quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O que o povo brasileiro quer?

Um dos grandes problemas que a Administração possui é a hipocrisia. Nas aulas dos cursos de administração é normal, principalmente nas disciplinas de marketing, o aprendizado sobre o conceito de miopia de marketing. Miopia de marketing é, basicamente, uma visão limitada sobre algo que impossibilita o vislumbre de oportunidades. Uma das formas de evitar a miopia de marketing é olhar para além do produto ou serviço oferecido. Se a Administração ensina sobre miopia de marketing, porque ela não se define para além do "planejar, dirigir, organizar e controlar"?

A definição do "planejar, dirigir, organizar e controlar" é algo extremamente míope e simplista que reduz a importância da Administração. A Administração, na verdade, gerencia comportamentos. Entretanto, para gerenciar um comportamento é necessário, antes tudo, entende-lo.

Mesmo a definição de "gerenciar comportamentos" também está sujeita à miopia. Não devemos nos limitar apenas ao gerenciamento comportamental interno, mas também incluir a gerência do comportamento externo à organização, ou seja, o comportamento dos clientes. Em um contexto bem mais amplo, o comportamento da sociedade em geral. Por essa razão, o estudo da sociologia é tão crucial para um futuro administrador, pois só assim ele entenderá o contexto que a sociedade está e entenderá o que o cliente quer, como quer e quando quer.

O estudo da sociologia também é crucial para entendermos o caminho para o qual a sociedade brasileira está caminhando. Recentemente, muito tem se falado sobre a redução no consumo dos brasileiros e no endividamento das famílias, isso é verdade. Para enfrentarmos a crise de 2008, o governo do ex-presidente Lula incentivou o consumo de carros e de produtos chamados de "linha branca" (fogão, geladeira e máquina de lavar). O resultado disso foi um endividamento das famílias e uma redução no consumo.

Daqui a alguns anos, com as dívidas pagas, os brasileiros voltarão a ter condições de consumir. Entretanto, já terão em suas casas, carro, celular, televisor, geladeira e máquina de lavar, fora à casa própria adquirida pelo programa "Minha Casa Minha Vida". Com os produtos básicos já conquistados e com uma estabilidade do lar formada, os brasileiros poderão se preocupar com outras necessidades cotidianas e almejar o consumo de novos produtos antes impensáveis, como a educação e saúde.

É óbvio que esse carro, essa geladeira, esse celular, essa máquina de lavar e esse televisor terão que ser trocados um dia, mas a preocupação não é mais "ter" e sim "repor" o que já tem. A atenção dos brasileiros se voltará para aquisição de produtos e investimentos pessoais mais complexos. Nestes produtos e investimentos complexos, pode-se incluir educação e saúde.

Tal movimento também é relevante para o governo. Agora que boa parcela da população já possui os bens necessários para uma vida digna, o Estado poderá direcionar seus esforços e recursos para atender a necessidade e o anseio populacional por saúde e educação. As organizações também poderão se beneficiar de tal momento ao aproveitarem tal demanda populacional por saúde e educação.

Porém, o principal ganhador dessa nova demanda dos brasileiros é o país de um modo geral. Com um nível educacional maior, o Estado ganha com uma população mais alfabetizada, as organizações ganham com funcionários mais capacitado, as camadas mais baixas ganham com uma possibilidade real de ascensão social e as camadas mais altas ganham em uma maior capacitação nos serviços adquiridos.


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