quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Poderia me dizer a verdade, Mario?

O ano de 2015 iniciou de forma melancólica para os fãs de videogame. No início de janeiro, a Nintendo, conhecida pelos jogos do encanador Mario e dos monstrinhos Pokémon, anunciou o encerramento de suas operações no Brasil culpando os elevados impostos e a logística deficitária do país. Segundo a companhia, tais elementos prejudicavam sua competitividade no mercado brasileiro, pois diferentemente de seus concorrentes Sony e Microsoft, a Nintendo não possuía indústrias em solo nacional.

É possível dizer que a carga tributária brasileira interferiu diretamente nos planos da Nintendo, porém, acreditar cegamente como sendo o único motivo de sua saída é ingenuidade. O segmento dos videogames, ocupado pela companhia, é a maior fonte de receita do ramo do entretenimento, muito na frente dos filmes de Hollywood ou outras indústria de entretenimento. A grande verdade por trás do fim das operações da Nintendo no Brasil são suas vendas pífias.

Lançado em 2012, o videogame Wii U, principal produto da Nintendo, não vendeu como o esperado mesmo sendo mais barato que os demais concorrentes. Com um pouco mais de dois anos, um ano a mais no mercado que os videogames de Sony e Microsoft, o Wii U atingiu o montante de 8,5 milhões de unidades vendidas ao redor do mundo. Para servir de comparação, o Xbox da Microsoft, mesmo com pouca relevância no forte mercado japonês, atingiu um valor superior a 10 milhões de vendas, já o Playstation da Sony em apenas dois meses conseguiu superar as vendas do Wii U e atualmente está com mais 18,5 milhões de unidades vendidas.

A diferença para seus concorrentes não está apenas nas vendas. As capacidades técnicas do aparelho são muito inferiores aos concorrentes, sendo comparáveis com videogames de gerações anteriores. A baixa potência técnica do Wii U resultou, logo após o seu anúncio oficial, uma derrocada no valor das ações da Nintendo.

Em sua defesa, a Nintendo alega que seu foco nunca foi potência gráfica, mas sim a diversão proporcionada pelos seus jogos. Infelizmente, a companhia não conseguiu comunicar seu diferencial aos consumidores, sendo o péssimo marketing do Wii U, publicamente assumido pelo presidente Satoru Iwata, um dos motivos para o fracasso do produto. Paralelamente ao marketing deficitário, uma de seus principais marcas, os jogos solo do encanado Mario, começam a apresentar pouco fôlego junto ao público, resultando em vendas nada satisfatórias.

Segundo especialistas, os jogos exclusivos, como o caso do Mario, são o principal propulsor das vendas de um videogame. Nesse aspecto, o ano de 2014 foi decisivo para a Nintendo que lançou praticamente todos os seus jogos exclusivos e pouco surtiu efeito nas vendas do Wii U. Em contra partida, os principais jogos para Xbox e Playstation ainda não foram lançados no mercado.

Para piorar o panorama da Nintendo, a companhia é conhecida publicamente por ter péssimo relacionamento com as produtoras de jogos. Por possuir fortes marcas exclusivas como Mario e Donkey Kong, a Nintendo nunca foi uma exímia negociadora com os produtores, os quais gradativamente foram se afastando. Com as produtoras afastadas, a oferta de jogos para os consumidores fica reduzida, assim como a atratividade do videogame.

Isolada dos produtores, desacreditada pelos acionistas, inferior aos concorrentes, com marketing deficitário e pouco aceita pelo mercado mundial, a Nintendo chega a ser quase ofensiva ao jogar toda a culpa pela sua saída do Brasil nos impostos. Entretanto, se algo de positivo pode ser destacado é justamente a maneira como a Nintendo divulgou sua saída do mercado brasileiro: ao jogar toda a culpa nos impostos, a empresa incitou seus fãs que "levantaram poeira" e permitiram a Nintendo sair sem dar mais explicações que seriam desastrosas para o valor de suas ações.

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