segunda-feira, 1 de julho de 2019

Sérgio Moro virou político

Sérgio Moro já não é mais aquele técnico em Direito que costumeiramente foi apresentado por Bolsonaro no final de 2018. Após as manifestações do dia 30 de junho, Moro entrou definitivamente para a política ao se assumir político. Se Moro continuasse sendo a figura técnica que dizia ser, o ministro jamais interagiria, via rede social, com os manifestantes que entoaram o seu nome em mais de 80 cidades.

Talvez, o ministro pudesse até interagir se o fizesse de forma técnica: agradeceria o apoio e reiteraria a importância da operação Lava Jato da qual já não faz mais parte. Entretanto, Moro optou por uma resposta alusiva a Bíblia ao escrever "eu vejo, eu ouço, eu sei". Em Êxodo 3:7, está escrito “disse o Senhor: ‘de fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo. ’”

A alusão religiosa não é o primeiro ato político do ministro Sérgio Moro. Em pouquíssimo tempo, Moro foi ao jogo do Flamengo, cogitou participar da Marcha para Jesus, esteve no Programa do Ratinho e tratou de afagar o MBL após o The Intercept divulgar mensagens onde o ministro chama os membros do movimento de “tontos”.

Aos poucos, Sérgio Moro começa a surgir como um político para a direita democrática chamar de seu. Nas eleições de 2018, a direita democrática precisou engolir goela abaixo Bolsonaro, um extremista de direita, para evitar a vitória da esquerda no pleito. Passados seis meses de governo, a direita democrática abandonou e continua a abandonar o governo Bolsonaro, relegando-o ao apoio dos extremistas e religiosos.

A figura de João Doria, governador de São Paulo, também é vista com bons olhos pela ala menos extrema da direita. Entretanto, a concentração de Doria no Estado de São Paulo evita que o governador paulista tenha a abrangência nacional necessária, apesar do Estado possuir eleitores de todo o país. Seria praticamente impossível João Doria mobilizar a quantidade de pessoas que Moro mobilizou ontem em seu apoio em várias cidades brasileiros.

Até mesmo o número inferior de manifestantes no dia 30 de junho em comparação com as manifestações do dia 26 de maio são indicadores positivos para Sérgio Moro. É bom destacar que as manifestações de junho foram apoiadas pelo MBL. Acreditar que a presença do movimento esvaziaria as manifestações ao invés de enchê-las é erro interpretativo. Se as manifestações de maio foram para apoiar Bolsonaro, é possível crer que havia uma grande presença de extremistas e neopentecostais. Já as manifestações de junho, esvaziadas por parte desses grupos, seriam compostas em grande maioria por liberais da direita democrática.

Bolsonaro, atento ao sinal das ruas, percebeu a possibilidade de estar chocando um ovo de serpente. Ao tentar chocar um galo para sua sucessão em 2026, o presidente pode estar chocando uma serpente que o devorará em 22. Em suas declarações após as manifestações, o presidente elogiou a presença da população nas ruas sem citar o nome de seu ministro mais popular.

Ao declarar publicamente que possuía um acordo prévio para indicar Moro ao STF, Bolsonaro liquidou com quaisquer aspirações do ministro da Justiça de conseguir uma vaga no Supremo. Sem a possibilidade do STF, Moro não possui outra alternativa a não ser disputar a cadeira de presidente.

Seja por opção ou por imposição, Moro é agora um político definitivo.

Como político, resta saber se a parcialidade nos julgamentos da operação Lava Jato seria algo negativo. Obviamente, enquanto Sérgio Moro técnico em Direito, descumprir o artigo 254 do Código do Processo Penal é uma violação grave. Entretanto, enquanto político, descumprir o artigo 254 do Código do Processo Penal pode ser visto como um ato de bravura de um homem que passa por cima até das regras para combater o grande mal do país que é a corrupção.

Em um país onde melhorar saúde e educação está em segundo lugar nas prioridades nacionais e o combate à violência, onde está o combate à corrupção, é o anseio número um dos brasileiros, ter um político que quebra as regras para punir os corruptos que criam as regras para se protegerem pode ser um ativo político essencial em uma eleição.

Um comentário:

  1. Moro não tem outra escolha, depois de tudo que lhe aconteceu, após aceitar o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro.
    Sérgio Moro já é uma serpente para o presidente.

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