Quando
a eleição para presidente da república de 2018 terminou, uma nova começou, mas
sem os votos diretos da população. Se a eleição evidenciou alguma coisa, ela
mostrou que a hegemonia do Partido dos Trabalhadores havia esgotado perante a
população e novas lideranças da esquerda precisariam surgir.
Durante
os anos, a esquerda brasileira começou a perder o rumo da sua identidade e
diálogo com a população. A pauta do trabalho, sempre presente e primária nos
discursos, foi deixada em segundo plano para que a pauta identitária assumisse
o lugar de destaque. O resultado foi um distanciamento da classe média e dos
mais pobres que não conseguiam mais se verem representados pelos antigos
bastiões da esquerda.
O
ex-Presidente Lula, aprovado por 87% da população ao término de seu mandado em
2010, mostrou força, mesmo estando preso, por conseguir fazer um candidato
desconhecido da população chegar ao segundo turno com 45% dos votos válidos.
Entretanto, a força de Lula foi insuficiente para repetir o feito de 2010 e Haddad
perdeu.
A
derrota de Haddad mostrou que o projeto hegemônico do PT já não era como antes
e brechas poderiam surgir e surgiram na figura de Ciro Gomes. Ciro Gomes
percebeu que uma parte da esquerda já não se identifica mais com o PT e está
carente de um novo líder para seguir. Os trabalhadores precisam de alguém que
volte a representá-los e que os toque novamente nas questões fundamentais.
Se
Ciro Gomes tivesse percebido tal cenário dois anos antes, o resultado de 2018
poderia ter sido diferente. Entretanto, o pedetista percebeu que para 2022
ainda faltam quatro anos, tempo mais que suficiente para descolar a sua imagem
do PT e estar presente no imaginário dos trabalhadores.
Ainda
é cedo para dizer se Ciro Gomes será aquele que irá comandar a oposição. Porém,
é possível afirmar que ele está no caminho certo e seu trabalho de formiguinha
poderá dar resultados quando o inverno chegar.
Enquanto
o PT coloca como principal razão de sua existência no momento a soltura de
Lula, Ciro Gomes se lança em uma oposição de verdade e inteligente contra o
governo Bolsonaro. Se as pessoas acharem que o PT virou as costas para elas
porque Lula é mais importante que o povo, elas não poderão dizer o mesmo sobre
Ciro Gomes.
Ciro
e o PDT dão indícios que iniciaram um governo paralelo ao de Bolsonaro. Na
última semana, nas vésperas da divulgação da proposta da reforma da
previdência, o PDT realizou um debate em sua sede em Brasília para apresentar a
proposta de reforma da previdência elaborada por Ciro Gomes e sua equipe. O grupo
criticou a proposta elaborada por Jair Bolsonaro, porém as críticas não foram
vazias porque houve contrapontos e sugestões de melhorias.
A
proposta de Ciro Gomes é importante porque muitas pessoas criticaram o texto
elaborado por Paulo Guedes, mas não possuíam alternativas para colocarem na
mesa quando estavam discutindo e conversando com seus familiares e amigos. Se
Ciro Gomes continuar apresentando a sua proposta da previdência, as pessoas
começarão a interiorizá-la e naturalmente irão apresentá-la em suas conversas
como uma alternativa ao modelo elaborado pelo governo.
Se
Ciro Gomes continuar fazendo isso com todas as propostas de Bolsonaro, ele será
visto pela população como uma alternativa ao governo e suas propostas serão
naturalmente debatidas, fazendo-se presente na vida e imaginário das pessoas.
Bolsonaro será obrigado a comentar as propostas do pedetista, colocando-o ainda
mais em evidência. É a forma que Ciro tem para vencer Lula e o PT pelo controle
da oposição.
O
caminho para 2022 é longo e muitas variáveis estarão presentes que
impossibilita dizer de forma assertivo que Ciro Gomes será o candidato mais
forte da esquerda na próxima eleição presidencial. Entretanto, mesmo sendo
impossível prever o resultado do controle da oposição, é possível afirmar que
Ciro Gomes está no caminho certo.