quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O que é "El gran masturbador"?


Uma das conotações que mais me fascina é sem dúvidas a arrogância. Infelizmente, nos dias de hoje, temos uma sociedade hipócrita, nojenta e invejosa que reprime de forma voraz e impiedosa qualquer tipo de manifestação considerada arrogante. Somos obrigados a viver no cárcere da falsa modéstia só para agradar aqueles que não são bons como nós nas atividades que somos ótimos.

É incômodo para mim, uma pessoa não poder admitir-se boa em algo, pois se tal pessoa bradar aos quatro cantos "eu sou boa nisso", os demais, carregados com inveja e falso moralismo, irão condená-la pelos crimes de altivez, presunção, vaidade e diversas outras expressões relacionadas. Ouso-me dizer que na sociedade atual é mais difícil para uma pessoa se assumir arrogante do que homossexual, pois o homossexual será recriminado por parte da sociedade, porém, aceito pelos seus iguais. O arrogante, por sua vez, será recriminado por toda a sociedade. Portanto, parodiando Euclides da Cunha, o arrogante antes de tudo é um bravo.

E de todos os bravos, talvez o mais bravo seja Salvador Dalí, bravo em todos os aspectos. Pintor surrealista espanhol, nascido em 1904. Com oitos anos de idade, ganhava de seu pai, como forma de educá-lo para os perigos da vida promíscua, um livro ilustrado de doenças venéreas, algo que o marcou e contagiou em suas bravas obras futuras. Porém, dentre tantos fatos pitorescos presentes na vida do bravo Dalí, o que mais me encanta é a sua expulsão da Academia de Arte de San Fernando, onde declarou que ninguém na Academia era suficientemente competente para avaliá-lo. Isso em 1926, com apenas 22 anos de idade.

De suas bravuras, a minha preferida é o quadro conhecido como "El gran masturbador" (O grande masturbador) que ilustra o título do post. O quadro está exposto no Museu de arte Reina Sofia, em Madrid. A obra foi criada à partir da necessidade de Dalí traduzir seus violentos desejos de criação de objetos carregados de sexualidade. Entretanto, o próprio pintor dizia que nem mesmo ele entendia o que pintava, pois sempre gostou de confundir e provocar. Portanto, suas obras podem diversas explicações.

Dalí possuía uma personalidade exibicionista e narcisista e, ao pintar tal obra, expunha ao público sua vida particular, bem como suas patologias, exibindo um autorretrato onde se apresenta como "o grande masturbador", assim como o conflituoso relacionamento com a figura feminina, em questão sua musa Gala Éluard, uma mulher casada com quem posteriormente acabou-se casando.

Há na obra um enorme rosto petrificado do masturbador escorado ao solo apenas pelo enorme nariz pontudo. Os olhos semicerrados indicam a lembrança de um sonho. A face não possui boca. Em seu lugar está um gafanhoto, inseto associado por Dalí à putrefação e ao medo. De sua cabeça, ergue-se a figura de uma mulher, possivelmente Gala Éluard, com a boca perto da genitália masculina, presumindo-se o início de felação. A mulher traz consigo um lírio, com estirpe em formato fálico, símbolo de pureza que Dalí usou para representar a forma mais pura de atingir o ápice do gozo sexual.

A presença da cabeça de um leão com cabelos de Medusa, representando o desejo sexual mais selvagem, do gafanhoto e das formigas são elementos que amedrontavam o pintar. Assim como conchas e plumas coloridas remetem à infância do pintor. Abaixo da cabeça há um homem abraçado a uma rocha semelhante a uma mulher. Talvez, tal imagem petrificada represente a impossibilidade de uma mulher levá-lo ao orgasmo, pois o próprio não conseguia atingir o clímax sexual com outra pessoa, fazendo-se valer da masturbação.

O trabalho do bravo Salvador Dalí não se resume em apenas uma obra. Existem várias, porém, mais do que suas obras, Dalí se notabilizou por suas extravagâncias e excentricidades chegando ao patamar de mito. Tudo por causa, principalmente, de sua fascinante arrogância.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Quanto vale sua autonomia?

Uma das coisas que mais admiro em Deus é a não concessão de tudo o que pedimos. Todos os dias agradeço a Ele o fato de Deus ser deus e não o Gênio do filme Aladdin. Se Deus fosse o Gênio, ele teria me concedido todas as minhas vontades e desejos, independente de quais elas fossem ou do momento que eu pedisse. A princípio isso seria maravilhoso, pois eu teria uma necessidade solucionada instantaneamente, porém a dúvida que existe é se eu realmente queria ter a necessidade realizada ou se o que realmente me agradava era apenas a ideia. Vou explicar:

Quando eu tinha 12 anos, o que eu mais queria na vida era um casal de calopsitas. Quando eu ganhei, percebi que treiná-las não seria tarefa fácil. Levei diversas bicadas e no final, acabei por desistir do adestramento por falta de paciência. Além de ter duas calopsitas que não sabiam nenhum truque especial, além de imitarem meu assovio, tive que por muitos anos limpar gaiolas e comprar comida, atividades que eu considerava abusivamente chatas e entediantes. No fim das contas, percebi que realmente me agradava a ideia de ter o casal de calopsitas, mas não as calopsitas em si.

O que ocorre conosco é que não sabemos realmente o que queremos. Muitas vezes desejamos algo porque achamos ser válido e que nos trará algum proveito, porém, no futuro esse desejo acaba se transformando em algo oneroso e terrivelmente indesejável.

Nas organizações tal fenômeno também ocorre. Funcionários bradam e lutam por mais autonomia, por mais empowerment para usar a palavra empresarial, pois acham que isso aumentará sua participação na organização, que os tornarão mais valorizados e, principalmente, mais motivados. Até tal ponto, a história não tem problemas. E não teria nenhum se os funcionários realmente soubessem o que é o tão desejado empowerment.

Empowerment nada mais é do que autonomia. Autonomia significa filosoficamente a liberdade de um indivíduo de gerir sua vida, ou seja, ter independência para tomar suas próprias decisões. Entretanto, independência e responsabilidade caminham juntas e é impossível desvincular uma da outra. Ou seja, ao ter mais empowerment o funcionário invariavelmente adquire mais responsabilidades. Mais responsabilidades significam mais trabalho, mais trabalho significa mais cobrança e mais cobrança não significa necessariamente mais salário.

As organizações buscam constantemente formas de fazer o funcionário trabalhar mais sem ter de despender uma remuneração extra por esse labor. O empowerment nada mais é do que uma ferramenta para aumentar o trabalho do funcionário sem remunerá-lo por isso. O conceito do empowerment pauta-se na teoria de divisão do trabalho, não como fragmentação do trabalho em partes menores, mas pelo conceito exposto aqui no blog anteriormente. Com tal ferramenta, gerentes começaram a dividir suas responsabilidade e certas atribuições com seus subordinados, e com essa divisão, conseguiram também dividir a culpa por possíveis fracassos.

É uma forma de mais valia, como diria Karl Marx, muito mais refinada e sofisticada, beirando a crueldade, porque na verdade, com o empowerment, os funcionários estão trabalhando mais, sem serem remunerados por isso e não sabem dessa condição, muito pelo contrário, estão felizes e desejam cada vez mais autonomia. Ansiando por isso como um viciando desejando mais crack.

Esse é o preço da sua autonomia? Mais trabalho, mais responsabilidade e mais cobrança pela mesma quantidade de salário? É essa a condição que você tanto deseja? Por isso, novamente agradeço a Deus por ser deus e não o Gênio, pois ele é sábio e nós ignorantes. Ignorantes por não sabermos o que realmente queremos. Se todas nossas vontades fossem realizadas, maiores seriam as vontades para serem desfeitas.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O que faz um administrador?

Se a pergunta que dá nome ao título do post fosse realizada para qualquer estudante de Administração ou pessoa com qualquer tipo de envolvimento em gestão, ela responderia com a resposta padrão: o administrador planeja, controla, organiza e dirige recursos escassos para atingir um objeto pré-estabelecido.

Infelizmente, essa resposta está errada. Se você respondeu a pergunta do tópico com a mesma resposta, você também está errado. A história do "planejar, organizar, dirigir e controlar" é a maior imbecilidade, boçalidade e ignorância que já foi criada para definir a Administração. Tal termo contribui e vem contribuindo para a depreciação da categoria dos administradores. Categoria essa que corrobora para sua própria destruição ao limitar sua ocupação com uma explicação tão parva quanto essa.

É por conta de tal termo que advogados, jornalistas, psicólogos, físicos, químicos, pedagogos, contadores, economistas e principalmente engenheiros julgam-se capazes de realizar o trabalho de um administrador só porque possuem um "Meia Boca em Administração", o famigerado MBA.

Provavelmente, se você estuda ou já estudou Administração, deve estar nesse exato momento questionando minhas palavras, pois foi exatamente isso que a universidade o ensinou sobre o que faz um administrador. Tal questionamento pode fazer-lhe pensar se a universidade ensinou-lhe errado. A resposta é simples e trivial quanto a morte: sim, a universidade está errada.

O questionamento natural que surge agora é: se o "planejar, organizar, dirigir e controlar" está errado, o que faz o administrador? O administrador gerencia comportamentos. Em uma resposta menos romântica e mais explícita, o administrador manipula interesses. 

Tal habilidade requintada e sutil é impossível de ser copiada e executada com maestria por advogados, jornalistas, psicólogos, físicos, químicos, pedagogos, contadores, economistas e principalmente engenheiros, pois tais profissionais não possuem a bagagem conceitual que o administrador possui.

A Administração nada mais é do que a aplicação da filosofia e da sociologia na esfera do mundo dos negócios. Infelizmente, poucos têm tal tipo de percepção sobre a Administração. Se mais administradores tivessem tal concepção pela profissão, ela seria muito mais valorizada e prestigiada.

Veja, caro leitor, que desde os primórdios, a Administração buscar tornar os funcionários e subordinados mais suscetíveis à manipulação, pois dessa forma a produtividade, ou melhor, o trabalho realizado por ele seria muito maior.

Um dos marcos históricos para tornar o subordinado mais manipulável foi o fim da escravidão. Adam Smith já ressaltava que o pior trabalhador assalariado era mais produtivo que o escravo mais forte. Essa conclusão é muito simples: escravo não ganha salário, por isso não há como "motivá-lo" a trabalhar mais. Em contra partida, o assalariado possui uma forma de manipulação laboral extra com as chamadas bonificações.

Com o passar dos anos, as formas de manipulação tornaram-se cada vez mais sofisticadas. A bonificação começou a dividir espaço com possibilidades não garantidas de promoções à cargos mais altos à partir do rendimento do próprio funcionário e exigência das organizações por funcionários mais tolerantes às frustrações, mais resilientes e com maior ambição também cresceram.

Um funcionário com tais características é mais facilmente manipulado. Uma possibilidade ventilada de promoção ou bonificação despertará no funcionário um desejo de obter tal prêmio. Porém, como não há nenhuma garantia de obtenção, existe uma grande chance de frustração, por isso a exigência por funcionários mais resilientes, para não se abaterem com possíveis frustrações e até mesmo, utilizar tal adversidade para serem mais produtivos à partir do pensamento "agora eu vou trabalhar mais ainda para dessa vez conseguir a promoção".

Com um funcionário sem ambição de crescimento, é impossível barganhar mais trabalho com cargos ou bonificações.

Saber como manipular interesses é algo tão sublime que não se limita apenas em extrair mais trabalho do funcionário. À partir dessa concepção, o administrador é capaz de solucionar conflitos, gerenciar grupos, aumentar vendas e transformar clientes em "funcionários".

Depois de chegar até com sua leitura, gostaria de perguntar-lhe novamente: o que faz um administrador? Espero que agora a resposta possa ser bem mais coerente e enaltecedora.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Como separar "homens" de "meninos"?


Não é a idade que define quem são "homens" e quem ainda são os "meninos". Muitos homens de mais de 40 anos são muito mais "meninos" que jovens de 20. O que vai definir a separação dos "adultos" das "crianças" é a maturidade. Ela é o cordão de isolamento apenas transposto com ideias, atitudes e forma de comportamento perante situações vivenciadas no cotidiano.

Uma forma simples de separação de "homens" de "meninos" é pela identificação das disputas pessoais de cada um: meninos disputam por dinheiro, homens disputam por poder. Portanto, caso você escute alguém se vangloriando pelo seu ganho pecuniário mensal ou afirmando que o mais importante na vida é o dinheiro, pode ter certeza que se trata de um "menino".

Obviamente, o dinheiro é um meio de obtenção de poder, porém, somente o dinheiro isoladamente não configura poder. Qual o poder de um diretor com salário de R$ 15.000,00 que trabalha das 8:00 às 21:00, chega cansado em casa, não convive com os filhos, sofre de ataques de ansiedade e possui uma vida algemada ao trabalho? A resposta é simples: nenhum. Não adianta ter dinheiro se o indivíduo não consegue transformá-lo em poder.

Poder é ganhar R$ 15.000,00 e poder chegar em casa às 18:00. Poder é poder sair do trabalho e realizar uma atividade física. Poder é poder ir ao shopping tomar um café às 15:00 em uma quarta feira sem preocupações. Poder é poder curtir os filhos após um dia de trabalho. Poder é poder ostentar o seu poder.

A ostentação do poder é um fator importante na identificação de uma pessoa realmente poderosa. A ostentação do poder ocorre de diversas maneiras pode encontrar-se em situações quase imperceptíveis aos olhos dos mais desavisados e podem parecer até mesmo gestos nobres. Porém, por de trás do véu de toda essa nobreza, encontra-se a realidade sórdida: exibição do poder.

Não pensem que Bill Gates quer apenas ajudar o mundo com sua fundação, considerada a maior fundação de caridade do mundo, e com suas doações bilionárias. Ele financia sua fundação e realiza suas doações bilionárias porque ele pode. Tais ações filantrópicas realizadas pelo criador da Microsoft são formas de afirmação e exibição de todo o poderio financeiro que ele possui. Ele as realiza porque ele pode, porque ele tem condições para tal. Você tem essa condição? Óbvio que não.

Contudo, mesmo que as intenções do Bill Gates sejam as mais verdadeiras, elas acabam por ser instrumentos de ostentação de poder.

Outra forma de ostentar poder é com a prole. Desconsiderando as camadas sociais mais baixas, as quais possuem um comportamento atípico, a quantidade de filhos sempre foi vista como uma forma de poder. Nas sociedades rurais, mais filhos significava uma maior força de trabalho no campo.

Com a urbanização da sociedade, as classes sociais mais altas começaram a relacionar o aumento de filhos com o aumento de gastos. Países que possuem um desenvolvimento econômico maior que o Brasil, com uma classe médias mais desenvolvida, apresentam índices de natalidade baixíssimos. Portanto, em situações como essa, ter dois, três, quatro ou mais filhos é uma forma de mostrar poder. É exibir para toda a sociedade seu poder de prover aos quatro filhos escola particular, convênio médico e conforto.

Portanto, caros leitores, a mais simples e benevolente das atitudes pode representar a maior das ostentações de poder. E lembrem-se sempre: meninos lutam por dinheiro, homens lutam por poder.