quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

De quem é a culpa?

No último mês de dezembro, o desenho animado "Os Simpsons" completou 25 anos de exibição nos Estados Unidos. O desenho é um sitcom que retrata a vida da família Simpsons, um retrato dos lares da classe média americana que representa com precisão os desafios da vida de qualquer cidadão da classe média no mundo. O protagonista da animação, o pai de família Homer, é dono dos momentos mais cômicos do programa, sendo dono da memorável frase "a culpa e eu coloco ela em quem eu quiser!".

A célebre frase de Homer não poderia corroborar de forma melhor com Oscar Wilde e sua famosa expressão "a vida imita a arte (...)". O melhor exemplo atual de "vida imitando a arte" é a crise hídrica em São Paulo. A população, no caso os consumidores de água, colocam a culpa no Estado; o Estado, por sua vez, coloca a culpa em São Pedro; já São Pedro, por intermédio dos ambientalistas e alguns pesquisadores, coloca a culpa de volta na população dando novamente início ao processo de transferência de culpa.

Todos estão transferindo a culpa para terceiros, pois acham que dessa forma não terão o ônus da responsabilidade recaindo sobre suas costas. Entretanto, mesmo os eximidos também terão contrapartidas a serem pagas. Portanto, mesmo os consumidores jogando toda a culpa para a responsabilidade do Estado, seja federal ou estadual, eles também terão sua responsividade.

O termo "responsividade" possui várias definições, uma delas refere-se a algo que traga e tenha resposta. Porém, a resposta pode não ser clara e nem fácil de ser dada. No caso da responsividade dos consumidores frente à crise hídrica, a provável resposta é enganosa por ser aparentemente simples: racionalização de consumo.

Entretanto, apenas racionalizar o consumo pode não ser a responsividade esperada. O professor da PUC Goiás, Altair Sales Barbosa argumenta que os problemas com os reservatórios de água são irreversíveis por conta da destruição do Cerrado. Porém, o argumento do professor é questionável: Euclides da Cunha em "Os Sertões" argumenta que os períodos de seca são cíclicos. Ademais, algumas pessoas questionam a existência do aquecimento global, e outras até afirmam que o planeta está, na verdade, resfriando.

O debate sobre o clima chega a ser até mais complexo do que a discussão se comer ovo faz bem ou faz mal. Por conta de sua complexidade, a responsividade dos consumidores é igualmente complicada. Antes de falarmos sobre racionamento, é preciso discutir qual o papel dos consumidores no mercado.

A pauta de discussão presente está centrada em três pontos: de quem é a culpa, quando vai chover e racionamento de água. Todavia, não há nenhum questionamento sobre qual o papel dos consumidores perante a situação. Enquanto os consumidores não estiverem muito claros sobre suas funções e como desempenhá-las, a responsividade será inexistente.

Muito além da questão simples do racionar o consumo de água, os consumidores devem entender que deverão mudar seu comportamento de consumo. Portanto, a discussão não é o quanto a torneira ficará aberta, mas sim a necessidade dela em ser aberta. Caminhamos, inexoravelmente, para um comportamento de consumo semelhante ao europeu.

Quem já teve a oportunidade de utilizar banheiros públicos ou de hotéis no velho continente sabe como são as instalações. Os poderosos chuveiros dão lugar a um chuveirinho um pouco mais largo e com mais pressão que uma ducha íntima, a descarga dos vasos sanitários, por sua vez, não são afixadas na parede, mas sim caixa acoplada para uma maior eficiência no uso da água. Maior eficiência no uso hídrico que já começa a aparecer em nossos banheiros.

A preocupação com a quantidade de água utilizada pela descarga é um indício de um movimento em direção a uma mudança de comportamento. Porém, esse papel não está claro na mente dos consumidores. Cada pessoa tem que ter intimamente qual a sua real necessidade em abrir uma torneira, se isso não for presente, todo o debate sobre consumo de água será em vão e nem mesmo medidas como a cobrança pelo uso da água e não somente pela sua distribuição terão efeito.


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