Jair Bolsonaro preparou
uma arapuca política para o seu principal antagonista no momento, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), presidente da Câmara dos deputados federais. Mais do que simples
retórica para manter o engajamento da militância, os ataques de Bolsonaro a
Rodrigo Maia possuem forte componente político em um embate entre os poderes.
Com o mandato de presidente
da Câmara terminando em janeiro de 2021, Maia tem a intenção de permanecer por
mais dois anos no cargo, mas tem o seu desejo de prolongar o mandato proibido
pela Constituição que impede a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado
na mesma legislatura. Para permanecer no poder, Maia e o presidente do Senado,
o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), precisariam articular politicamente para
alterarem a legislação vigente.
Obviamente em um jogo de
poderes, o desejo de Rodrigo Maia é visto com maus olhos pelo presidente Jair
Bolsonaro e por aqueles que ambicionam a cadeira de presidente da Câmara. Para
Bolsonaro, seria mais fácil para o seu mandato ter um aliado explícito como
presidente da Câmara e seguir a vontade presidencial é o caminho mais fácil
para muitos postulantes ao cargo.
Alinhando a fome com a
vontade de comer, Bolsonaro iniciou costuras políticas nos bastidores ofertando
cargos do segundo escalão do governo para partidos do Centrão como PP, PL Republicanos
e PSD, partido de Gilberto Kassab, com o objetivo de retaliar Rodrigo Maia e
reduzir o isolamento político presidencial. Com partidos fisiológicos ao seu
lado, Bolsonaro cria dificuldades nos bastidores da política para as pretensões
de Rodrigo Maia.
De modo concomitante, o
presidente conta uma competente equipe de comunicação que sabe engajar e ativar
sua militância virtual. Em live transmitida no YouTube no último domingo, o
jornalista Oswaldo Eustáquio, apoiador de Bolsonaro, entrevistou Roberto
Jefferson, presidente do PTB e condenado no esquema do Mensalão, sobre um golpe
arquitetado por Rodrigo Maia em conjunto com PSDB, PT e veículos da imprensa,
como a Rede Globo, para derrubar Bolsonaro e garantir a sua reeleição à
presidência da Câmara, um prato cheio para todos os conspiracionistas e motivos
mais do que suficientes para engajar a militância a defender Bolsonaro.
Assim, a arapuca está
armada. Não tem como Rodrigo Maia vencer.
Se Maia articular e
conseguir a mudança da legislação, ficará com a imagem que aplicou um golpe
constitucional para expandir seus poderes. Se Maia não conseguir, perderá o
cargo mais importante da Câmara dos deputados e voltará a ser um mero deputado,
um deputado influente e poderoso, mas, ainda assim, um mero deputado.
Qualquer caminho tomado
por Maia o leva para a derrota e vitória de Bolsonaro que aposta, no momento,
em Arthur Lira (PP-AL) para ser o próximo presidente da Câmara. Publicamente, é
possível que Bolsonaro sustente um nome ligado à sua ala ideológica para suceder
o atual presidente da Câmara, mas trabalhará nos bastidores para impedir a reeleição
e dificultar o favorito de Maia.
Falando em número de cadeiras,
a aliança com PP, PL REPUBLICANOS, PSD e PTB renderia a Bolsonaro um total de 159
deputados, além de rachar o bloco composto por PL, PP, PSD, MDB, DEM,
SOLIDARIEDADE, PTB, PROS e AVANTE, enfraquecendo o grupo aliado mais próximo a
Rodrigo Maia.
Com o grupo rachado, Rodrigo
Maia e o DEM precisariam recompor suas forças com MDB e PSDB, jogando o partido
de fato para a oposição.
Vendo todo o jogo de
xadrez político entre Bolsonaro e Maia, no melhor estilo Bobby Fischer contra
Boris Spassky, fica a pergunta: onde está a esquerda nesse momento?