quarta-feira, 18 de março de 2020

Lições para Bolsonaro e Paulo Guedes

Se há um ponto positivo na pandemia do coronavírus que recentemente chegou ao Brasil é a lição dada a Paulo Guedes, a todos os ditos liberais econômicos e a Bolsonaro sobre o papel do estado na sociedade.

Paulo Guedes é um ultraliberal adepto de um estado super mínimo, possuindo a utopia que a economia pode ser puxada pela iniciativa privada com intervenções quase nulas do poder público. Porém, o crescimento do PIB de 2019, com pífio 1,1%, valor inferior ao crescimento de 2018, mostra certo equívoco nas ideias do ministro.

Os liberais econômicos seguem a mesma linha. Assim como Guedes, eles possuem a visão que o estado é um grande empecilho ao desenvolvimento econômico, empresarial e produtivo. Acreditam que a sociedade e a desigualdade social apenas irão melhorar com um grande mundo de empreendedores onde ninguém mais é funcionário e nem dependente do governo.

Já Bolsonaro desconhece completamente as funções básicas do estado, não se comporta como presidente e é limitado a fazer política somente com o enfretamento.

Com a chegada do coronavírus, chegou também um enorme choque de realidade para aqueles que sempre menosprezavam e desconheciam o papel do estado. Bolsonaro está percebendo que um governo não é sustentado por bravatas e Paulo Guedes e seus liberais estão notando a importância do estado.

A pressão cresce para que o governo tome medidas para atenuar os impactos sociais e econômicos da pandemia. Pessoas estão cada vez mais mobilizadas para protegerem seus entes queridos, principalmente os idosos considerados um grupo de alto risco. Porém, ao invés de acatar as recomendações das autoridades e as suas próprias, Bolsonaro desrespeita tudo e a todos, incluindo a si mesmo. O presidente não consegue perceber a dimensão da situação e acredita que imprensa e outros poderes querem usar o coronavírus para derrubá-lo. Não à toa, sua sanidade mental começa a ser questionada e um intervenção ventilada.

Por sua vez, Paulo Guedes mostra estar completamente perdido e incapaz de demonstrar ações concretas que possam atenuar os efeitos da crise. O ministro menosprezou tanto o papel do estado como agente econômico que deve estar catatônico que somente o poder público poderá amenizar os impactos do coronavírus.

Como Bolsonaro e Paulo Guedes são incapazes de olharem o estado para além de uma bancada de negócios com grandes estatais à venda, o governo bate cabeça entre pedir para as pessoas ficarem em casa ou pedirem para irem às compras. Ambos já disseram que a economia iria colapsar se todos ficassem em seus lares. É a velha esperança na crença que a iniciativa privada irá nos salvar.

Sem planos efetivos, o governo está perdido e acredita que precisará escolher quem irá sobreviver: mercado ou pessoas. Se Bolsonaro e Paulo Guedes fossem de fato grandes políticos, já teriam pensado em planos contingenciais utilizando a força do estado para atenuar os impactos da crise. Como nunca acreditaram que o estado pudesse ser a única esperança, demoraram a tomar as devidas precauções, correndo atrás do prejuízo somente após perceberem que o mercado os abandonou mesmo eles nunca o abandonando.

Nesse momento de incerteza, umas das poucas certezas é que o serviço público de saúde está pronto para atender a todos que necessitarem. Outra certeza é que Bolsonaro e Paulo Guedes são incapazes de ocuparem os cargos que ocupam. Por fim, a última certeza é que somente o poder público poderá nos salvar, mesmo não podendo ser salvo dele mesmo.

Um comentário:

  1. O economista inglês John Maynard Keynes ainda tem muitas lições a ensinar. Os três pilares que ele defendia ainda são válidos:

    1) Eficiência Econômica
    2) Justiça Social
    3) Liberdade Individual

    Eu colocaria mais um item nessa relação que é uma preocupação mundial desde a década de 1980: a proteção ambiental. Por isso formas de desenvolvimento sustentável devem ser pensadas, elaboradas e aplicadas.

    Um grande abraço Professor Leonardo!

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