quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Liberdade de expressão ou falta de respeito?

O ano de 2015 iniciou de forma sangrenta e lamentável. Ofendidos por uma charge publicada pelo jornal francês "Charlie Hebdo", fundamentalistas islâmicos invadiram a sede do noticiário em Paris e executaram de forma cruel vários funcionários da organização. Um ato brutal, bárbaro e deplorável que não merece respeito e muito menos ser discutido.

Curiosamente, na mesma semana do atentado ocorrido em Paris, o humorista Renato Aragão foi duramente criticado na internet por uma declaração na qual dizia que antigamente, negros e gays não se ofendiam com as piadas feitas sobre eles. Retornando ao atentado ao jornal francês, após o ataque, milhares de mensagens, inclusive brasileiras, classificavam o episódio como sendo um "atentado à liberdade de expressão". Ora, caro leitor, o elemento que motivou as mortes em Paris foi uma charge, ou seja, uma piada, sobre a religião Islâmica. Se uma piada sobre a religião Islâmica é considerada liberdade de expressão, porque uma piada sobre negros ou gays também não é?

Repito para o leitor desatento: o atentado terrorista em Paris é injustificável, brutal, condenável e inadmissível em qualquer hipótese. O ponto central da discussão do texto é o que as pessoas estão chamando de "liberdade de expressão". Da mesma forma que piadas sobre negros, gays, pobres e etc. são condenáveis, piadas de cunho religioso, onde o Islã se encontra, também são! Não é pelo fato de não me sentir ofendido que posso caracterizar as charges do "Charlie Hebdo" como liberdade de expressão. Se por acaso eu o fizer, abro um precedente perigoso para um racista alegar estar apenas exercendo sua liberdade de dizer o que bem entender.

Como tudo na vida, a liberdade de expressão também possui um limite. O limite da liberdade de expressão é o respeito. Eu posso dizer tudo para todos desde que não fuja do respeito com o próximo. Portanto, da mesma forma que uma piada racista e homofóbica extrapola o limite do respeito, uma charge debochando de uma religião também.

Entretanto, o que mais me incomodou nessa história de "liberdade de expressão" foi a hipocrisia de várias pessoas defendendo uma charge ofensiva como liberdade de expressão. O engraçado é que o "politicamente correto" simplesmente desapareceu ultimamente. De uma hora para outra, as pessoas ficaram liberais e adeptas a qualquer tipo de manifestação. Gostaria de saber até quando tais cidadãos continuarão a defender a "liberdade de expressão".

Porém, essa minha indagação é tola e muito simples de ser respondida: até quando tais pessoas sentirem-se ofendidas. É muito fácil defender a "liberdade de expressão" de algo que não me ofende. É banal achar ridículo os islâmicos se ofenderem por uma simples charge sobre Maomé, da mesma forma, os islâmicos nos acham ridículos por brigarmos e matarmos por causa de um time de futebol.

Em uma sociedade repleta de hipocrisia, muitos, como Renato Aragão, irão dizer: "mas antigamente podia fazer piada e ninguém se ofendia". Os que possuem tal argumento estão corretos, entretanto, antigamente as pessoas também podiam andar durante a noite, deixar as portas da frente da casa abertas, ter relação sexual sem camisinha sem medo de AIDS e confiar cegamente na palavra de um estranho, porém, não é porque antigamente se podia que hoje nós fazemos. Durante os anos, a sociedade mudou: se não posso caminhar durante a noite, se não posso deixar minha porta aberta, se não posso ter relação sexual sem medo da AIDS e se também não posso confiar cegamente na palavra de um estranho, eu também não posso continuar fazendo as mesmas piadas ofensivas.

Uma das primeiras regras de Nicolau Maquiavel em "O Príncipe" é para não solucionar erros com novos erros. Se a sociedade errava no passado com as piadas racistas, não devemos justificar esse erro com novos erros, pois estaremos agindo da mesma forma que os terroristas em Paris: buscaram a solução de um erro (a charge ofensiva) com outro erro. A solução para o problema em questão é simples porém, complexa: respeito. Portanto, antes de ficarmos com a jacobice em dizer "um atentado contra a liberdade de expressão", devemos erguer e bradar a bandeira do: menos hipocrisia e mais respeito!

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