!
    Bolsonaro quer destruir tudo mesmo,mas o que ele quer construir depois coisa boa não é. Um tanto obscuro é o futuro do País.

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  2. Narrativa de amplo conhecimento com ressalva ao movimento de 2013 que teve caráter espontâneo e autônomo. A palavra antisistema coube bem mas melhor utilizada no sentido de revolta ao sistema que exclui a democracia. Movimento antidemocrático de jeito nenhum! A motivação do movimento foi por mais democracia, mais participação popular, tanto é que o governo Dilma reuniu com alguns representantes para saber de suas reivindicações e se comprometeu em cumpri Las. Uma das faíscas que alimentou o movimento anti petismo, que o bolsonarismo pegou carona, foi a facada pelas costas que Dilma desferiu não cumprindo as pautas acordadas e a implementação da lei anti terrorismo que enquadrou inúmeros manifestantes que sofrem as consequências até hoje. Indícios de meu acerto no relato é a cor da pele dos manifestantes diferentemente das manifestações do pato amarelo. A juventude da periferia, professores estudantes e simpatizantes não foram acolhidos pela esquerda hegemônica liderada pelo Pt que tinham traços esquerdistas não identificados imediatamente na época. Pois bem, dito isso, quando Dilma chamou sua base de apoio para se defender do impeachment não teve respaldo muitos já tinham pulado o muro a direita. A falta de democracia dentro do próprio pt ocasionou tudo isso que vivemos hj.

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