Jair Bolsonaro precisa
começar a tratar seu ministro da Justiça, principal integrante do governo, com
mais carinho. Sérgio Moro é de longe a pessoa mais importante e popular dentro
do governo Bolsonaro. A atuação destacável e proeminente nos julgamentos dos
políticos e demais envolvidos na Operação Lava-Jato deu a Sérgio Moro a
condição de herói nacional por parte da população.
Muitos candidatos
buscaram a associação com Sérgio Moro durante a eleição de 2018 para
conseguirem votos. Álvaro Dias, candidato à Presidência da República, foi
aquele que mais entoou o nome do antigo juiz, repetindo à exaustão que Moro
seria seu ministro da Justiça. Álvaro Dias perdeu, mas Sérgio Moro foi alçado à
condição de super ministro pelo atual presidente Jair Bolsonaro.
A popularidade de
Sérgio Moro é maior do que a do próprio presidente e, por tal razão, o antigo
juiz é o principal pilar de sustentação do governo por representar fisicamente
todo o discurso ético e moral entoado por Jair Bolsonaro durante a campanha.
Ter Sérgio Moro como ministro da Justiça é o sonho adolescente de parte dos
brasileiros que enxergavam e enxergam a dobradinha Bolsonaro e Moro como a
dupla que irá extinguir a corrupção no Brasil.
Entretanto, poucos dias
após a nomeção, houve o caso envolvendo Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil,
que admitiu ter recebido caixa dois. Ao ser indagado por jornalistas, Moro
disse que seu colega ministro admitiu seu erro e pediu desculpas para mais
tarde, em outra entrevista, complementar a fala dizendo que Onyx já fez mais do
que muitos condenados ao admitir seus erros. Uma fala infeliz que teve sua
infelicidade sustentada em um segundo momento, mostrando certa conivência com
seu colega.
Para piorar a situação de
Sérgio Moro, Flávio Bolsonaro está envolvido em um problema de corrupção em seu
gabinete na ALERJ, incluindo o próprio presidente da república. O escândalo
veio à tona pelo COAF, órgão comandado por Moro, e a desgastante demora para
uma resolução impacta o ministro da Justiça que começa a ser cobrado publicamente,
deixando sua condição de mito para ser um mortal.
O caso do COAF
desdobrou para outras acusações mais sérias como a ligação e suspeita de
envolvimento da família Bolsonaro com as milícias cariocas. A população espera
ansiosa e apreensiva pela resolução do caso enquanto o Palácio do Planalto
busca preservar o gabinete do presidente e a sua governabilidade. Sérgio Moro
se vê envolvido nesse assunto porque a segurança pública nacional é sua
responsabilidade e o combate às milícias precisa ser feito por ele.
Se a situação já não
era turbulenta o suficiente para o primeiro mês como ministro, Sérgio Moro
sofreu mais dois duros golpes. O primeiro deles veio do Banco Central e a
proposta de retirar familiares de políticos do monitoramento compulsório, regra
estabelecida durante o governo Lula em 2009 para combater e monitorar suspeitas
de lavagem de dinheiro. O segundo golpe veio do gabinete presidencial com o
decreto que reduz a transparência nacional, dificultando o acesso à informação
e o trabalho da imprensa investigativa.
Se Sérgio Moro aceitou
ser ministro da Justiça para, segundo suas próprias palavras em entrevista ao
Globo News, ser uma barreira contra o retrocesso no combate à corrupção, ele
tem se mostrado uma grade cheia de furos. De todos os atuais ministros, nenhum
teve tantos reveses provocados pelo próprio governo como Sérgio Moro.
Por ser o principal homem
do governo e seu ativo político mais importante, Jair Bolsonaro deveria
preservar mais a imagem de Sérgio Moro. As ações presidenciais deveriam ser
feitas para blindar e evitar que a reputação do ministro da Justiça acabe
ruindo, pois, se Sérgio Moro mostrar incapacidade de combater a corrupção, toda
a população terá descrédito com o governo e achará que o discurso ético e moral
entoado durante a eleição foi apenas conversa de político.
No atual momento de
turbulência política onde há suspeitas de corrupção e envolvimento com
milícias, o único ponto de apoio que Jair Bolsonaro poderá se agarrar para
evitar um descontentamento geral da população é justamente Sérgio Moro. A
honestidade do governo e do próprio Jair Bolsonaro está atrelada à imagem do
ministro da Justiça. Entretanto, se Jair Bolsonaro continuar depredando sua
principal viga de sustentação, ela poderá estar fragilizada demais para
escorá-lo.