Após sete meses
completos de governo Bolsonaro, ficou clara a existência de dois presidentes
dividindo as atribuições do Planalto. Além de Bolsonaro, o presidente formal,
há Paulo Guedes, o presidente informal do Brasil.
Recentemente, ao ser
questionado pela piora de praticamente 50% dos indicadores governamentais
avaliados pelo jornal A Folha de São Paulo, o presidente respondeu dizendo “falem
com Paulo Guedes”. Ao jogar a responsabilidade para o ministro e fugir da
pergunta, Bolsonaro revelou espontaneamente uma divisão no poder.
A divisão surgiu pela
incapacidade de Bolsonaro tocar o projeto neoliberal pretendido pelo
capitalismo financeiro. O presidente não apresenta as características
necessárias para o projeto, mostrando-se um sindicalista militar e familiar nos
anos em que esteve no Congresso.
Entretanto, Bolsonaro é
útil ao neoliberalismo contanto que não atrapalhe e permita que Paulo Guedes,
um embaixador do capital financeiro, faça as reformas pretendidas pelo mercado.
Paulo Guedes é,
portanto, o representante do capitalismo financeiro que de fato governa o país
e permite Bolsonaro continuar brincando de presidente com suas pautas
irrelevantes.
É Paulo Guedes quem
toca e decide os rumos e o projeto da economia, cabendo a Bolsonaro apenas a
assinatura. Foi de Paulo Guedes o projeto para a reforma da Previdência.
Bolsonaro nunca mostrou entusiasmo com o projeto, forçando o ministro da
Economia a convencer seu superior da importância da reforma em mais de uma
oportunidade.
Perceba, caro leitor,
que mesmo após o surgimento de um sentimento anti-bolsonarista, contendo
integrantes da esquerda e também da direita, as críticas da direita recaem
sobre Bolsonaro, poupando Paulo Guedes.
A direita é simpática
ao projeto neoliberal e poupa Paulo Guedes das críticas por também ser
favorável à reforma da Previdência, a menos direitos trabalhistas e à reforma
tributária.
É comum ao ouvirmos uma
crítica ao comportamento de Bolsonaro, escutarmos elogios a Paulo Guedes na
mesma frase, passando a impressão que Guedes não faz parte do governo. O que é
possivelmente verdade.
Paulo Guedes está no
governo somente para cumprir com a agenda neoliberal.
As agendas de ambos são
completamente diferentes e Bolsonaro não demonstra preocupação com a pauta
econômica. Apesar de governar para um país inteiro, Bolsonaro faz um governo
para um terço da população que o apóia de modo incondicional desde o primeiro
turno das eleições passadas. Tais eleitores buscam um presidente que queira
melhorar a segurança urbana, combater a corrupção e defender as famílias.
Em mais de uma
oportunidade, o presidente já demonstrou enfado e descaso ao ser questionado
com perguntas voltadas à economia. Durante a campanha, o então candidato
tratava-se de fugir da pauta econômica dizendo para perguntarem a Paulo Guedes,
apelidado de “Posto Ipiranga”.
Quando tentou brincar
no parquinho da economia, Bolsonaro interferiu no preço dos combustíveis
fazendo o mercado acionário despencar e o capital financeiro ligar o alerta.
Intromissões estatais à base da canetada não serão bem vindas. Por enquanto, o
presidente entendeu o recado e parou de palpitar no governo do presidente
informal.
Com menos de seis meses
de governo, Bolsonaro entendeu rapidamente que terá vida longa como presidente
se não interferir no governo Paulo Guedes. Para chegar ao final do mandado com
chances de ser reeleito em 2022, Guedes precisa ter carta branca e pouca
intromissão. Caso o contrário, a mão invisível do mercado será muito visível
para defenestrar Bolsonaro do Planalto.