domingo, 28 de outubro de 2018

Bolsonaro presidente



Jair Bolsonaro é o novo presidente do Brasil. Com sentimentos aflorados, vamos respirar para tentarmos analisar com calma e seriedade pontos importantes para além da superficialidade.

Os que se preocupam com as questões sociais podem ficar tranquilos porque nada irá mudar. O interesse do presidente eleito com tais pautas é puramente a margem para negociação com a esquerda. Com a redução dos ministérios prometida por Jair Bolsonaro, a quantidade de cargos disponíveis para compor aliados será menor e o afrouxamento de tais pautas sociais será necessário para a que haja aprovação das pautas econômicas como privatização, reforma da previdência, reforma trabalhista e reforma tributária.

O grande problema está nas mudanças nos direitos trabalhistas. Se Jair Bolsonaro fizer as mudanças afetando todos os brasileiros, ele afetará também os militares que o apoiaram, perdendo um apoio importantíssimo do qual ele não é tão bem visto pelo alto escalão do exército como as pessoas imaginam. Basta lembrar que Jair Bolsonaro foi expulso do exército por indisciplina e o grande apoio que recebeu vem do baixo clero. Por outro lado, se Jair Bolsonaro mantiver os direitos dos militares, ele terá uma indignação muito grande da população que o elegeu, causando a revolta dos sindicatos que poderão atuar livremente na oposição já que deixaram a base aliada do governo.

Para piorar a situação, há a inclinação para uma composição com o DEM, um partido da base aliada do governo Michel Temer. É muito provável que Jair Bolsonaro tenha vários aliados que atualmente compõem com o atual governo. Tal situação é uma armadilha para o presidente eleito porque, se deixar de compor com a atual base do governo, terá pouca governabilidade, porém, se compor, poderá ser visto como uma continuação do governo Michel Temer, governo que teve a maior margem de reprovação da história.

É importante lembrarmos que muitos eleitores do presidente eleito tiveram seus votos na esperança de uma mudança do sistema e no antipetismo, muito mais do que um voto fiel à figura de Jair Bolsonaro. Portanto, existe uma fragilidade no apoio do eleitorado que poderia ver como uma enorme traição a composição com o governo Michel Temer.

Paralelamente, há aquela que talvez seja a grande eleição: Lula contra Ciro pelo controle da oposição. Sem sair da cadeia, sem aparecer publicamente e sem o apoio declarado do terceiro colocado no primeiro turno, Lula conseguiu que seu candidato tivesse aproximadamente 45% dos votos válidos. Uma votação muito expressiva para um candidato desconhecido, mostrando uma relevância de Lula e indignação com o presidente eleito.

Seu opositor, Ciro Gomes, sabe que teria suas pretensões políticas destruídas caso declarasse apoio a Fernando Haddad e por isso declarou voto em favor da democracia. Em declaração após votar, Ciro Gomes foi além e disse que nunca mais irá fazer campanha para o PT. Uma clara posição de deslocamento do PT na tentativa de ser uma opção viável para a esquerda. Jogada inteligentíssima para alguém com pretensões para 2022.

O embate entre Lula e Ciro Gomes será muito interessante de ver e analisar as declarações de cada um dos lados. Fernando Haddad, inteligentemente, irá condicionar sua derrota na falta de apoio de Ciro na tentativa de arranhar a imagem de seu futuro concorrente na oposição que será fácil de ser feita porque Jair Bolsonaro criou armadilhas para si com seu plano de governo, necessário para sua aprovação e vitória. Existe uma grande massa de pessoas havidas e capazes para realizarem oposição, mas precisarão de um guia. Portanto, fiquemos atentos aos próximos passos de Ciro Gomes, do PT e de Lula, tendo sempre em mente a disputa para 2022 e o controle da oposição.

Aos derrotados, desejo calma e seriedade porque a situação não será tão ruim quanto imaginam. Aos vencedores, desejo calma e seriedade porque a situação não será tão boa quanto imaginam.

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