Talvez,
o ministro pudesse até interagir se o fizesse de forma técnica: agradeceria o
apoio e reiteraria a importância da operação Lava Jato da qual já não faz mais
parte. Entretanto, Moro optou por uma resposta alusiva a Bíblia ao escrever "eu
vejo, eu ouço, eu sei". Em Êxodo 3:7, está escrito “disse o Senhor: ‘de
fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, tenho escutado o seu
clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo. ’”
A
alusão religiosa não é o primeiro ato político do ministro Sérgio Moro. Em
pouquíssimo tempo, Moro foi ao jogo do Flamengo, cogitou participar da Marcha
para Jesus, esteve no Programa do Ratinho e tratou de afagar o MBL após o The
Intercept divulgar mensagens onde o ministro chama os membros do movimento de “tontos”.
Aos
poucos, Sérgio Moro começa a surgir como um político para a direita democrática
chamar de seu. Nas eleições de 2018, a direita democrática precisou engolir
goela abaixo Bolsonaro, um extremista de direita, para evitar a vitória da
esquerda no pleito. Passados seis meses de governo, a direita democrática
abandonou e continua a abandonar o governo Bolsonaro, relegando-o ao apoio dos
extremistas e religiosos.
A
figura de João Doria, governador de São Paulo, também é vista com bons olhos
pela ala menos extrema da direita. Entretanto, a concentração de Doria no
Estado de São Paulo evita que o governador paulista tenha a abrangência nacional
necessária, apesar do Estado possuir eleitores de todo o país. Seria
praticamente impossível João Doria mobilizar a quantidade de pessoas que Moro
mobilizou ontem em seu apoio em várias cidades brasileiros.
Até
mesmo o número inferior de manifestantes no dia 30 de junho em comparação com
as manifestações do dia 26 de maio são indicadores positivos para Sérgio Moro. É
bom destacar que as manifestações de junho foram apoiadas pelo MBL. Acreditar que
a presença do movimento esvaziaria as manifestações ao invés de enchê-las é erro
interpretativo. Se as manifestações de maio foram para apoiar Bolsonaro, é
possível crer que havia uma grande presença de extremistas e neopentecostais.
Já as manifestações de junho, esvaziadas por parte desses grupos, seriam
compostas em grande maioria por liberais da direita democrática.
Bolsonaro,
atento ao sinal das ruas, percebeu a possibilidade de estar chocando um ovo de
serpente. Ao tentar chocar um galo para sua sucessão em 2026, o presidente pode
estar chocando uma serpente que o devorará em 22. Em suas declarações após as
manifestações, o presidente elogiou a presença da população nas ruas sem citar
o nome de seu ministro mais popular.
Ao
declarar publicamente que possuía um acordo prévio para indicar Moro ao STF,
Bolsonaro liquidou com quaisquer aspirações do ministro da Justiça de conseguir
uma vaga no Supremo. Sem a possibilidade do STF, Moro não possui outra
alternativa a não ser disputar a cadeira de presidente.
Seja
por opção ou por imposição, Moro é agora um político definitivo.
Como
político, resta saber se a parcialidade nos julgamentos da operação Lava Jato
seria algo negativo. Obviamente, enquanto Sérgio Moro técnico em Direito,
descumprir o artigo 254 do Código do Processo Penal é uma violação grave. Entretanto,
enquanto político, descumprir o artigo 254 do Código do Processo Penal pode ser
visto como um ato de bravura de um homem que passa por cima até das regras para
combater o grande mal do país que é a corrupção.
Em
um país onde melhorar saúde e educação está em segundo lugar nas prioridades nacionais
e o combate à violência, onde está o combate à corrupção, é o anseio número um
dos brasileiros, ter um político que quebra as regras para punir os corruptos
que criam as regras para se protegerem pode ser um ativo político essencial em
uma eleição.
Moro não tem outra escolha, depois de tudo que lhe aconteceu, após aceitar o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro.
ResponderExcluirSérgio Moro já é uma serpente para o presidente.