terça-feira, 14 de maio de 2019

João Doria vem aí


Passados quatro meses e algumas semanas do início do governo Bolsonaro, os indicadores de desempenho governamentais são preocupantes. O desemprego aumentou, a projeção de crescimento do PIB caiu, os dados que embasam a reforma da previdência são frágeis, brigas e intrigas administrativas ocorreram e a aprovação de presidente e ministros caíram, inclusive a de Sérgio Moro, ministro mais popular do governo. Tudo isso sem que houvesse qualquer tipo de oposição mais contundente.

Nunca antes na história desse país houve um governo tão autodestrutivo como o de Bolsonaro. Recentemente, o presidente tratou de comprometer publicamente a reputação de seu pilar de sustentação mais importante, o ministro da Justiça Sérgio Moro. Se o país tinha 99% de certeza que Moro aceitou ser ministro para pleitear uma vaga no STF, com a fala de Bolsonaro, o Brasil tem 100% de convicção. Em fala para o jornalista Milton Neves, o presidente revelou que possuía um combinado com o antigo juiz para colocá-lo no STF.

A revelação de Bolsonaro levanta suspeita sobre o herói da classe-média que lutou contra a corrupção e contra os corruptos, aquele que prendeu o considerado como o bandido maior da nação, o ex-presidente Lula. A moral de Moro com a população está ameaçada por uma troca de cargos e favores típica da velha política, o que não seria problema nenhum se não fosse feita por aqueles que a condenam.

É o início do fim do fim do início do governo Bolsonaro.

Entretanto, apesar do que muitos acham e esperam que ocorra, a derrocada de Bolsonaro não favorece um cenário para a esquerda em 2022. Porém, a desidratação de Bolsonaro favorece Lula.
Apesar de parecer dicotômico, para entender o parágrafo anterior, é preciso ter em mente que Lula é uma figura diferente. Lula não representa a esquerda. Lula representa ele mesmo porque Lula é uma entidade que está sobre a esquerda. O ex-presidente transcende partidos e espectros políticos.

A lembrança dos tempos de Lula, onde os pobres comiam e tinham direitos, ainda é recente. Os cortes e mazelas de Bolsonaro com os mais pobres reacende a memória afetiva da população com Lula.

O antipetismo ainda é a força política mais relevante no momento. Mas antipetismo não é antilulismo. É importante a atenção aos termos. Enquanto o antipetismo for forte, a esquerda não terá chances.

É difícil saber se Lula terá condições de ser candidato em 2022. Além das questões burocráticas que poderão impedi-lo, a idade do ex-presidente será um fator de complicação já que Lula terá 77 anos até lá.
Sem Lula, a esquerda precisaria se articular e trabalhar muito para sedimentar na cabeça e nos corações dos brasileiros o seu valor até 2022. O tempo, entretanto, é curto e joga contra a esquerda que teima em não fazer oposição contundente.

Ciro Gomes tem tentado com o Observatório Trabalhista ser o líder da oposição, ditando seus rumos e pautando suas ações. O trabalho de Ciro Gomes é louvável por estar educando o país a como fazer oposição novamente. Porém, mesmo com muito trabalho e esforço, falta a Ciro o carisma necessária para convencer e emocionar. Falta uma pitada de Lula a Ciro.

Com a esquerda em dificuldades e Bolsonaro desmoronando, 2022 parece estar caindo de bandeja no colo do governador de São Paulo João Doria.

João Doria é comunicativo e sabe se expressar. Foi apresentador de televisão e conhece aquilo que as pessoas querem ouvir. Ele foi pioneiro no Brasil em utilizar a internet como plataforma para a vitoriosa e implacável campanha para prefeito de São Paulo em 2016.

Em São Paulo, todos sabem das pretensões do governador de disputar a presidência na próxima eleição. No PSDB, Doria reina absoluto e colocou para escanteio antigos caciques como Alckimin e José Serra. O partido é dele.

Nos bastidores, a articulação política já está sendo traçada. Compõem as secretarias de Doria diversos integrantes do antigo governo Michel Temer. O ex-ministro da Fazendo Henrique Meirelles (MDB) faz parte das secretarias de Doria, além do astuto e poderoso nos bastidores Gilberto Kassab (PSD).

O caminho para 2022 está mais próximo do que as pessoas imaginam. Em 2020, o Brasil terá uma prévia nas eleições municipais. A força de Bolsonaro, o carisma de Lula, o esforço de Ciro Gomes e a influência de João Doria serão previamente testados ano que vem.

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