A estratégia política
do Partido dos Trabalhadores é decepcionante. Lula está preso fisicamente e o
partido está mais em Curitiba do que o ex-presidente. As idéias de Lula
percorrem livres os ares brasileiros, tornando o presidente uma figura livre
para influenciar e inspirar as pessoas.
O PT, por sua vez,
prende-se a uma idéia cada vez mais obsoleta e fadada ao fracasso que é a
campanha “Lula Livre”. Deixando de lado toda a discussão se Lula é inocente ou
culpado, ou se Lula é preso político ou preso comum, é preocupante todo um
partido, que é o maior partido da esquerda com a segunda maior bancada do
Congresso, esteja sendo conduzido por um único mote que depende exclusivamente
de uma única pessoa. Se Lula morrer amanhã, o que será do PT?
Todos já sabem que a
figura de Lula é maior do que a do partido. Lula é quase um partido, uma
espécie de organização ou entidade pública e política. Lula não depende mais do
PT, mas o PT depende de Lula e depende exclusivamente do ex-presidente. E o
problema está justamente na dependência exclusiva.
Quando o PT disse que
iria percorrer o Brasil com Fernando Haddad intensificando a campanha “Lula
Livre”, eu torci o nariz inicialmente, mas refleti e vi que a estratégia estava
potencialmente correta.
Falta ao PT um herdeiro
político de Lula. Falta ao partido alguém que possa herdar o capital político e
os votos do ex-presidente. No momento, não há ninguém no PT que o eleitor possa
olhar a figura e ver Lula refletido nela.
A eleição de 2018
comprova tal situação. Nas primeiras pesquisas de intenção de voto, Lula liderava
com folga. Com a impugnação da campanha, Haddad conseguiu herdar votos para ir
ao segundo turno, mas não para vencer. Haddad era o candidato de Lula, mas não
era Lula. Ser o candidato e não o “filho” de Lula custou a eleição para Haddad.
Percebendo tal situação
adversa e a idade avançada de Lula em 2022, a estratégia de percorrer o Brasil
com a campanha “Lula Livre” parecia um ato correto a ser feito. O PT faria
caravanas pelo país com Fernando Haddad entoando o nome e o rosto de Lula em
todos os locais do Brasil. Em quatro anos, Haddad poderia ser visto como o
herdeiro político de Lula pelos brasileiros. Seria tempo suficiente para
sedimentar no imaginário popular que Lula agora é Haddad.
Mas não foi isso que
aconteceu até o momento.
O PT intensificou a
campanha “Lula Livre”, mas não tem percorrido o país com Haddad fazendo “corpo
a corpo” com a população. Muito pelo contrário. Gradativamente, o partido ficou
desinteressante.
Fernando Haddad virou
colunista no jornal A Folha de São Paulo. Em um mundo cada vez mais visual,
onde reinam os vídeos e os memes, a linguagem escrita parece um isolamento.
Haddad não participa de entrevistas ou de programas na internet. O segundo
colocado nas eleições de 2018 está no ostracismo midiático simplesmente por ser
irrelevante.
Haddad e PT não são
vistos como oposição ao governo. São apenas um grupo que repete de modo
previsível “Lula Livre”. Se quiserem alguém para atacar o governo ou fazer
alguma declaração que possa aumentar o ibope, chamem Ciro Gomes. Se na
liderança da oposição o PT ainda comanda, no interessa da mídia, o partido já
está em segundo plano.
Se fosse bem conduzida,
“Lula Livre” seria ótima para o partido conseguir forjar um nome para o futuro
eminente. Entretanto, prefere utilizar uma retórica vazia e sem interesse
midiático.
A campanha “Lula Livre”
não fortalece o PT, apenas o enfraquece. O PT deveria ser maior do que os seus
membros. Um dia, todos irão deixar o partido de alguma forma e a organização
continuará existindo. Entretanto, o partido parece aceitar seu tamanho diminuto
e submisso a Lula e trabalha para fortalecer cada dia mais a figura do
ex-presidente.
Lula não é o PT, mas o
PT quer ser Lula. Se o PT quer ser Lula e está preso a ele, o partido terá de se
conformar de morrer junto a Lula.
Parabéns pelo excelente texto. É triste ver o PT se apegando tão fortemente numa estratégia tão pobre.
ResponderExcluirNarrativa ampla que explora a selva sem preocupações com a árvore logo em frente. Infelizmente o ser humano prefere narrativas fáceis de serem compreendidas em detrimento de uma compreensão mais racional livre de paixões, esquerda e direita sofrem do mesmo mal.
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