sábado, 23 de fevereiro de 2019

Ciro Gomes começa a sua oposição


Quando a eleição para presidente da república de 2018 terminou, uma nova começou, mas sem os votos diretos da população. Se a eleição evidenciou alguma coisa, ela mostrou que a hegemonia do Partido dos Trabalhadores havia esgotado perante a população e novas lideranças da esquerda precisariam surgir.

Durante os anos, a esquerda brasileira começou a perder o rumo da sua identidade e diálogo com a população. A pauta do trabalho, sempre presente e primária nos discursos, foi deixada em segundo plano para que a pauta identitária assumisse o lugar de destaque. O resultado foi um distanciamento da classe média e dos mais pobres que não conseguiam mais se verem representados pelos antigos bastiões da esquerda.

O ex-Presidente Lula, aprovado por 87% da população ao término de seu mandado em 2010, mostrou força, mesmo estando preso, por conseguir fazer um candidato desconhecido da população chegar ao segundo turno com 45% dos votos válidos. Entretanto, a força de Lula foi insuficiente para repetir o feito de 2010 e Haddad perdeu.

A derrota de Haddad mostrou que o projeto hegemônico do PT já não era como antes e brechas poderiam surgir e surgiram na figura de Ciro Gomes. Ciro Gomes percebeu que uma parte da esquerda já não se identifica mais com o PT e está carente de um novo líder para seguir. Os trabalhadores precisam de alguém que volte a representá-los e que os toque novamente nas questões fundamentais.

Se Ciro Gomes tivesse percebido tal cenário dois anos antes, o resultado de 2018 poderia ter sido diferente. Entretanto, o pedetista percebeu que para 2022 ainda faltam quatro anos, tempo mais que suficiente para descolar a sua imagem do PT e estar presente no imaginário dos trabalhadores.
Ainda é cedo para dizer se Ciro Gomes será aquele que irá comandar a oposição. Porém, é possível afirmar que ele está no caminho certo e seu trabalho de formiguinha poderá dar resultados quando o inverno chegar.

Enquanto o PT coloca como principal razão de sua existência no momento a soltura de Lula, Ciro Gomes se lança em uma oposição de verdade e inteligente contra o governo Bolsonaro. Se as pessoas acharem que o PT virou as costas para elas porque Lula é mais importante que o povo, elas não poderão dizer o mesmo sobre Ciro Gomes.

Ciro e o PDT dão indícios que iniciaram um governo paralelo ao de Bolsonaro. Na última semana, nas vésperas da divulgação da proposta da reforma da previdência, o PDT realizou um debate em sua sede em Brasília para apresentar a proposta de reforma da previdência elaborada por Ciro Gomes e sua equipe. O grupo criticou a proposta elaborada por Jair Bolsonaro, porém as críticas não foram vazias porque houve contrapontos e sugestões de melhorias.

A proposta de Ciro Gomes é importante porque muitas pessoas criticaram o texto elaborado por Paulo Guedes, mas não possuíam alternativas para colocarem na mesa quando estavam discutindo e conversando com seus familiares e amigos. Se Ciro Gomes continuar apresentando a sua proposta da previdência, as pessoas começarão a interiorizá-la e naturalmente irão apresentá-la em suas conversas como uma alternativa ao modelo elaborado pelo governo.

Se Ciro Gomes continuar fazendo isso com todas as propostas de Bolsonaro, ele será visto pela população como uma alternativa ao governo e suas propostas serão naturalmente debatidas, fazendo-se presente na vida e imaginário das pessoas. Bolsonaro será obrigado a comentar as propostas do pedetista, colocando-o ainda mais em evidência. É a forma que Ciro tem para vencer Lula e o PT pelo controle da oposição.

O caminho para 2022 é longo e muitas variáveis estarão presentes que impossibilita dizer de forma assertivo que Ciro Gomes será o candidato mais forte da esquerda na próxima eleição presidencial. Entretanto, mesmo sendo impossível prever o resultado do controle da oposição, é possível afirmar que Ciro Gomes está no caminho certo.



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

A maldade com Jair Bolsonaro


É maldade o que Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Onyx Lorenzoni e Gustavo Bebianno estão fazendo com Jair Bolsonaro. Internado desde o dia 27 de janeiro para a retirada da bolsa de colostomia colocada por conta da facada recebida em setembro, o estado de saúde do presidente desperta preocupação. A princípio, Bolsonaro deveria ficar apenas dois dias internado após a cirurgia, porém, o estado de saúde complicou e ele entrará na terceira semana de internação.

Nos últimos dias, Jair Bolsonaro foi diagnosticado com pneumonia, um quadro incomum segundo especialistas consultados pela reportagem do jornal O Globo. Por conta da pneumonia, o presidente precisará prolongar a sua internação e manter o repouso, deixando o país praticamente sem governo.

Naturalmente, aquele que deveria assumir a presidência na impossibilidade do presidente ocupar o seu cargo é o vice, o general Hamilton Mourão. Entretanto, apesar de ser o caminho natural, Mourão não assumiu o cargo e Bolsonaro continua despachando e governando, pelo menos aparentemente, o país de um leito hospitalar. Contrariando recomendações médicas de não usar o celular, Bolsonaro se vê praticamente obrigado a colocar sua saúde em risco por conta de caprichos de seus filhos e de Bebianno e Lorenzoni.

Aparentemente, o grupo que força Bolsonaro a trabalhar e brinca com a saúde do presidente e com a governabilidade do país o faz por simples ciúmes e temor da crescente popularidade do general Mourão.

O general Mourão caiu nas graças da imprensa e do povo com seu jeito carioca. O vice possui fala moderada, mostrou simpatia com Lula, acenou para aqueles que defendem o aborto, trata a imprensa com respeito e mostra maior preparo do que o próprio presidente, uma antítese ao discurso Jair Bolsonaro. Recentemente, Mourão recebeu representantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores) para uma audiência sobre a reforma da previdência, algo que Bolsonaro possivelmente jamais iria fazer por ter resistência do presidente. Mourão apenas fez aquilo que um presidente deve fazer: dialogar com todos, pois é o governante de todos.

Com todos os predicados, destoantes de Jair Bolsonaro, e com o vácuo deixado pela ausência do presidente, Mourão ocupou o seu espaço. Um possível racha no governo é especulado, principalmente pelas atitudes dos filhos de Bolsonaro.

Recentemente, Steve Bannon criticou Mourão dizendo que o vice é inútil e desagradável. Entretanto, a fala de Bannon expõe que há de fato um incômodo com Mourão. Como Steve Bannon saberia de todos os acontecimentos do governo sem saber falar português ou pronunciar apropriadamente o nome do general? É possível acreditar que Eduardo Bolsonaro, escolhido por Bannon para liderar “O Movimento” no Brasil, esteja passando seus descontentamentos com Mourão para o americano.

Enquanto isso, o general, por sua vez, respondeu as críticas dizendo em tom bem humorado “eu sou um cara legal, pô”. Em seguida, disse não iria entrar em atrito com Bannon e desejou um feliz 2019 para Olavo de Carvalho que também elevou o tom contra o general recentemente.

As especulações de racha dentro do governam poderiam ser encerradas se Mourão assumisse provisoriamente o governo enquanto Bolsonaro está internado. Entretanto, mesmo com o estado de saúde preocupante do presidente, o vice não assume. A ausência de qualquer justificativa para o impedimento de Mourão assumir o cargo que naturalmente deveria ocupar só levantam mais especulação e certezas.

Obrigar uma pessoa a trabalhar nas condições que Bolsonaro está só para evitar o aumento de popularidade e consolidação do natural sucessor como alguém mais preparado é cruel. Se há tanto ciúmes pela forma como Mourão age e pensa, basta Bolsonaro e seus filhos pensarem e agirem igual ao general. Se Flávio Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Onyx Lorenzoni e Gustavo Bebianno continuarem tratando Bolsonaro da forma como estão fazendo, o general Mourão irá assumir a presidência da república eles querendo ou não, pois não será mais uma questão de escolha, mas sim uma questão natural da vida.