O
professor de Filosofia da UNICAMP Marcos Nobre concedeu uma entrevista
interessante ao portal UOL. Na entrevista, o professor fez uma análise única de
Bolsonaro que nenhum outro pensador havia feito na grande mídia até o momento.
Um
dos momentos altos da entrevista é a análise sobre a relação de Bolsonaro com
os partidos da direita, em especial o DEM. Na visão do professor Marcos,
Bolsonaro é um presidente de extrema-direita em um governo de direita.
Portanto, possui base e apoio frágeis da população porque a quantidade de
extremistas de direita é baixa.
Sabendo
disso, o presidente precisa trazer para perto aqueles partidos chamados de “direita
democrática”, representados pela figura do DEM. Para conseguir uma coalizão de
partidos da direita, Bolsonaro tem dois caminhos: negociar ou influenciar.
Negociar
com os partidos está fora dos planos do presidente. Na visão de Bolsonaro,
negociar com o Congresso é fazer corrupção, mesmo o presidente sabendo que as
coisas não são bem assim. No início do mandato, Bolsonaro buscou negociar
diretamente com as bancadas, mas não obteve sucesso e os partidos mandaram
vários recados em votações iniciais.
Sem
a possibilidade de negociar, Bolsonaro irá tentar trazer os partidos da direita
pela influência. Para influenciar os partidos, o presidente precisará mostrar
que possui capital político. Para tanto, as eleições municipais de 2020 são
essenciais.
Bolsonaro
precisa das eleições municipais para preparar o terreno para sua reeleição ou
para a eleição do sucessor. Se o presidente conseguir influenciar as eleições
municipais elegendo apadrinhados nos principais colégios eleitorais do país,
seu capital político estará comprovado e os partidos de direita irão vir para
perto do PSL naturalmente na visão presidencial.
Há
também outro fator importante, além de vencer, os apadrinhados de Bolsonaro
precisariam derrotar os candidatos dos partidos da direita democrática. É possível
que um partido grande como o PSDB não se curve inicialmente a uma coalizão com
Bolsonaro para 2020. Portanto, se os candidatos de Bolsonaro vencerem os
candidatos do PSDB, a ascensão do presidente sobre o partido e sobre a direita
será muito grande.
O
objetivo é transformar os partidos da direita democrática em comensais. No
reino animal, muitos peixes menores nadam junto com grandes tubarões para
obterem seu alimento com as sobras deixadas pelo grande predador. Na política,
Bolsonaro quer estabelecer a mesma relação de comensalismo com os partidos da
direita: para a direita continuar sobrevivendo, ela precisará estar junto com
Bolsonaro ou a esquerda irá voltar ao poder.
Em
um cenário tão interessante, a minha atenção está especialmente voltada para um
dos principais colégios eleitorais do país: a cidade de São Paulo. A disputa
municipal em São Paulo promete ser a maior desde os anos 2000 com Mário Covas,
Paulo Maluf e Marta Suplicy. Muitos candidatos são especulados para disputar o posto
de prefeito da cidade.
Além
da acirrada disputa, há ainda a presença do governador João Doria. João Doria é
hoje o líder do PSDB e possui ambições de disputar a cadeira presidencial em
2022. Particularmente, não vejo outro candidato que poderia derrotar Bolsonaro
se as eleições fossem hoje, nem mesmo candidatos da esquerda, tendo em vista
que Lula está preso.
É
uma possibilidade quase certa a tentativa de eleição de Bruno Covas do PSDB,
candidato natural de João Doria. Se Bolsonaro quiser mostrar capital político,
precisará colocar um candidato do PSL para disputar contra Bruno Covas. O
pleito em São Paulo de 2020 ficaria uma prévia interessante de uma provável
disputa entre Bolsonaro e Doria em 2022.
Em
2018, Bolsonaro relutou em receber apoio direto de João Doria. O presidente
eleito sabia que o apoio inicial iria durar até 2020, passando de aliado a
adversário político.
Se
para alguns a eleição de 2022 está muito longe, as eleições de 2020 estão logo ali.
Para as pretensões de dois dos principais candidatos ao pleito, a disputa em
São Paulo é estrategicamente importante. Se a disputa em São Paulo já é
interessante pelo embate indireto ente Doria e Bolsonaro, tudo ficaria ainda
mais interessante se um candidato da esquerda vencesse a disputa.