quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Sérgio Moro precisa de carinho, Bolsonaro


Jair Bolsonaro precisa começar a tratar seu ministro da Justiça, principal integrante do governo, com mais carinho. Sérgio Moro é de longe a pessoa mais importante e popular dentro do governo Bolsonaro. A atuação destacável e proeminente nos julgamentos dos políticos e demais envolvidos na Operação Lava-Jato deu a Sérgio Moro a condição de herói nacional por parte da população.

Muitos candidatos buscaram a associação com Sérgio Moro durante a eleição de 2018 para conseguirem votos. Álvaro Dias, candidato à Presidência da República, foi aquele que mais entoou o nome do antigo juiz, repetindo à exaustão que Moro seria seu ministro da Justiça. Álvaro Dias perdeu, mas Sérgio Moro foi alçado à condição de super ministro pelo atual presidente Jair Bolsonaro.

A popularidade de Sérgio Moro é maior do que a do próprio presidente e, por tal razão, o antigo juiz é o principal pilar de sustentação do governo por representar fisicamente todo o discurso ético e moral entoado por Jair Bolsonaro durante a campanha. Ter Sérgio Moro como ministro da Justiça é o sonho adolescente de parte dos brasileiros que enxergavam e enxergam a dobradinha Bolsonaro e Moro como a dupla que irá extinguir a corrupção no Brasil.

Entretanto, poucos dias após a nomeção, houve o caso envolvendo Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, que admitiu ter recebido caixa dois. Ao ser indagado por jornalistas, Moro disse que seu colega ministro admitiu seu erro e pediu desculpas para mais tarde, em outra entrevista, complementar a fala dizendo que Onyx já fez mais do que muitos condenados ao admitir seus erros. Uma fala infeliz que teve sua infelicidade sustentada em um segundo momento, mostrando certa conivência com seu colega.

Para piorar a situação de Sérgio Moro, Flávio Bolsonaro está envolvido em um problema de corrupção em seu gabinete na ALERJ, incluindo o próprio presidente da república. O escândalo veio à tona pelo COAF, órgão comandado por Moro, e a desgastante demora para uma resolução impacta o ministro da Justiça que começa a ser cobrado publicamente, deixando sua condição de mito para ser um mortal.

O caso do COAF desdobrou para outras acusações mais sérias como a ligação e suspeita de envolvimento da família Bolsonaro com as milícias cariocas. A população espera ansiosa e apreensiva pela resolução do caso enquanto o Palácio do Planalto busca preservar o gabinete do presidente e a sua governabilidade. Sérgio Moro se vê envolvido nesse assunto porque a segurança pública nacional é sua responsabilidade e o combate às milícias precisa ser feito por ele.

Se a situação já não era turbulenta o suficiente para o primeiro mês como ministro, Sérgio Moro sofreu mais dois duros golpes. O primeiro deles veio do Banco Central e a proposta de retirar familiares de políticos do monitoramento compulsório, regra estabelecida durante o governo Lula em 2009 para combater e monitorar suspeitas de lavagem de dinheiro. O segundo golpe veio do gabinete presidencial com o decreto que reduz a transparência nacional, dificultando o acesso à informação e o trabalho da imprensa investigativa.

Se Sérgio Moro aceitou ser ministro da Justiça para, segundo suas próprias palavras em entrevista ao Globo News, ser uma barreira contra o retrocesso no combate à corrupção, ele tem se mostrado uma grade cheia de furos. De todos os atuais ministros, nenhum teve tantos reveses provocados pelo próprio governo como Sérgio Moro.

Por ser o principal homem do governo e seu ativo político mais importante, Jair Bolsonaro deveria preservar mais a imagem de Sérgio Moro. As ações presidenciais deveriam ser feitas para blindar e evitar que a reputação do ministro da Justiça acabe ruindo, pois, se Sérgio Moro mostrar incapacidade de combater a corrupção, toda a população terá descrédito com o governo e achará que o discurso ético e moral entoado durante a eleição foi apenas conversa de político.

No atual momento de turbulência política onde há suspeitas de corrupção e envolvimento com milícias, o único ponto de apoio que Jair Bolsonaro poderá se agarrar para evitar um descontentamento geral da população é justamente Sérgio Moro. A honestidade do governo e do próprio Jair Bolsonaro está atrelada à imagem do ministro da Justiça. Entretanto, se Jair Bolsonaro continuar depredando sua principal viga de sustentação, ela poderá estar fragilizada demais para escorá-lo.

sábado, 5 de janeiro de 2019

Orquestra do Teatro Brasil


Na minha ignorância, sempre questionei os meus amigos musicista sobre o papel do maestro em uma orquestra. Se os músicos estavam ensaiados e se havia a partitura para ser seguida, o papel do maestro seria de mera figuração. Toda a minha percepção sobre os maestros mudou completamente após ver as regências do maestro alemão Knut Andreas e do maestro brasileiro Parcival Módolo.

Ao ver Andreas e Parcival regendo, compreendi que o papel do maestro vai para além da simples coordenação dos artistas e seus instrumentos: ambos eram a conexão entre plateia e espetáculo. Ao ver Andreas e Parcival regendo, era possível compreender as emoções da música como se eu estivesse vendo o som além de escutá-lo. Ambos regiam simultaneamente músicos e público, fazendo-me crer que o maestro também é o regente da plateia.

Eu desconhecia todo o processo musical que havia sido realizado durante os ensaios exaustivos da orquestra. Entretanto, quando era chegado o momento do espetáculo, Andreas e Parcival apenas apresentavam para o público o melhor de toda a orquestração planejada minuciosamente, pois se houvesse algo errado, a plateia sentiria.

Presidir um país é como reger uma orquestra. O presidente faz o papel do maestro e ensaia nos bastidores seus ministros que irão tocar cada um dos instrumentos ministeriais. Caso haja algum descompasso no ensaio, o público irá perceber durante o espetáculo.

Recentemente, o público notou uma desafinação entre o maestro Jair Bolsonaro e seus músicos mais importantes. Ao puxar uma nota de IOF maior em resposta ao caixa menor dos incentivos fiscais ao Norte e Nordeste, Jair Bolsonaro improvisou durante a apresentação do espetáculo e pegou seu spalla Paulo Guedes de surpresa. Como o spalla é o responsável pela afinação da orquestra, todos os outros músicos acabaram tocando desafinados em sintonia com o maestro.

Marcos Cintra, responsável pelos metais na Secretaria da Receita, optou por seguir seu spalla, contrariando as ordens do maestro, e se negou a tocar a nota do IOF maior. Onyx Lorenzoni, talvez o segundo violinista mais importante da orquestra, disse para o público incrédulo que o maestro havia “se equivocado”.

Outro momento de desorquestração ocorreu quando Jair Bolsonaro puxou algumas notas de Imposto de Renda menor em uma afinação diferente.  O maestro acreditou que o spalla Paulo Guedes iria acompanhá-lo nas notas logo no início do espetáculo. Entretanto, Marcos Cintra nos metais novamente optou por seguir a afinação inicialmente ensaiada por seu spalla. Segundo Marcos Cintra, a notas de Imposto de Renda menor deveriam ser tocadas mais para o meio do espetáculo em um possível segundo ato onde seria interpretada a música da reforma tributária.

Percebendo o descompasso entre maestro e músicos, a plateia começou a questionar se aquele era mesmo o espetáculo que ela havia comprado os ingressos para prestigiar. Esperando ver um espetáculo de Salieri, o público começou a ouvir um ritmo musical bem impopular. Músicas com notas de IOF maior ou outros grupos musicais de impostos em tons maiores não estavam previstos no roteiro do espetáculo inicialmente programado e vendido ao público geral.

Com tantas notas e tons diferentes sendo tocados simultaneamente, o público ficou perdido por não saber quem de fato iria comandar os ritmos do ato da economia. O descompasso nítido entre maestro e spalla deixou o público inseguro sobre os rumos do espetáculo.

Do lado de fora, atentos às reações do público estavam os patrocinadores vindos do mercado. Sem as devidas garantias que a orquestra irá tocar afinada e conforme previsto nos ensaios da eleição, os patrocinadores poderão se sentir inseguros em investir em uma orquestra desorganizada. Sem os investimentos dos patrocinadores, o teatro que abriga a orquestra poderá ficar sem a expansão necessária para a colocação de mais assentos para os doze milhões de expectadores desempregados.

É possível que a orquestra esteja fora de sintonia por conta do nervosismo inicial já que é a primeira vez que maestro e músicos estão se apresentando em um local tão majestoso e imponente como o Teatro Brasil. O Teatro Brasil é uma casa grandiosa e belíssima com alguns problemas estruturais que intimidam os mais despreparados e inexperientes.

Mesmo após o término da apresentação do espetáculo Governo Bolsonaro, o Teatro Brasil permanecerá existindo para a próxima orquestra apresentar o seu próprio show. Como gesto de cidadania e bons costumes, devemos nos lembrar de, ao sair, deixarmos o ambiente do mesmo modo que o encontramos ou, se possível, melhor.