Passados
quatro meses e algumas semanas do início do governo Bolsonaro, os indicadores
de desempenho governamentais são preocupantes. O desemprego aumentou, a
projeção de crescimento do PIB caiu, os dados que embasam a reforma da
previdência são frágeis, brigas e intrigas administrativas ocorreram e a aprovação
de presidente e ministros caíram, inclusive a de Sérgio Moro, ministro mais
popular do governo. Tudo isso sem que houvesse qualquer tipo de oposição mais
contundente.
Nunca
antes na história desse país houve um governo tão autodestrutivo como o de
Bolsonaro. Recentemente, o presidente tratou de comprometer publicamente a
reputação de seu pilar de sustentação mais importante, o ministro da Justiça
Sérgio Moro. Se o país tinha 99% de certeza que Moro aceitou ser ministro para
pleitear uma vaga no STF, com a fala de Bolsonaro, o Brasil tem 100% de
convicção. Em fala para o jornalista Milton Neves, o presidente revelou que
possuía um combinado com o antigo juiz para colocá-lo no STF.
A
revelação de Bolsonaro levanta suspeita sobre o herói da classe-média que lutou
contra a corrupção e contra os corruptos, aquele que prendeu o considerado como
o bandido maior da nação, o ex-presidente Lula. A moral de Moro com a população
está ameaçada por uma troca de cargos e favores típica da velha política, o que
não seria problema nenhum se não fosse feita por aqueles que a condenam.
É
o início do fim do fim do início do governo Bolsonaro.
Entretanto,
apesar do que muitos acham e esperam que ocorra, a derrocada de Bolsonaro não
favorece um cenário para a esquerda em 2022. Porém, a desidratação de Bolsonaro
favorece Lula.
Apesar
de parecer dicotômico, para entender o parágrafo anterior, é preciso ter em
mente que Lula é uma figura diferente. Lula não representa a esquerda. Lula representa
ele mesmo porque Lula é uma entidade que está sobre a esquerda. O ex-presidente
transcende partidos e espectros políticos.
A
lembrança dos tempos de Lula, onde os pobres comiam e tinham direitos, ainda é
recente. Os cortes e mazelas de Bolsonaro com os mais pobres reacende a memória
afetiva da população com Lula.
O
antipetismo ainda é a força política mais relevante no momento. Mas antipetismo
não é antilulismo. É importante a atenção aos termos. Enquanto o antipetismo
for forte, a esquerda não terá chances.
É
difícil saber se Lula terá condições de ser candidato em 2022. Além das
questões burocráticas que poderão impedi-lo, a idade do ex-presidente será um
fator de complicação já que Lula terá 77 anos até lá.
Sem
Lula, a esquerda precisaria se articular e trabalhar muito para sedimentar na
cabeça e nos corações dos brasileiros o seu valor até 2022. O tempo,
entretanto, é curto e joga contra a esquerda que teima em não fazer oposição
contundente.
Ciro
Gomes tem tentado com o Observatório Trabalhista ser o líder da oposição,
ditando seus rumos e pautando suas ações. O trabalho de Ciro Gomes é louvável
por estar educando o país a como fazer oposição novamente. Porém, mesmo com
muito trabalho e esforço, falta a Ciro o carisma necessária para convencer e
emocionar. Falta uma pitada de Lula a Ciro.
Com
a esquerda em dificuldades e Bolsonaro desmoronando, 2022 parece estar caindo
de bandeja no colo do governador de São Paulo João Doria.
João
Doria é comunicativo e sabe se expressar. Foi apresentador de televisão e conhece
aquilo que as pessoas querem ouvir. Ele foi pioneiro no Brasil em utilizar a
internet como plataforma para a vitoriosa e implacável campanha para prefeito
de São Paulo em 2016.
Em
São Paulo, todos sabem das pretensões do governador de disputar a presidência
na próxima eleição. No PSDB, Doria reina absoluto e colocou para escanteio
antigos caciques como Alckimin e José Serra. O partido é dele.
Nos
bastidores, a articulação política já está sendo traçada. Compõem as
secretarias de Doria diversos integrantes do antigo governo Michel Temer. O
ex-ministro da Fazendo Henrique Meirelles (MDB) faz parte das secretarias de
Doria, além do astuto e poderoso nos bastidores Gilberto Kassab (PSD).
O
caminho para 2022 está mais próximo do que as pessoas imaginam. Em 2020, o
Brasil terá uma prévia nas eleições municipais. A força de Bolsonaro, o carisma
de Lula, o esforço de Ciro Gomes e a influência de João Doria serão previamente
testados ano que vem.
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