Jair Bolsonaro é o novo
presidente do Brasil. Com sentimentos aflorados, vamos respirar para tentarmos
analisar com calma e seriedade pontos importantes para além da
superficialidade.
Os que se preocupam com
as questões sociais podem ficar tranquilos porque nada irá mudar. O interesse
do presidente eleito com tais pautas é puramente a margem para negociação com a
esquerda. Com a redução dos ministérios prometida por Jair Bolsonaro, a
quantidade de cargos disponíveis para compor aliados será menor e o afrouxamento
de tais pautas sociais será necessário para a que haja aprovação das pautas
econômicas como privatização, reforma da previdência, reforma trabalhista e reforma
tributária.
O grande problema está
nas mudanças nos direitos trabalhistas. Se Jair Bolsonaro fizer as mudanças
afetando todos os brasileiros, ele afetará também os militares que o apoiaram,
perdendo um apoio importantíssimo do qual ele não é tão bem visto pelo alto
escalão do exército como as pessoas imaginam. Basta lembrar que Jair Bolsonaro
foi expulso do exército por indisciplina e o grande apoio que recebeu vem do
baixo clero. Por outro lado, se Jair Bolsonaro mantiver os direitos dos
militares, ele terá uma indignação muito grande da população que o elegeu,
causando a revolta dos sindicatos que poderão atuar livremente na oposição já
que deixaram a base aliada do governo.
Para piorar a situação,
há a inclinação para uma composição com o DEM, um partido da base aliada do
governo Michel Temer. É muito provável que Jair Bolsonaro tenha vários aliados
que atualmente compõem com o atual governo. Tal situação é uma armadilha para o
presidente eleito porque, se deixar de compor com a atual base do governo, terá
pouca governabilidade, porém, se compor, poderá ser visto como uma continuação
do governo Michel Temer, governo que teve a maior margem de reprovação da
história.
É importante lembrarmos
que muitos eleitores do presidente eleito tiveram seus votos na esperança de uma
mudança do sistema e no antipetismo, muito mais do que um voto fiel à figura de
Jair Bolsonaro. Portanto, existe uma fragilidade no apoio do eleitorado que
poderia ver como uma enorme traição a composição com o governo Michel Temer.
Paralelamente, há
aquela que talvez seja a grande eleição: Lula contra Ciro pelo controle da
oposição. Sem sair da cadeia, sem aparecer publicamente e sem o apoio declarado
do terceiro colocado no primeiro turno, Lula conseguiu que seu candidato
tivesse aproximadamente 45% dos votos válidos. Uma votação muito expressiva
para um candidato desconhecido, mostrando uma relevância de Lula e indignação
com o presidente eleito.
Seu opositor, Ciro
Gomes, sabe que teria suas pretensões políticas destruídas caso declarasse
apoio a Fernando Haddad e por isso declarou voto em favor da democracia. Em
declaração após votar, Ciro Gomes foi além e disse que nunca mais irá fazer
campanha para o PT. Uma clara posição de deslocamento do PT na tentativa de ser
uma opção viável para a esquerda. Jogada inteligentíssima para alguém com
pretensões para 2022.
O embate entre Lula e
Ciro Gomes será muito interessante de ver e analisar as declarações de cada um
dos lados. Fernando Haddad, inteligentemente, irá condicionar sua derrota na
falta de apoio de Ciro na tentativa de arranhar a imagem de seu futuro
concorrente na oposição que será fácil de ser feita porque Jair Bolsonaro criou
armadilhas para si com seu plano de governo, necessário para sua aprovação e
vitória. Existe uma grande massa de pessoas havidas e capazes para realizarem
oposição, mas precisarão de um guia. Portanto, fiquemos atentos aos próximos
passos de Ciro Gomes, do PT e de Lula, tendo sempre em mente a disputa para
2022 e o controle da oposição.
Aos derrotados, desejo
calma e seriedade porque a situação não será tão ruim quanto imaginam. Aos
vencedores, desejo calma e seriedade porque a situação não será tão boa quanto
imaginam.