Parece que depois de
tanto tempo, uma parte da esquerda ainda não entendeu o jogo de Bolsonaro e caí
como um patinho na retórica bolsonarista.
Bolsonaro não fez, não
faz e não fará ideia de como combater a crise do coronavírus. Ele é despreparado
para um assunto de tamanha importância e grandeza. É o presidente das pequenas
coisas. É o presidente do brasileiro-médio que se importa somente com o que é
visível e factível no cotidiano.
Sem saber como agir, Bolsonaro
optou pelo conflito, seu porto seguro, e partiu para a ofensiva contra imprensa,
governadores e políticos. Bolsonaro politizou o combate ao coronavírus e adotou
uma postura muita clara pró-economia.
O presidente sabe que as
revoltas populares podem ser contidas se a economia ir bem. Portanto, manter a
atividade econômica e reduzir os impactos de uma provável recessão, é questão
de vida e morte para Bolsonaro. Com a economia tendo perdas pequenas, a elite
do empresariado nacional ficará descontente, mas não o bastante para se voltar
contra o presidente.
Os bolsonaristas compreenderam
bem o recado e adotaram discursos pró-economia, dizendo que os impactos
econômicos são muito piores do que os impactos sociais. Também é uma forma de
Bolsonaro e seus apoiadores de combaterem desafetos políticos do presidente que
adotaram medidas de isolamento em seus estados, como João Doria e Wilson
Witzel.
Como Bolsonaro está do
lado da economia, obviamente os detratores presidenciais precisam ficar do lado
oposto e partem para defenderem as políticas de isolamento. Entramos então em
um cenário político da crise do coronavírus: economia contra isolamento. Um
cenário estúpido que nada ajuda no enfrentamento da crise.
A direita erra ao
menosprezar o risco de contaminação e mortalidade da doença. É cômico ouvir
Roberto Justo, um idoso do grupo de risco, desdenhar um vírus que pode mata-lo.
Porém, a esquerda erra ao não se atentar ao grave problema econômico que a
pandemia pode causar com altíssima recessão e desemprego.
O problema da esquerda é
não perceber que os efeitos da crise econômica demorarão mais para passar do
que os efeitos da doença. O vírus passa, a crise fica e a esquerda ainda sai
como vilã.
O CEO do Grupo Martins,
Flávio Martins, disse em live transmitida pela XP Investimentos que os impactos
do coronavírus serão muito maiores na economia do que na saúde brasileira. Não
gosto desse tipo de argumento e é necessário tomar muito cuidado para evitar o
desdém com a vida das pessoas.
O desastre do coronavírus
será tanto social quanto econômico. É muito fácil desdenhar dos números de
mortalidade como se a população fosse medida apenas pelas porcentagens. Não
interesse que apenas 0,1% da população vá morrer em decorrência do coronavírus,
pois se um parente fizer parte dessa estatística será devastador para mim e
para a minha família.
Não é o momento de
colocar em uma balança a perspectiva econômica e do outro a perspectiva social.
É extremamente precipitado fazer tal ponderação em um momento inicial da
contaminação no Brasil. Não sabemos como o vírus irá se comportar em um país
com favelas, tuberculose, malária e com 50% da população sem coleta de esgoto.
O pior cenário para a
esquerda e o melhor para Bolsonaro é justamente a politização da crise entre
uma retórica de esquerda contra direita nas medidas a serem tomadas para
combater a propagação do vírus. Se a esquerda não perceber isso a tempo, será
tarde.
O bolsonarismo joga
pesado na desinformação e na retórica das meias verdades. Eles são
profissionais na prática de disseminação de material que alimente a burrice e a
cegueira de seus membros.
Bolsonaro sabe que os impactos sociais e econômicos serão inevitáveis. Para reduzir os danos a sua imagem, ele tenta jogar a culpa da economia nos governadores, na imprensa e nos adversários.
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