Lula nunca esteve tão
fraco e tão forte ao mesmo tempo.
Lula mostrou, com o
episódio do sepultamento do neto, que desperta enorme emoção nacional sem falar.
Somente a imagem de Lula é capaz de provocar emoções. Em alguns casos, apenas a
palavra lula já é suficiente.
Pessoas que nem sabiam
da existência de Arthur choraram a morte do neto. Desafetos e opositores se
emocionaram e lamentaram o falecimento do menino. Por outro lado, religiosos e
cristãos, pessoas que deveriam se sensibilizar com a morte, comemoram a dor do
ex-presidente como se Lula tivesse que pagar pelos seus atos com sua vida e com
a vida de seus entes, mesmo já estando cumprindo sua pena encarcerado.
Somente alguém cuja
imagem transcendeu o corpo do homem e se transformou em símbolo ou mito seria
capaz de provocar tanta emoção negativa ou positiva nas pessoas. É um carisma
natural, um dom divino muito raro que poucas pessoas possuíram, possuem e
possuirão.
Ciro Gomes, principal
concorrente de Lula para liderar a oposição ao governo de Jair Bolsonaro, não
possui, nem de longe, tal carisma “lulístico”. O pedetista precisa de um
esforço quintuplicado para convencer as pessoas de sua figura. Ciro Gomes tem
andado o Brasil concedendo entrevistas em rádios, aparecendo em palestras e
promovendo seminários para convencer a população de que é o líder mais
preparado e capacitado para a oposição e para a esquerda. Entretanto, com um
décimo do esforço e com apenas poucas palavras, Lula teria um resultado muito
melhor.
Há uma identificação
natural do brasileiro com o ex-presidente Lula que não há com nenhum outro
político na atualidade. Lula é a síntese do Brasil e do brasileiro. Todos nós
somos ou fomos Lula em algum momento da nossa história porque a história de
Lula é igual a nossa.
Lula veio de uma
família de imigrantes de Garanhuns, uma cidade do interior de Pernambuco. Com
apenas sete anos de idade, a mesma do neto falecido, Lula veio com sua família,
liderada pela mãe, para o litoral de São Paulo em busca de melhores condições
de vida. Uma história que poderia ser a nossa própria história porque somos um
povo de imigrantes. Mesmo que não sejamos nordestinos que vieram para o Sudeste
em busca de melhores condições, em algum ponto do passado das nossas famílias,
italianos, portugueses, árabes, espanhóis, alemães e asiáticos imigraram para o
Brasil em busca de melhores condições de vida.
Com mais ou menos
intensidade, nós olhamos para Lula e nos reconhecemos porque, em algum nível,
somos também imigrantes em busca de melhores condições de vida.
Em seu discurso antes
de ser preso, Lula disse a frase “todos vocês são Lula”. O ex-presidente nunca
esteve tão certo porque a sua história provoca uma identificação natural porque
sentimos em Lula o sentimento do brasileiro. Nós e a nossa história somos Lula.
Se toda a trajetória de
vida já não fosse suficiente para causar identificação entre Lula e o povo
brasileiro, no final de sua vida há o processo judicial e a condenação que
muitos julgam como sendo sem provas, incluindo personagens da direita. Um
típico caso de opressão e perseguição do Estado que todos nós brasileiros
sentimos diariamente quando saímos para a rua. Segundo o antropólogo Roberto
DaMatta, a rua é, na visão do brasileiro, o ambiente onde somos oprimidos e
perseguidos pelas leis injustas impostas pelo Estado apenas para nos prejudicar,
as mesmas leis que perseguem e oprimem Lula. Para muitas pessoas, suas vidas se
tornam cada vez mais parecidas com Lula, causando uma identificação cada vez
mais intrínseca.
Quanto mais o homem
Lula sofre e se enfraquece, mais forte o símbolo Lula fica. Lula não precisa
falar, Lula não precisa ser visto e Lula não precisa existir porque todos nós
somos Lula em algum nível.
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