O
presidente Jair Bolsonaro foi a Israel com o objetivo de estreitar laços com o
país do Oriente Médio. Considerado de fato como um oásis no deserto, Israel
conseguiu prosperar como nação à base de um elevado desenvolvimento tecnológico,
principalmente em tecnologias para irrigação. O Bolsonaro busca firmar
parcerias acadêmicas para que estudantes possam trazer conhecimentos para serem
aplicados no semi-árido brasileiro. Um ganho baixo se considerado os perigos da
visita.
Paralelamente
à viagem de Bolsonaro, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, encontrou-se
com árabes para compensar possíveis danos da viagem de Bolsonaro a Israel. O
objetivo do encontro da ministra com embaixadores árabes é contornar o
mal-estar já estabelecido provocado pelo novo alinhamento político do Brasil
com Israel. Desde que assumiu seu cargo, Tereza Cristina tem recebido mensagens
e comunicados que a nova postura brasileira poderá acarretar perdas comerciais
para o Brasil. Os árabes ficaram muito incomodados com a postura brasileira no
Conselho de Direitos Humanos na ONU favorável aos israelenses.
Há
um receio do agronegócio brasileiro que os novos posicionamentos políticos
afetam às exportações de proteína animal. Agronegócio que apoiou Bolsonaro
durante as eleições. Os países árabes e a Turquia importaram mais de US$ 11
bilhões em carne de frango e carne bovina brasileiras em 2017, correspondendo a
32% das exportações de tais produtos. Um mercado muito importante e estratégico
para o país e para o agronegócio nacional. Com relação às exportações totais brasileiras,
os árabes ficam atrás apenas de China, EUA e Argentina respectivamente.
Para
agravar a já delicada situação da viagem de Bolsonaro, há o racha interno no
governo que poderá ser acentuado com a visita presidencial em solo israelense
por conta da mudança da embaixada brasileira.
O
assunto mais importante da viagem é a mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv
para Jerusalém. Caso ocorra a mudança, o Brasil estaria reconhecendo
oficialmente que Jerusalém é a capital oficial do Estado de Israel. Um
movimento político considerado de alto impacto e risco internacional.
O
primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, conta com tal mudança para
reforçar sua imagem política perante a população às vésperas de uma eleição que
tende a ser muito disputada por conta das acusações de corrupção que pairam
sobre o governo israelense.
Os
militares do governo Bolsonaro, entre eles, o general Mourão, são contrários a
tal mudança porque, além do impacto comercial negativo, há o risco de o Brasil
atrair grupos terroristas para o nosso território, ameaçando toda a nossa
segurança nacional.
Entretanto,
os evangélicos, grupo que apoiou a candidatura de Bolsonaro, olha com muitos
bons olhos tal mudança. Para eles, mudar a embaixada possui uma motivação
teológica porque a segunda vinda de Jesus Cristo será em Jerusalém.
A
mudança da embaixada também agrada a ala olavista do governo por ter Israel
como um símbolo contra o globalismo. O assessor internacional de Bolsonaro,
Filipe Martins, enxerga Israel como sendo a primeira nação a ter tido
consciência sobre os riscos do globalismo. Juntamente com a ala evangélica, os
olavistas enxergam a mudança da embaixada como sendo a coroação da aproximação
brasileira com Israel.
Em
um governo rachado, onde Olavo de Carvalho insulta publicamente o general
Mourão e todos os militares, a viagem tende a acirrar tais disputas internas e
causar mais crise em um governo que já cambaleia apesar do pouco tempo de
mandato.
Com
uma popularidade em queda, a viagem a Israel poderá agravar ainda mais a
situação do presidente. Se o comércio com os árabes sofrer baixas, Bolsonaro
perderá um apoio estratégico do agronegócio já ressabiado com as possíveis
perdas de subsídios. Internamente, o racha do governo poderá conduzir o
presidente para um caos administrativo e de ingovernabilidade. São riscos muito
grandes para uma viagem a um país praticamente irrelevante ao nosso comércio
exterior.