segunda-feira, 20 de abril de 2020

Bolsonaro armou arapuca política para Rodrigo Maia


Jair Bolsonaro preparou uma arapuca política para o seu principal antagonista no momento, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos deputados federais. Mais do que simples retórica para manter o engajamento da militância, os ataques de Bolsonaro a Rodrigo Maia possuem forte componente político em um embate entre os poderes.

Com o mandato de presidente da Câmara terminando em janeiro de 2021, Maia tem a intenção de permanecer por mais dois anos no cargo, mas tem o seu desejo de prolongar o mandato proibido pela Constituição que impede a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado na mesma legislatura. Para permanecer no poder, Maia e o presidente do Senado, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), precisariam articular politicamente para alterarem a legislação vigente.

Obviamente em um jogo de poderes, o desejo de Rodrigo Maia é visto com maus olhos pelo presidente Jair Bolsonaro e por aqueles que ambicionam a cadeira de presidente da Câmara. Para Bolsonaro, seria mais fácil para o seu mandato ter um aliado explícito como presidente da Câmara e seguir a vontade presidencial é o caminho mais fácil para muitos postulantes ao cargo.

Alinhando a fome com a vontade de comer, Bolsonaro iniciou costuras políticas nos bastidores ofertando cargos do segundo escalão do governo para partidos do Centrão como PP, PL Republicanos e PSD, partido de Gilberto Kassab, com o objetivo de retaliar Rodrigo Maia e reduzir o isolamento político presidencial. Com partidos fisiológicos ao seu lado, Bolsonaro cria dificuldades nos bastidores da política para as pretensões de Rodrigo Maia.

De modo concomitante, o presidente conta uma competente equipe de comunicação que sabe engajar e ativar sua militância virtual. Em live transmitida no YouTube no último domingo, o jornalista Oswaldo Eustáquio, apoiador de Bolsonaro, entrevistou Roberto Jefferson, presidente do PTB e condenado no esquema do Mensalão, sobre um golpe arquitetado por Rodrigo Maia em conjunto com PSDB, PT e veículos da imprensa, como a Rede Globo, para derrubar Bolsonaro e garantir a sua reeleição à presidência da Câmara, um prato cheio para todos os conspiracionistas e motivos mais do que suficientes para engajar a militância a defender Bolsonaro.

Assim, a arapuca está armada. Não tem como Rodrigo Maia vencer.

Se Maia articular e conseguir a mudança da legislação, ficará com a imagem que aplicou um golpe constitucional para expandir seus poderes. Se Maia não conseguir, perderá o cargo mais importante da Câmara dos deputados e voltará a ser um mero deputado, um deputado influente e poderoso, mas, ainda assim, um mero deputado.

Qualquer caminho tomado por Maia o leva para a derrota e vitória de Bolsonaro que aposta, no momento, em Arthur Lira (PP-AL) para ser o próximo presidente da Câmara. Publicamente, é possível que Bolsonaro sustente um nome ligado à sua ala ideológica para suceder o atual presidente da Câmara, mas trabalhará nos bastidores para impedir a reeleição e dificultar o favorito de Maia.

Falando em número de cadeiras, a aliança com PP, PL REPUBLICANOS, PSD e PTB renderia a Bolsonaro um total de 159 deputados, além de rachar o bloco composto por PL, PP, PSD, MDB, DEM, SOLIDARIEDADE, PTB, PROS e AVANTE, enfraquecendo o grupo aliado mais próximo a Rodrigo Maia.

Com o grupo rachado, Rodrigo Maia e o DEM precisariam recompor suas forças com MDB e PSDB, jogando o partido de fato para a oposição.

Vendo todo o jogo de xadrez político entre Bolsonaro e Maia, no melhor estilo Bobby Fischer contra Boris Spassky, fica a pergunta: onde está a esquerda nesse momento?