quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Por que o Pato não deu certo?

No dia 2 de janeiro de 2013, Alexandre Pato, então jogador do A.C. Milan da Itália, anunciou sua transferência para o Corinthians por um valor de 15€ milhões. A transação efetuada pelo time de São Paulo quebrou todos os recordes, sendo a compra mais cara da história de um clube de futebol brasileiro.

A estratégia adotada pelo Corinthians era, além do rendimento em campo, poder extrair ao máximo a imagem do jogador com ações para aumentar o valor da marca do clube e, em seguida, alavancar as vendas de produtos licenciados. Desde a aposentadoria de Ronaldo Fenômeno, o Corinthians buscava incansavelmente um substituto como "garoto propaganda" do time para utilizá-lo como atrator de patrocínios e exposição midiática. Entretanto, a estratégia corintiana naufragou e o retorno do investimento de 15€ milhões não veio da forma esperada. Atualmente emprestado ao rival São Paulo, diretores corintianos já buscam estratégias de como reduzir os enormes prejuízos pela compra de Alexandre Pato.

O mais curioso de toda a história de Alexandre Pato no Corinthians são seus números. Muito criticado pela torcida pela apatia em campo, Pato, ao menos, poderia alegar que os números estão ao seu favor: ao longo de 57 defendendo a escudeira corintiana no ano de 2013, Pato anotou 17 gols, um a menos do que Paolo Guerreiro, o artilheiro do time na temporada jogando 46 partidas. Porém, se formos analisar a quantidade de minutos jogados por Pato e Guerreiro, podemos ver uma diferença de 660 minutos a favor de Guerreiro. A diferença de minutos, mesmo possuindo mais jogos, ocorre porque Alexandre Pato, em boa parte dos jogos, foi reserva da etapa, sendo utilizado apenas em determinados momentos da partida.

Pela fria análise dos números apresentados, é plausível dizer que Alexandre Pato foi muito mais eficiente do que Paolo Guerreiro, o artilheiro do Corinthians em 2013. Pois, 660 minutos correspondem a mais de 7 jogos de diferença entre ambos. Podemos concluir então que a eficiência em campo não contribuiu para a não afirmação de Alexandre Pato como jogador do Corinthians. Porém, se o desempenho em campo não foi o fator primordial que resultou na saída do jogador, qual foi? 

O funcionário Alexandre Pato não deu certo porque sua identidade não era compatível com a identidade da organização para a qual trabalhava; era comum ouvir jornalista dizendo: "o Pato não tem a cara do Corinthians". Para o senso comum, identidade é o conjunto de caracteres próprios e exclusivos com os quais se podem diferenciar pessoas, animais, plantas e objetos inanimados uns dos outros, quer diante do conjunto das diversidades, quer ante seus semelhantes. Já para a antropologia, identidade tem um significa diferente: consiste na soma nunca concluída de um aglomerado de signos, referências e influências que definem o entendimento relacional de determinada entidade, humana ou não-humana, percebida por contraste, ou seja, pela diferença ante as outras, por si ou por outrem. Portanto, Identidade está sempre relacionada à ideia de alteridade, ou seja, é necessário existir o outro e seus caracteres para definir por comparação e diferença com os caracteres pelos quais me identifico.

O conceito de identidade é de suma importância e o caso de Alexandre Pato com o Corinthians é um ótimo exemplo. Muitas organizações contratam funcionários, modulam estratégias, fazem aquisições ou lançam novos produtos e serviços sem considerar se a sua identidade é compatível com aquilo que está sendo efetuado. O capital investido é enorme, no caso do Corinthians, 15€ milhões, para "dar com os burros n'água".

Diferentemente do caso do Corinthians, muitos equívocos identitários são irreparáveis. Dependendo dos caminhos escolhidos, a organização pode perder sua identidade e acabar indo a falência. No caso das pessoas, o problema torna-se pior: se uma organização deixar de existir, outra pode abrir em seu lugar, até mesmo perdas de capital podem ser recuperadas, entretanto, o tempo é algo irrecuperável.

A ideia de que "os opostos se atraem" é a maior falácia já contada pela humanidade. Trabalhar em uma organização com identidade diferente da sua, ou até mesmo ter um relacionamento com alguém identitariamente diferente, pode ser algo extremamente desgastante do ponto de vista energético. E o mais grave: o tempo perdido com equívocos de identidade não é recuperável.

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