domingo, 31 de março de 2019

Viagem para Israel ameça governabilidade de Bolsonaro


O presidente Jair Bolsonaro foi a Israel com o objetivo de estreitar laços com o país do Oriente Médio. Considerado de fato como um oásis no deserto, Israel conseguiu prosperar como nação à base de um elevado desenvolvimento tecnológico, principalmente em tecnologias para irrigação. O Bolsonaro busca firmar parcerias acadêmicas para que estudantes possam trazer conhecimentos para serem aplicados no semi-árido brasileiro. Um ganho baixo se considerado os perigos da visita.

Paralelamente à viagem de Bolsonaro, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, encontrou-se com árabes para compensar possíveis danos da viagem de Bolsonaro a Israel. O objetivo do encontro da ministra com embaixadores árabes é contornar o mal-estar já estabelecido provocado pelo novo alinhamento político do Brasil com Israel. Desde que assumiu seu cargo, Tereza Cristina tem recebido mensagens e comunicados que a nova postura brasileira poderá acarretar perdas comerciais para o Brasil. Os árabes ficaram muito incomodados com a postura brasileira no Conselho de Direitos Humanos na ONU favorável aos israelenses.

Há um receio do agronegócio brasileiro que os novos posicionamentos políticos afetam às exportações de proteína animal. Agronegócio que apoiou Bolsonaro durante as eleições. Os países árabes e a Turquia importaram mais de US$ 11 bilhões em carne de frango e carne bovina brasileiras em 2017, correspondendo a 32% das exportações de tais produtos. Um mercado muito importante e estratégico para o país e para o agronegócio nacional. Com relação às exportações totais brasileiras, os árabes ficam atrás apenas de China, EUA e Argentina respectivamente.

Para agravar a já delicada situação da viagem de Bolsonaro, há o racha interno no governo que poderá ser acentuado com a visita presidencial em solo israelense por conta da mudança da embaixada brasileira.

O assunto mais importante da viagem é a mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Caso ocorra a mudança, o Brasil estaria reconhecendo oficialmente que Jerusalém é a capital oficial do Estado de Israel. Um movimento político considerado de alto impacto e risco internacional.
O primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, conta com tal mudança para reforçar sua imagem política perante a população às vésperas de uma eleição que tende a ser muito disputada por conta das acusações de corrupção que pairam sobre o governo israelense.

Os militares do governo Bolsonaro, entre eles, o general Mourão, são contrários a tal mudança porque, além do impacto comercial negativo, há o risco de o Brasil atrair grupos terroristas para o nosso território, ameaçando toda a nossa segurança nacional.

Entretanto, os evangélicos, grupo que apoiou a candidatura de Bolsonaro, olha com muitos bons olhos tal mudança. Para eles, mudar a embaixada possui uma motivação teológica porque a segunda vinda de Jesus Cristo será em Jerusalém.

A mudança da embaixada também agrada a ala olavista do governo por ter Israel como um símbolo contra o globalismo. O assessor internacional de Bolsonaro, Filipe Martins, enxerga Israel como sendo a primeira nação a ter tido consciência sobre os riscos do globalismo. Juntamente com a ala evangélica, os olavistas enxergam a mudança da embaixada como sendo a coroação da aproximação brasileira com Israel.

Em um governo rachado, onde Olavo de Carvalho insulta publicamente o general Mourão e todos os militares, a viagem tende a acirrar tais disputas internas e causar mais crise em um governo que já cambaleia apesar do pouco tempo de mandato.

Com uma popularidade em queda, a viagem a Israel poderá agravar ainda mais a situação do presidente. Se o comércio com os árabes sofrer baixas, Bolsonaro perderá um apoio estratégico do agronegócio já ressabiado com as possíveis perdas de subsídios. Internamente, o racha do governo poderá conduzir o presidente para um caos administrativo e de ingovernabilidade. São riscos muito grandes para uma viagem a um país praticamente irrelevante ao nosso comércio exterior.

domingo, 24 de março de 2019

Intimidador espetáculo da Lava Jato precisa de The Rock


A Schutzstaffel, ou SS, era uma organização paramilitar do governo nazista de Adolf Hitler. O grupo começou pequeno e foi ganhando adeptos, exercendo enorme força política durante o Terceiro Reich. Administrada pela SS, a Gestapo era a polícia secreta do Estado alemão e funcionava também como um elemento de controle político através da pressão. Ela era a garantia do domínio da população pelo partido nazista.

Com a prisão do ex-presidente Michel Temer, surge o temor, em mim pelo menos, que a Operação Lava Jato ganhe características de Gestapo. Obviamente, a Lava Jato não irá utilizar métodos bárbaros de tortura e intimidação populacional utilizados pela Gestapo. Porém, ela pode ser utilizada como instrumento de perseguição a políticos contrários ao governo. Assim, o político não seria julgado pelos seus crimes, mas sim pelo seu apoio. Portanto, ele poderia cometer todas as fraudes contanto que fosse subserviente ao governo do momento.

Tal artifício de intimidação seria semelhante ao esquema do Mensalão. O Mensalão deixava o Congresso submisso ao Palácio do Planalto pelo dinheiro e a Lava Jato deixaria os deputados à mercê do presidente da república pelo medo da prisão. Das duas formas a democracia acaba porque o Executivo subjuga o Legislativo.

A diferença entre o Mensalão e a Lava Jato é o apoio popular recebido pela operação que “limpou o Brasil”. A Lava Jato possui respaldo e legitimidade popular para atuar da forma como atua. Além da sensação da população de “justiça sendo feita”, mesmo a qualquer custo, ela possui um elemento essencial ao mundo pós-moderno: o espetáculo.

No mundo atual, o consumo é o consumo do espetáculo. Os produtos estão expostos nas vitrines e gôndolas em um sedutor ballet que é transferido para nossos lares para a continuação do espetáculo. O produto que garantir o maior espetáculo, seja na compra ou no consumo, será adquirido. O consumo deixa de existir pelo conteúdo interno do produto e passa para a projeção exterior. Ou seja, o conteúdo do produto não importa contanto que ele garanta o show.

A prisão preventiva de Michel Temer foi exatamente isso: um show. A prisão foi um espetáculo cinematográfico com força tática fortemente armada, musculosa, tatuada e com blindados cortando a cidade como um filme do cineasta Michael Bay. Os vídeos e a cobertura dos jornais davam a impressão que Vin Diesel e The Rock iriam surgir no melhor estilo “velozes e furiosos” a qualquer instante. Um possível exagero para uma prisão preventiva de um idoso de quase 80 anos.

O conteúdo do processo não interessa. A legalidade da prisão é irrelevante. A coincidência do momento político conflitante entre Sérgio Moro e Rodrigo Maia é apenas casualidade. Tudo é permitido contanto que haja um espetáculo a ser consumido. Se a Lava Jato deixar de ser midiática, ela deixa de ser relevante. Portanto, é necessário que, de tempos em tempos, haja alguma prisão espetacular.

A prisão preventiva de Temer é ilegal, dizem especialistas, mas possui respaldo da população. Mesmo com provas frágeis, o povo aprova a prisão porque já está sedimentado na cabeça do brasileiro que todo político é corrupto. Consequentemente, mesmo não havendo provas concretas em seu processo, ele merece ser punido por ser político e, logo, corrupto.

Para piorar, qualquer pessoa crítica ou contrária aos métodos da Lava Jato é um legitimador da corrupção da classe política. O pensamento crítico morre em detrimento ao espetáculo.

Está criado o cenário perfeito para haver intimidação e pressão política do governo, seja ele qual for, com os parlamentares. A prisão pode ocorrer desde que seja legitimada pelo espetáculo apresentado à população.

Para finalizar, é sempre pertinente ressaltar: os políticos corruptos devem ser investigados, julgados e punidos pelos seus atos. Justiça seletiva contra aqueles contrários ao Executivo é uma afronta a democracia porque, em tal situação, o político tem a liberdade para cometer delitos contanto que siga as diretrizes do governo do momento.

quarta-feira, 20 de março de 2019

O pedigree do nosso viralatismo

É muito comum ouvirmos que o brasileiro possui um “espírito de vira-lata”. Entretanto, mais do fator do que um fator cultural, o “viralatismo” é uma legitimação da rapinagem das nossas riquezas baseada na nossa inferioridade aos americanos e europeus.


O espírito vira-lata possui suas origens bem antes do surgimento do próprio Brasil. Todo ser humano possui necessidade interna de dotar um sentido para a sua vida. Porém, a concepção de vontade própria surge apenas com a religião, pois o individualismo é um dos produtos da tradição judaico-cristão.

Com o surgimento do judaísmo e do cristianismo, as pessoas começam a escolher seus próprios caminhos, é o chamado livre arbítrio. Apesar de haver um código de regras claro a ser seguido, seguir ou não as regras era uma escolha pessoal e o descumprimento ocasionava em punições para além da vida, diferentemente do que ocorria antes do judaísmo onde a quebra das regras era punida com castigos.

Tal liberdade de escolha de caminhos faz surgir a moralidade. Posteriormente, tal conceito é a aprimorado com são Paulo e o rompimento da divisão dos eleitos e não eleitos onde todos são iguais. Por fim, Santo Agostinho surge com a concepção que o espírito é a ligação direta com Deus e a recompensa do além. Portanto, o espírito seria o “bem”. Ao controlar o espírito, o indivíduo teria o controle sobre as perigosas paixões corporais onde é necessário o domínio dos impulsos naturais para a salvação.

Tal noção de Santo Agostinho passa a vigorar de modo invisível dentro do contexto moral coletivo. Se todos nós nascemos dentro de um contexto moral, tal contexto é o que vai definir os sentimentos morais do indivíduo. Portanto, no passado, havia uma concepção moral de que a salvação se encontrava no além-mundo e era necessário o controle dos impulsos corporais para atingi-la. Surge assim, uma hierarquia moral do cristianismo onde o corpo era considerado o banal e o espírito a dignidade e o caminho para Deus.

Com o advento da Reforma Protestante, ocorre um enorme impacto cultural no mundo. Inclusive nos países católicos. O protestantismo surge reforçando as características da disciplina e do autocontrole, influenciando as organizações que acabam influenciando a nossa vida consequentemente.

O grande impacto da Reforma Protestante está no trabalho. Se antes o trabalho era visto como algo desrespeitoso, agora ele é sagrado e fonte de toda a honra de Deus na terra, passando assim a ser um modo de auto-estima, respeito e reconhecimento social. Nada é mais democrático o tal mensagem porque todos trabalham e qualquer forma de trabalho é digna desde que sejam bem feito.

Um dos primeiros a compreender tal influência protestante no mundo é Max Weber que entende muito bem como o protestantismo iria “morrer” para dar lugar a uma sociedade disciplinar do capitalismo. As idéias protestantes rompem o limite religioso e viram práticas seculares sociais e institucionais.

De tal forma, está feito o cenário para a criação da hierarquia dos países onde a moralidade é somada à economia. Com a hierarquia dos países, as nações protestantes são superiores e mais honestas enquanto as católicas são inferiores e desonestas.

Paralelamente a isso, a família também passa a ser importante como elemento de êxito na vida das pessoas porque significaria um autocontrole do impulso sexual. Se o ato sexual é uma necessidade interna e corporal, ela é vista como fraqueza.

Por fim, surge o espírito de vira-lata tão conhecido no Brasil. O fato de sermos ibéricos e católicos nos torna inferiores. Somos um povo animalizado e corrupto, dominados pela emoção e tal incapacidade de controlar os nossos desejos corporais denotam fraqueza e inferioridade perante nossos irmãos do norte.

Na nossa visão, o americano é mais disciplinado e mais trabalhador. Mesmo não havendo comprovações científicas, adotamos tal mito. Se os americanos e europeus conseguem ser mais disciplinados é porque conseguem controlar os banais desejos corporais. Se o controle do desejo é a glória, portanto, nada mais justo do que nossas riquezas estarem com os mais dignos que nós.

Estamos inseridos em um contexto cultural que nos oprime e legitima a nossa dominação. Se você se perguntar por que nos sentimos mais inferiores, espero que agora você possa saber e posso combater tal cultura.


sexta-feira, 15 de março de 2019

Acenando para os evangélicos pelo Twitter


Em uma época onde os meios de comunicação eram precários, antes mesmo do início da comunicação em massa, a Igreja Católica conseguiu se notabilizar pela sua unidade universal da mensagem. Semanalmente, todos os padres do mundo inteiro e de qualquer idioma transmitem rigorosamente a mesma mensagem para os fieis católicos. A mesma mensagem transmitida para o fiel na celebração no Vaticano é passada para o fiel da cidadezinha no interior de Minas gerais, proporcionando um poder de influência organizacional muito grande.

Com o advento da comunicação em massa, a Igreja Católica, e as igrejas de um modo geral, começaram a perder o seu poder de influência. Entretanto, continuam sendo poderosas agentes influenciadores mesmo não possuindo a mesma força do passado, principalmente as Igrejas Evangélicas no Brasil que têm crescido em número de fieis ano após ano.

De acordo com o último senso demográfico realizado pelo IBGE em 2010, a proporção de evangélicos no Brasil passou de 15,5% em 2000 para 22,2% em 2010. Em contrapartida, o número de católicos caiu de 73,7% em 2000 para 65% em 2010, mantendo a tendência de queda das duas décadas anteriores. Se a tendência de queda dos católicos e a tendência de alta dos evangélicos forem mantidas, é possível que a haja uma mudança na maioria religiosa do país.

Alguns especialistas já questionam os dados do senso 2010 porque muitos católicos não são praticantes, tornando os evangélicos como a maioria religiosa ativa no país.

O crescimento dos evangélicos ocorreu de forma acentuada nas áreas periféricas das grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, emergindo das próprias pessoas da comunidade local. Muitos pastores e bispos evangélicos são negros e oriundos do bairro e da comunidade local, preservando as raízes locais e provocando elevada identificação com os fieis. Diferentemente do catolicismo que possui poucos sacerdotes negros e ligados ao seu local de origem.

Tal ligação com a comunidade faz com o que o pastor seja um líder carismático emergente e influente na localidade, possuindo a capacidade de influenciar e ditar a vida dos moradores devotos de modo político inclusive.
As restrições políticas para bispos e pastores evangélicos são muito diferentes dos sacerdotes católicos, resultando em uma grande quantidade de políticos advindos do evangelismo. O resultado é a chamada “bancada da Bíblia” no Congresso, sendo muito numerosa e influente.

Nas eleições presidenciais de 2018, a comunidade evangélica abraçou Jair Bolsonaro e foi um elemento importante e decisivo para a sua vitória. O discurso conservador de Bolsonaro em defesa da família, da moral e das tradições cristãs foi muito aderente para a comunidade evangélica. Com o crescimento do número de fieis, podendo ser a religião predominante no país na próxima década, o evangelismo novamente será importante para o pleito de 2022.

Por tal motivo e pensando na sua sucessão ou perpetuação de seu poder para 2022, Bolsonaro acena para comunidade com seu infame e de mau gosto tweet do golden shower. Na perspectiva de Andrew Korybko da Eurasia, Bolsonaro fez um argumento poderoso com seu tweet porque conseguiu chamar a atenção das pessoas para costumes sócias da sociedade brasileira considerada em deterioração por normalizar exibições públicas de atos sexuais. Ao criticarem Bolsonaro pelo seu tweet, seus opositores, querendo marcar pontos políticos, estariam, na verdade, normalizando atos pervertidos, contribuindo para o colapso da sociedade. Para a comunidade evangélica, tais atos são assustadores e a defesa de tais práticas a afasta da oposição.

Não à toa, o renomado The Economist chamou Jair Bolsonaro de “mestre das redes sociais”. O presidente utiliza suas redes para agradar seus seguidores porque falta a Bolsonaro uma grande coalizão política, sendo compensada por apoio popular para avançar sua agenda. Segundo o The Economist, Bolsonaro não utiliza suas redes para esclarecer seus seguidores, mas sim para agradá-los.

Se política é a arte da comunicação e o que está em jogo é 2022, Bolsonaro está na frente.


terça-feira, 5 de março de 2019

Nós somos Lula

O ex-presidente Lula é um paradoxo difícil de ser entendido e explicado pelos seus opositores. A morte da esposa em 2017, as investigações da Operação Lava Jato, a primeira condenação, a prisão, a morte do irmão Vavá, a segunda condenação e o recente falecimento do neto Arthur de apenas sete anos são possivelmente o pior período da vida Lula. O constrangimento, a humilhação e a dor das perdas enfraquecem o homem. Entretanto, para desespero dos opositores, o constrangimento, a humilhação e a dor das perdas fortalecem o símbolo.

Lula nunca esteve tão fraco e tão forte ao mesmo tempo.

Lula mostrou, com o episódio do sepultamento do neto, que desperta enorme emoção nacional sem falar. Somente a imagem de Lula é capaz de provocar emoções. Em alguns casos, apenas a palavra lula já é suficiente.

Pessoas que nem sabiam da existência de Arthur choraram a morte do neto. Desafetos e opositores se emocionaram e lamentaram o falecimento do menino. Por outro lado, religiosos e cristãos, pessoas que deveriam se sensibilizar com a morte, comemoram a dor do ex-presidente como se Lula tivesse que pagar pelos seus atos com sua vida e com a vida de seus entes, mesmo já estando cumprindo sua pena encarcerado.

Somente alguém cuja imagem transcendeu o corpo do homem e se transformou em símbolo ou mito seria capaz de provocar tanta emoção negativa ou positiva nas pessoas. É um carisma natural, um dom divino muito raro que poucas pessoas possuíram, possuem e possuirão.

Ciro Gomes, principal concorrente de Lula para liderar a oposição ao governo de Jair Bolsonaro, não possui, nem de longe, tal carisma “lulístico”. O pedetista precisa de um esforço quintuplicado para convencer as pessoas de sua figura. Ciro Gomes tem andado o Brasil concedendo entrevistas em rádios, aparecendo em palestras e promovendo seminários para convencer a população de que é o líder mais preparado e capacitado para a oposição e para a esquerda. Entretanto, com um décimo do esforço e com apenas poucas palavras, Lula teria um resultado muito melhor.

Há uma identificação natural do brasileiro com o ex-presidente Lula que não há com nenhum outro político na atualidade. Lula é a síntese do Brasil e do brasileiro. Todos nós somos ou fomos Lula em algum momento da nossa história porque a história de Lula é igual a nossa.

Lula veio de uma família de imigrantes de Garanhuns, uma cidade do interior de Pernambuco. Com apenas sete anos de idade, a mesma do neto falecido, Lula veio com sua família, liderada pela mãe, para o litoral de São Paulo em busca de melhores condições de vida. Uma história que poderia ser a nossa própria história porque somos um povo de imigrantes. Mesmo que não sejamos nordestinos que vieram para o Sudeste em busca de melhores condições, em algum ponto do passado das nossas famílias, italianos, portugueses, árabes, espanhóis, alemães e asiáticos imigraram para o Brasil em busca de melhores condições de vida.

Com mais ou menos intensidade, nós olhamos para Lula e nos reconhecemos porque, em algum nível, somos também imigrantes em busca de melhores condições de vida.

Em seu discurso antes de ser preso, Lula disse a frase “todos vocês são Lula”. O ex-presidente nunca esteve tão certo porque a sua história provoca uma identificação natural porque sentimos em Lula o sentimento do brasileiro. Nós e a nossa história somos Lula.

Se toda a trajetória de vida já não fosse suficiente para causar identificação entre Lula e o povo brasileiro, no final de sua vida há o processo judicial e a condenação que muitos julgam como sendo sem provas, incluindo personagens da direita. Um típico caso de opressão e perseguição do Estado que todos nós brasileiros sentimos diariamente quando saímos para a rua. Segundo o antropólogo Roberto DaMatta, a rua é, na visão do brasileiro, o ambiente onde somos oprimidos e perseguidos pelas leis injustas impostas pelo Estado apenas para nos prejudicar, as mesmas leis que perseguem e oprimem Lula. Para muitas pessoas, suas vidas se tornam cada vez mais parecidas com Lula, causando uma identificação cada vez mais intrínseca.

Quanto mais o homem Lula sofre e se enfraquece, mais forte o símbolo Lula fica. Lula não precisa falar, Lula não precisa ser visto e Lula não precisa existir porque todos nós somos Lula em algum nível.