Um dos pontos que tenho
achado positivo no presidente eleito Jair Bolsonaro é a capacidade de voltar e
rever alguns conceitos e decisões. Depois de decidir pela fusão do Ministério
da Agriculta com o Ministério do Meio Ambiente, Jair Bolsonaro repensou e decidiu
mudar sua opinião, tendo em vista que tal junção seria péssima para os
negócios. Grandes consumidores do agronegócio brasileiro possuem regras
ambientes muito severas para compra de produtos agrícolas e tal fusão poderia
impactar negativamente os negócios, causando preocupação em vários ruralistas,
como Blairo Maggi.
Agora, a polêmica da
vez é a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para
Jerusalém.
Durante muitos anos, a
capital de Israel foi Tel Aviv, sendo Jerusalém uma cidade praticamente neutra
por ter importância religiosa para cristãos, judeus e muçulmanos. Em 2017, o
governo de Israel decidiu mudar a capital do país para Jerusalém, um ato
considerado como uma afronta para a comunidade muçulmana, causando ainda mais
atrito em uma região conflituosa. Logo em seguida, Donald Trump e os EUA,
aliados históricos de Israel, reconheceram a nova capital e mudaram a embaixada
de local.
O restante do mundo, ou
pelo menos os países que possuem alguma importância internacional, permaneceram
neutros diante da ação israelense porque qualquer posicionamento equivocado
pode insuflar grupos terroristas árabes contra suas nações. A União Europeia,
temendo um caos maior na Europa por conta do terrorismo, mostrou-se contrária à
mudança em diversas oportunidades.
Em geopolítica, muitas
vezes a melhor posição a se tomar é justamente não tomar posição. Esperar pelos
desdobramentos é quase sempre a melhor opção a se tomar principalmente em um
conflito ético e religioso complexo e espinhoso como a situação envolvendo
Israel e Palestina.
Entretanto, o
presidente eleito Jair Bolsonaro, em uma ânsia de demonstrar um protagonismo internacional
que o Brasil não tem, decidiu endossar a decisão israelense e americana mudando
a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. Mesmo se for uma decisão para
aumentar o apoio dos cristãos no Brasil, Jair Bolsanaro já tem um respaldo
considerável de tal grupo. Além do mais, tal mudança em nada beneficia os
cristãos porque Jerusalém é “posse” dos judeus agora, deixando de ser um
território acima dos conflitos religiosos históricos.
Obviamente, a decisão
foi vista de modo negativo pela comunidade internacional e, até o momento, os
impactos positivos da mudança são mínimos frente à indisposição causada com os
países árabes.
Apenas um dia após a
declaração de Jair Bolsonaro, o Hamas, partido político palestino, considerado
por alguns como um grupo terrorista, considerou a medida como sendo hostil em
direção ao povo palestino e ao mundo árabe e muçulmano. Ao apoiar Israel, Jair
Bolsonaro afrontou o Hamas e nos colocou em uma potencial rota para o
terrorismo árabe.
O Brasil é um país
completamente livre do terrorismo internacional. Nossos problemas internos já
são enormes sem a preocupação de termos bombas explodindo nos metrôs.
Diferentemente dos EUA e União Europeia, nós não temos a expertise necessária
para combater o terrorismo. O combate ao terrorismo é uma tarefa árdua e
extremamente complexa e mesmo com os avançados serviços de inteligência que EUA
e União Europeia possuem, ataques ocorrem com certa freqüência.
A decisão de Jair
Bolsonaro causou um problema geopolítico desnecessário para o Brasil. Nossas
preocupações são outras e estão no âmbito social e econômico.
Porém, a decisão de
Jair Bolsonaro é tão nociva para o Brasil que possivelmente afetará acordos de
comércio internacional com o mundo árabe. Juntos, os países árabes são o
segundo maior comprador de proteína animal brasileira. Para se ter uma noção da
importância do comércio com os árabes, em 2017, as exportações para tais países
somaram US$13,5 bilhões e o superávit para o Brasil foi de US$ 7,17 bilhões. De
acordo com Rubens Hannun, presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, a
decisão de Jair Bolsonaro abre portas para concorrentes como Turquia, Austrália
e Argentina.
O comércio de carne com
os árabes já passou por ruídos por conta da Operação Carne Fraca e da greve dos
caminhoneiros. Porém, nada tão severo quanto a mudança da embaixada para
Israel.
Em menos de uma semana,
Jair Bolsonaro tomou duas decisões que impactam diretamente o agronegócio
brasileiro, setor que o ajudou a eleger-se. Se o presidente eleito continuar
tomando decisões prejudiciais ao agronegócio, nossa principal fonte de
exportações e superávit comercial, o
apoio será perdido em pouquíssimo tempo.
Da mesma forma que Jair
Bolsonaro reviu a posição de fundir o Ministério da Agricultura com o
Ministério do Meio Ambiente, espero que a decisão de mudar a embaixada
brasileira em Israel para Jerusalém também seja revista. Caso o governo
continue tomando decisões prejudiciais ao agronegócio e mantenha a decisão sobre
Israel, o presidente eleito, além de perder o apoio dos ruralistas, também irá
perder o apoio das elites que começarão a ter a tão sonhada experiência de
viver na Europa mesmo estando no Brasil. Experiência completa, incluindo o
temor ao terror.
Nenhum comentário:
Postar um comentário