domingo, 26 de maio de 2019

O messias do Messias nas ruas do dia 26 de maio


As manifestações do dia 26 de março de 2019 em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e às pautas como reforma da previdência, pacote anticrime e reforma administrativa não tiveram a adesão que o governo esperava e também não foram o fracasso que opositores torciam. As manifestações levaram às ruas um número coerente de apoiadores do governo. O saldo final é Bolsonaro mais fortalecido, mas não muito.

Uma das pautas das manifestações, a reforma da previdência, tramita em ritmo lento, na percepção dos manifestantes, mais por conta do empenho do presidente do que pela ação do Congresso.

Alvo principal da fúria dos manifestantes, Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, é um entusiasta maior do que o próprio Bolsonaro quando o assunto é a previdência. Rodrigo Maia e o Congresso têm tido um empenho muito maior com a reforma do que Bolsonaro, provocando críticas de deputados como Kim Kataguiri (DEM-SP) que mais de uma vez disse para o presidente sair do Twitter e trabalhar pela aprovação da medida.

Em tal ponto, as manifestações tendem a favorecer mais aos interesses do Congresso. Bolsonaro fica um pouco mais pressionado pelo clamor popular e precisará começar a trabalhar pela reforma.

Os manifestantes ainda não se deram conta que o interesse de Bolsonaro é muito pequeno com a reforma. O presidente não foi eleito para fazê-la, mas sim para combater a corrupção, diminuir a violência urbana e proteger as famílias. Para a sorte do presidente, a percepção equivocada da população de que a culpa para a não aprovação da reforma é do Congresso garante a Bolsonaro um álibi poderoso.

Bolsonaro poderá dizer, respaldado pelos manifestantes, que o governo está parado pelas ações espúrias dos deputados e não pelas suas próprias incapacidades.

Entretanto, como tudo na vida que segue a teoria de utilidade marginal, tal álibi ficará desgastado quanto mais for utilizado. Se a economia não melhorar e o emprego não aparecer, não há fanático que engula “a culpa é do Congresso” por muito tempo.

Apesar do aumento de popularidade que as manifestações irão dar a Bolsonaro, os índices de aprovação dificilmente voltarão aos patamares pós-eleição. A base frágil de eleitores que votaram em Bolsonaro por conta do antipetismo já foi dissipada, permanecendo 35% de fies bolsonaristas.

Com as futuras crises que irão ocorrer por serem praxe do estilo de administração de Bolsonaro, os índices de aprovação tenderão a voltar ao piso dos 35%.

Se as manifestações serviram com certeza para algo, foi para identificar quem são os 35% da população que sustentam o governo Bolsonaro. Uma parcela considerável do montante é composta por religiosos neopentecostais.

Bolsonaro sabe muito bem quem são seus apoiadores e governa para eles com o restante da população vindo a reboque. É sintomático o presidente ter concedido uma entrevista exclusiva para a Record TV logo após as manifestações terem terminado.

Para manter o importante e valioso apoio dos neopentecostais, Bolsonaro precisará inclinar cada vez mais seu discurso para o campo religioso. Antes das manifestações, Bolsonaro foi a uma Igreja Batista e discursou em frente a um telão luminoso que exibia a bandeira do Brasil. Dias antes, o presidente compartilhou um vídeo de um pastor congolês dizendo que Bolsonaro era um enviado por Deus para governar o país.

Durante as manifestações, um sacerdote da Liga Mundial Cristã celebrou um ato religioso em agradecimento a Deus pela vida do presidente e apontou que a esquerda está do lado do diabo, afirmando que Bolsonaro foi escolhido por Deus e não tem “Messias” no nome à toa.

Tal estratégia adotada por Bolsonaro é perigosa porque há inclinação para caminhos irracionais. O discurso religioso tende a ser confundido com o apoio presidencial, transformando-se em uma mistura irracional de fundamentalismo.

Questionar Bolsonaro é questionar o próprio Deus que o enviou para redimir e solucionar os problemas do país. A facada levada em Juiz de Fora é um sacrifício da imolação do cordeiro para a salvação do Brasil.

Os 35% tendem a se transformar em um exército de pressão contra todos aqueles que estão contrários a Bolsonaro. Aqueles que não fizerem as vontades de Bolsonaro estarão contrariando Deus e acabarão sendo vistos como inimigos do próprio criador. Se os vilões do Congresso estão tão contra Deus, o melhor a fazer é fechá-lo, encerrando a nossa democracia.

O desemprego, a saúde precária e péssima economia deixam de serem incompetências de Bolsonaro para serem vontades de Deus ou culpa dos endemoniados congressistas. Se a irracionalidade político-religiosa imperar, que Deus nos ajude.

3 comentários:

  1. Parabéns Professor Leonardo, lhe acompanho todos os dias e vejo muita sensatez em seu texto e seus vídeos. PARABÉNS .

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  2. Parafraseando o chargista Maurício Ricardo, em um de seus últimos vídeos: eles tomaram para eles a camisa da seleção brasileira, nossa bandeira nacional e agora querem ficar com o monopólio de Deus. Não, nosso Deus não.

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  3. Realmente Mateus, o Prof Leonardo faz um excelente trabalho. 👏🏾👏🏾👏🏾

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