sexta-feira, 27 de março de 2020

Bolsonaro vai nos destruir

O período de crise socioeconômica provocada pelo coronavírus tem revelado o desprezo como a principal característica do presidente Bolsonaro. O presidente nunca foi um cidadão afeito às regras e normas de conduta mesmo antes de ser o chefe do Executivo nacional. O episódio da tentativa de explodir bombas no quartel está aí para não me desmentir. Já enquanto político, o desprezo continuou, mas, como um deputado insignificante do baixo-clero, tudo passava praticamente despercebido.

Agora que é presidente, as ações de Bolsonaro ganham destaque e o seu desprezo ganha corpo com o seu projeto de destruição da República. Bolsonaro despreza a República e as suas instituições. Tudo o que é público, o presidente enxerga como sendo desnecessário, um empecilho para a vida do cidadão, e, portanto, deve ser destruído.

O raciocínio de Bolsonaro pode ser descrito da seguinte forma: para que servem as leis de trânsito se não apenas como instrumentos para tirar dinheiro da população? Para que devo seguir as liturgias do cargo de presidente se fui eleito por ser um bravateiro? Para que devo ouvir as universidades públicas se meu guru estudou até o quarto ano primário? Para que devo me submeter ao Legislativo se eu fui eleito pelo povo?

Infelizmente, o pensamento presidencial encontra eco em seus apoiadores que não conseguem entender o papel da República e acabam nutrindo o mesmo sentimento de desprezo que Bolsonaro possui.

O cenário que já era bastante ruim, com alto risco de entrarmos em uma anomia social, piorou com a chegada do coronavírus. O desprezo de Bolsonaro pelas instituições republicanas foi estendido para a vida dos próprios brasileiros.

Contrariando todas as boas práticas internacionais de isolamento, Bolsonaro iniciou uma campanha contra a medida, politizando a situação e jogando seus apoiadores contra os governadores. O presidente não acredita que o estado e as instituições responsáveis podem ser agentes atenuadores da crise porque ele mesmo não acredita nos órgãos que atestam os impactos da doença. É o desprezo de Bolsonaro falando por ele porque o presidente simplesmente despreza tudo sobre o assunto que não venha de sua cabeça.

Em entrevista exclusiva concedida hoje, dia 27 de março de 2020, ao apresentador Datena, Bolsonaro disse não acreditar no número de mortos, desprezando os dados oficiais do próprio governo. Um pouco antes da entrevista, Bolsonaro já havia defendido o chamado “isolamento parcial” mesmo não possuindo nenhum dado científico ou estudo técnico para embasar a sua defesa.

Ao desprezar aqueles que entendem realmente do assunto, Bolsonaro mostra um enorme desprezo pela vida dos brasileiros. Infelizmente, leitor, o nosso presidente não se importa conosco. Se você duvida de mim, copio trecho da fala presidencial na mesma entrevista concedida a Datena que foi mencionada linhas acima: “alguns vão morrer, vão morrer, lamento, é a vida”.

O elemento máximo da república é o público, ou seja, o povo. Ao desprezar a vida dos brasileiros, Bolsonaro mostra o seu máximo desprezo com a República que governa.

O desprezo com as liturgias do cargo, aplaudidas pelos seus apoiadores insensatos, permitiu que o presidente quebrasse a liturgia mais importante do cargo presidencial que é zelar pelo bem-estar do seu povo.

Bolsonaro não foi impedido e nem enquadrado quando começou a desrespeitar e a destruir a República. Era inevitável que um dia ele acabaria atingindo a população com a sua destruição. Bolsonaro é responsável por cada cadáver decorrente do coronavírus no Brasil e, se você o apoia nessas decisões, você é cúmplice.

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