quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Qual é o semblante do perdedor?

Michelangelo Merisi da Caravaggio, ou simplesmente Caravaggio, foi um importante pintor do final do século XVI e início do século XVII. Nascido na Itália, Caravaggio foi um dos precursores do estilo barroco, sendo o seu primeiro grande representante. Pautado na temática religiosa, Caravaggio buscava uma pintura com representações mais realistas, não omitindo a feiura e deformações em cenas provocantes, deixando seus contemporâneos em choque com seus traços rudes e efeitos tenebrosos com fortes contrastes de luz.

Em sua obra "David com a cabeça de Golias", que ilustra o artigo, Caravaggio faz uso de uma de suas principais características: a retratação de pessoas em suas obras inspirado por cidadãos comuns da sociedade em que morava; no caso da obra, sua própria cabeça é a cabeça de Golias. Vale notar também o forte contraste de cores entre o escuro e o claro. Caravaggio sempre dava a seus quadros fundos escuros e rasos, o que atrai o observador para dentro da cena: David, um pastor, matou Golias, um gigante filisteu que sempre zombava dos homens israelitas. Para tanto, David fez uso da própria espada do gigante, empunhada em sua mão direita, enquanto a esquerda ergue a cabeça decapitada de Golias que observa com olhos incrédulos sua improvável derrota.

A cabeça com expressões incrédulas de Golias representa exatamente as feições que você apresenta quando é pego de surpresa por algum fato ou acontecimento. Já David é a realidade que chega para decepar suas interpretações equivocadas, e para tanto, o faz empunhando a própria espada do equivocado, forjada em um combinado de arrogância, presunção e preguiça germinadas por uma errônea interpretação dos fatos.

Muitas "cabeças de Golias" aparecem constantemente. Um fato que provocou muitas "cabeças decepadas" foi a eleição presidencial ocorrida no última dia 05 de outubro. Não foram poucos os surpreendidos pelo resultado final e, principalmente, pelo mergulho rumo ao abismo da candidata Marina Silva.

O ocorrido no episódio da eleição deve ser tirado como uma lição tanto para a vida profissional quanto pessoal. O alarde causado pelo resultado da primeira pesquisa divulgada pela imprensa agiu como um flash de uma polaroide, ofuscando momentaneamente, não a visão, mas o bom senso das pessoas. A impressionante porcentagem da candidata eclipsou a verdade e os "analistas", presunçosos e, principalmente, preguiçosos, contrariaram a máxima de que nenhuma verdade é inquestionável.

O episódio eleitoral é apenas um mero exemplo de situação ofuscante da verdade. Uma mentira contada várias vezes torna-se verdade, da mesma forma que um fato corroborado por várias pessoas também torna-se absoluto. Com tantas pessoas impressionadas e certas de algo, fica difícil contrariar a massa e dizer que todos estão errados. Se somente eu penso diferente, como posso estar certo?

Para ter convicção da certeza, o primeiro passo é investigar a verdade. Porém, nem sempre a verdade é algo fácil de ser encontrado. Na linha anterior, omiti um passo anterior ao primeiro passo. Antes de investigar a verdade, é necessário ter em mente que todas as informações recebidas possuem um arcabouço não revelado e, muitas vezes, difícil de ser atingido. Infelizmente, é exatamente nesse arcabouço que se encontra a verdade.

Não vou mentir ao dizer que é fácil encontrar a verdade. Mesmo porque, a verdade não é absoluta e depende do posicionamento da pessoa que a tem. O que é verdadeiro para mim, pode ser mentira para você. O alerta deixado por mim é a cautela em não ser Golias, o qual mesmo depois de decepado pela realidade, ainda preserva seu semblante de surpresa e derrota, traços característicos de um perdedor.

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