quinta-feira, 6 de junho de 2019

O PT é decepcionante


A estratégia política do Partido dos Trabalhadores é decepcionante. Lula está preso fisicamente e o partido está mais em Curitiba do que o ex-presidente. As idéias de Lula percorrem livres os ares brasileiros, tornando o presidente uma figura livre para influenciar e inspirar as pessoas.

O PT, por sua vez, prende-se a uma idéia cada vez mais obsoleta e fadada ao fracasso que é a campanha “Lula Livre”. Deixando de lado toda a discussão se Lula é inocente ou culpado, ou se Lula é preso político ou preso comum, é preocupante todo um partido, que é o maior partido da esquerda com a segunda maior bancada do Congresso, esteja sendo conduzido por um único mote que depende exclusivamente de uma única pessoa. Se Lula morrer amanhã, o que será do PT?

Todos já sabem que a figura de Lula é maior do que a do partido. Lula é quase um partido, uma espécie de organização ou entidade pública e política. Lula não depende mais do PT, mas o PT depende de Lula e depende exclusivamente do ex-presidente. E o problema está justamente na dependência exclusiva.

Quando o PT disse que iria percorrer o Brasil com Fernando Haddad intensificando a campanha “Lula Livre”, eu torci o nariz inicialmente, mas refleti e vi que a estratégia estava potencialmente correta.

Falta ao PT um herdeiro político de Lula. Falta ao partido alguém que possa herdar o capital político e os votos do ex-presidente. No momento, não há ninguém no PT que o eleitor possa olhar a figura e ver Lula refletido nela.

A eleição de 2018 comprova tal situação. Nas primeiras pesquisas de intenção de voto, Lula liderava com folga. Com a impugnação da campanha, Haddad conseguiu herdar votos para ir ao segundo turno, mas não para vencer. Haddad era o candidato de Lula, mas não era Lula. Ser o candidato e não o “filho” de Lula custou a eleição para Haddad.

Percebendo tal situação adversa e a idade avançada de Lula em 2022, a estratégia de percorrer o Brasil com a campanha “Lula Livre” parecia um ato correto a ser feito. O PT faria caravanas pelo país com Fernando Haddad entoando o nome e o rosto de Lula em todos os locais do Brasil. Em quatro anos, Haddad poderia ser visto como o herdeiro político de Lula pelos brasileiros. Seria tempo suficiente para sedimentar no imaginário popular que Lula agora é Haddad.

Mas não foi isso que aconteceu até o momento.

O PT intensificou a campanha “Lula Livre”, mas não tem percorrido o país com Haddad fazendo “corpo a corpo” com a população. Muito pelo contrário. Gradativamente, o partido ficou desinteressante.

Fernando Haddad virou colunista no jornal A Folha de São Paulo. Em um mundo cada vez mais visual, onde reinam os vídeos e os memes, a linguagem escrita parece um isolamento. Haddad não participa de entrevistas ou de programas na internet. O segundo colocado nas eleições de 2018 está no ostracismo midiático simplesmente por ser irrelevante.

Haddad e PT não são vistos como oposição ao governo. São apenas um grupo que repete de modo previsível “Lula Livre”. Se quiserem alguém para atacar o governo ou fazer alguma declaração que possa aumentar o ibope, chamem Ciro Gomes. Se na liderança da oposição o PT ainda comanda, no interessa da mídia, o partido já está em segundo plano.

Se fosse bem conduzida, “Lula Livre” seria ótima para o partido conseguir forjar um nome para o futuro eminente. Entretanto, prefere utilizar uma retórica vazia e sem interesse midiático.

A campanha “Lula Livre” não fortalece o PT, apenas o enfraquece. O PT deveria ser maior do que os seus membros. Um dia, todos irão deixar o partido de alguma forma e a organização continuará existindo. Entretanto, o partido parece aceitar seu tamanho diminuto e submisso a Lula e trabalha para fortalecer cada dia mais a figura do ex-presidente.

Lula não é o PT, mas o PT quer ser Lula. Se o PT quer ser Lula e está preso a ele, o partido terá de se conformar de morrer junto a Lula.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo excelente texto. É triste ver o PT se apegando tão fortemente numa estratégia tão pobre.

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  2. Narrativa ampla que explora a selva sem preocupações com a árvore logo em frente. Infelizmente o ser humano prefere narrativas fáceis de serem compreendidas em detrimento de uma compreensão mais racional livre de paixões, esquerda e direita sofrem do mesmo mal.

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