quinta-feira, 16 de abril de 2015

Qual o papel da elite?

As recentes manifestações pedindo o impeachment presidencial seriam cômicas se não fossem trágicas. O pedido de impeachment nas atuais condições é o mesmo que cobrar presentes de natal em julho e cobrar menos corrupção na política é o mesmo que pedir para tubarões deixarem o mar para os surfistas. A pessoas tem o direito de protestarem, mas precisam fazer com responsabilidade.

As manifestações pedindo impeachment presidencial, além de prejudicarem nossa reputação internacional, promovem a distração perfeita para o legislativo desaguar processos controversos que estavam engavetados. Desde o início das manifestações, ações controversas como a PEC da maioridade penal, a retomada da lei antiterrorismo, o projeto de autonomia do Banco Central e a PEC da terceirização tramitaram pelas bancadas do legislativo sem a devida atenção do povo brasileiro, pautas muito mais significativas do que o impeachment presidencial. Os poucos manifestos relacionados aos temas anteriores não chegaram nem perto da mobilização provocada pelos protestos contra o governo federal.

Entretanto, apesar de menores, os protestos para discutir a redução da maioridade penal e a PEC da terceirização foram muito mais objetivos e coerentes do que as manifestações com propósito de mudar o Brasil com pedidos de impeachment e fim da corrupção. Se os mobilizados pelas manifestações do impeachment quiserem realmente mudar o país, eles devem primeiro saber qual o seu papel na sociedade. Apesar das tentativas de generalização do governo federal, é inegável que a maioria dos manifestantes eram parte da elite.

O problema é que a elite brasileira não conhece o seu papel na sociedade. A função da elite nas sociedades é, basicamente, indicar comportamentos nas mais diversas áreas, ou seja: sinalizar comportamentos econômicos, como poupança, educação financeira e adesão a práticas econômicas tidas como ótimas; indicar aspectos da vida social, como o modo de comer, o modo de beber, o modo de se relacionar e os hábitos desejáveis nas relações humanas; também é esperado da elite um certo comportamento estético, como a capacidade de apreciar, avaliar e produzir artes. A elite também precisa apontar para a sociedade os rumos e modelos políticos para melhorar a política em si em sua melhor acepção.

Portanto, ser elite é um trabalho árduo e não pode ser medíocre, no sentido literal da palavra. A elite precisa ser avant premiere nas mais diversas áreas. Ela precisa se sobressair perante a sociedade e indicar rumos, pois o povo olha para ela e a respeita nesse espectro.

Atualmente, no Brasil, a elite deixa a desejar em suas funções. Ser elite não é usar roupas de marca e sentir-se culto só porque viajou ao Louvre para tirar fotos da Mona Lisa, é preciso ter cultura para tomar uma posição e guiar a sociedade, independente de qual for. Se a elite achar que a maioridade penal deva ser reduzida, então vá as ruas para manifestar seu apoio.

A elite precisa mostrar ao povo que as mobilizações sociais realmente têm força para mudar o país. Porém, para fazer isso, ela deve sair do superficial e aprofundar-se em questões mais específicas. Por essa razão, se a elite quiser mudança, ela não deve ir as ruas pedindo impeachment presidencial ou o fim da corrupção, é preciso tomar um posicionamento e dizer se é a favor ou contra a maioridade penal ou se é a favor ou contra a PEC da terceirização, por exemplo.

Independentemente de qual for o posicionamento, ele precisa haver e ser apresentado, pois somente dessa forma a sociedade tem condições de indicar quais suas necessidades para os governantes. Enquanto a elite não aprender qual o seu papel, os mecanismos de pressão que poderiam ser utilizados continuarão fracos e insipientes. Por essa razão, a elite precisa realmente assumir o seu papel diferenciado e não apenas ser diferente por conta do poder econômico.

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