domingo, 24 de março de 2019

Intimidador espetáculo da Lava Jato precisa de The Rock


A Schutzstaffel, ou SS, era uma organização paramilitar do governo nazista de Adolf Hitler. O grupo começou pequeno e foi ganhando adeptos, exercendo enorme força política durante o Terceiro Reich. Administrada pela SS, a Gestapo era a polícia secreta do Estado alemão e funcionava também como um elemento de controle político através da pressão. Ela era a garantia do domínio da população pelo partido nazista.

Com a prisão do ex-presidente Michel Temer, surge o temor, em mim pelo menos, que a Operação Lava Jato ganhe características de Gestapo. Obviamente, a Lava Jato não irá utilizar métodos bárbaros de tortura e intimidação populacional utilizados pela Gestapo. Porém, ela pode ser utilizada como instrumento de perseguição a políticos contrários ao governo. Assim, o político não seria julgado pelos seus crimes, mas sim pelo seu apoio. Portanto, ele poderia cometer todas as fraudes contanto que fosse subserviente ao governo do momento.

Tal artifício de intimidação seria semelhante ao esquema do Mensalão. O Mensalão deixava o Congresso submisso ao Palácio do Planalto pelo dinheiro e a Lava Jato deixaria os deputados à mercê do presidente da república pelo medo da prisão. Das duas formas a democracia acaba porque o Executivo subjuga o Legislativo.

A diferença entre o Mensalão e a Lava Jato é o apoio popular recebido pela operação que “limpou o Brasil”. A Lava Jato possui respaldo e legitimidade popular para atuar da forma como atua. Além da sensação da população de “justiça sendo feita”, mesmo a qualquer custo, ela possui um elemento essencial ao mundo pós-moderno: o espetáculo.

No mundo atual, o consumo é o consumo do espetáculo. Os produtos estão expostos nas vitrines e gôndolas em um sedutor ballet que é transferido para nossos lares para a continuação do espetáculo. O produto que garantir o maior espetáculo, seja na compra ou no consumo, será adquirido. O consumo deixa de existir pelo conteúdo interno do produto e passa para a projeção exterior. Ou seja, o conteúdo do produto não importa contanto que ele garanta o show.

A prisão preventiva de Michel Temer foi exatamente isso: um show. A prisão foi um espetáculo cinematográfico com força tática fortemente armada, musculosa, tatuada e com blindados cortando a cidade como um filme do cineasta Michael Bay. Os vídeos e a cobertura dos jornais davam a impressão que Vin Diesel e The Rock iriam surgir no melhor estilo “velozes e furiosos” a qualquer instante. Um possível exagero para uma prisão preventiva de um idoso de quase 80 anos.

O conteúdo do processo não interessa. A legalidade da prisão é irrelevante. A coincidência do momento político conflitante entre Sérgio Moro e Rodrigo Maia é apenas casualidade. Tudo é permitido contanto que haja um espetáculo a ser consumido. Se a Lava Jato deixar de ser midiática, ela deixa de ser relevante. Portanto, é necessário que, de tempos em tempos, haja alguma prisão espetacular.

A prisão preventiva de Temer é ilegal, dizem especialistas, mas possui respaldo da população. Mesmo com provas frágeis, o povo aprova a prisão porque já está sedimentado na cabeça do brasileiro que todo político é corrupto. Consequentemente, mesmo não havendo provas concretas em seu processo, ele merece ser punido por ser político e, logo, corrupto.

Para piorar, qualquer pessoa crítica ou contrária aos métodos da Lava Jato é um legitimador da corrupção da classe política. O pensamento crítico morre em detrimento ao espetáculo.

Está criado o cenário perfeito para haver intimidação e pressão política do governo, seja ele qual for, com os parlamentares. A prisão pode ocorrer desde que seja legitimada pelo espetáculo apresentado à população.

Para finalizar, é sempre pertinente ressaltar: os políticos corruptos devem ser investigados, julgados e punidos pelos seus atos. Justiça seletiva contra aqueles contrários ao Executivo é uma afronta a democracia porque, em tal situação, o político tem a liberdade para cometer delitos contanto que siga as diretrizes do governo do momento.

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