quarta-feira, 24 de julho de 2019

A destruição do messias Jair Messias

O presidente Jair Bolsonaro deixou claro que pretende disputar a reeleição em 2022. O cenário de 22 vai ser completamente diferente do encontrado em 2018 e o presidente sabe disso. A mesma conjuntura que o levou à vitória em 2018 dificilmente irá ocorrer porque Bolsonaro já não é mais “pedra” e sim “vidraça” e a direita terá João Doria para rivalizar com o presidente.

Sabendo disso, Bolsonaro precisa mudar sua estratégia de atuação eleitoral para conseguir ser vitorioso em 2022.

Para tanto, Bolsonaro iniciou um processo de destruição das instituições e organizações. A política de destruição não será de terra arrasada, com prédios no chão e economia em frangalhos, porque não será física, mas sim moral. Bolsonaro quer destruir a crença que a população possui com as instituições para mostrar que elas são contra ele e, portanto, inimigas do povo e da “revolução” que o presidente vem propondo.

São as instituições que permitem maconha e casamento gay (STF), que proíbem o cidadão portar arma (Congresso), que multa os produtores rurais por estarem produzindo e gerando riquezas para o país (IBAMA), que atrapalha remédios já testados em outros países serem negociados no Brasil (ANVISA), que multa o carro do cidadão na estrada (DETRAN) e etc.

Há um processo de desacreditação institucional com quebra de ritos e liturgias.

Recentemente, Bolsonaro disse que indicará seu filho Eduardo Bolsonaro para a vaga de embaixador brasileiro nos EUA. A embaixada nos EUA é a mais importante dentre todas as embaixadas e é ocupada por diplomatas rodados, experientes e com currículo robusto costumeiramente. Ao indicar o filho, Bolsonaro atropela a tradição, indicando alguém sem experiência internacional e sem o currículo necessário, pois o próprio Eduardo disse que sua experiência internacional é fritar hambúrgueres.

A própria postura do presidente que recebia ministros vestindo moletom, agasalho e camiseta falsificada do Palmeiras e fala impropérios em suas entrevistas é uma forma de passar por cima das instituições e formalidades.

No rolo compressor bolsonarista, nem os eleitores estão a salvo. Em live divulgada no Facebook, Bolsonaro desdenhou os seus eleitores que eventualmente poderiam abandoná-lo por conta da indicação do filho à embaixada.

Nem a religião escapa do processo de destruição, sendo utilizada como britadeira pelo presidente. Nunca um presidente utilizou tanto o discurso e o apoio religioso de modo explícito no período da redemocratização. Bolsonaro mistura o céu e a terra ao trazer a religião para a política, lançando certo grau de irracionalidade propagada por pastores “messiando” o messias Jair Messias.

O “terceiro turno”, promovido por ele e não pela oposição, serve para perpetuar um estado perpétuo de conflito entre ele e as instituições, passando a mensagem de uma constante luta pelo progresso que nunca chegará por conta da ação da “velha política”.

Nas manifestações pró-governo, é comum a presença de cartazes contra o Legislativo e contra o STF, indicando que tais organizações já não valem mais nada para essas pessoas. Apenas o messias Jair Messias pode comandar o Brasil com sua sapiência messiânica.

Pelo fato de ter sido considerado o candidato contra o sistema, Bolsonaro precisa destruí-lo para mostrar aos eleitores que algo foi feito. A questão é se Bolsonaro vai destruir demais.

Um comentário:

  1. Olá professor Leonardo. Estou preferindo acompanhar suas ideias em formas de textos. Um abraço.

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