Em uma época onde os
meios de comunicação eram precários, antes mesmo do início da comunicação em
massa, a Igreja Católica conseguiu se notabilizar pela sua unidade universal da
mensagem. Semanalmente, todos os padres do mundo inteiro e de qualquer idioma
transmitem rigorosamente a mesma mensagem para os fieis católicos. A mesma
mensagem transmitida para o fiel na celebração no Vaticano é passada para o
fiel da cidadezinha no interior de Minas gerais, proporcionando um poder de
influência organizacional muito grande.
Com o advento da
comunicação em massa, a Igreja Católica, e as igrejas de um modo geral,
começaram a perder o seu poder de influência. Entretanto, continuam sendo poderosas
agentes influenciadores mesmo não possuindo a mesma força do passado,
principalmente as Igrejas Evangélicas no Brasil que têm crescido em número de
fieis ano após ano.
De acordo com o último
senso demográfico realizado pelo IBGE em 2010, a proporção de evangélicos no
Brasil passou de 15,5% em 2000 para 22,2% em 2010. Em contrapartida, o número
de católicos caiu de 73,7% em 2000 para 65% em 2010, mantendo a tendência de
queda das duas décadas anteriores. Se a tendência de queda dos católicos e a
tendência de alta dos evangélicos forem mantidas, é possível que a haja uma
mudança na maioria religiosa do país.
Alguns especialistas já
questionam os dados do senso 2010 porque muitos católicos não são praticantes,
tornando os evangélicos como a maioria religiosa ativa no país.
O crescimento dos
evangélicos ocorreu de forma acentuada nas áreas periféricas das grandes cidades
como São Paulo e Rio de Janeiro, emergindo das próprias pessoas da comunidade
local. Muitos pastores e bispos evangélicos são negros e oriundos do bairro e
da comunidade local, preservando as raízes locais e provocando elevada
identificação com os fieis. Diferentemente do catolicismo que possui poucos sacerdotes
negros e ligados ao seu local de origem.
Tal ligação com a
comunidade faz com o que o pastor seja um líder carismático emergente e
influente na localidade, possuindo a capacidade de influenciar e ditar a vida
dos moradores devotos de modo político inclusive.
As restrições políticas
para bispos e pastores evangélicos são muito diferentes dos sacerdotes
católicos, resultando em uma grande quantidade de políticos advindos do
evangelismo. O resultado é a chamada “bancada da Bíblia” no Congresso, sendo
muito numerosa e influente.
Nas eleições
presidenciais de 2018, a comunidade evangélica abraçou Jair Bolsonaro e foi um
elemento importante e decisivo para a sua vitória. O discurso conservador de
Bolsonaro em defesa da família, da moral e das tradições cristãs foi muito
aderente para a comunidade evangélica. Com o crescimento do número de fieis,
podendo ser a religião predominante no país na próxima década, o evangelismo
novamente será importante para o pleito de 2022.
Por tal motivo e
pensando na sua sucessão ou perpetuação de seu poder para 2022, Bolsonaro acena
para comunidade com seu infame e de mau gosto tweet do golden shower.
Na perspectiva de Andrew Korybko da Eurasia, Bolsonaro fez um argumento
poderoso com seu tweet porque
conseguiu chamar a atenção das pessoas para costumes sócias da sociedade
brasileira considerada em deterioração por normalizar exibições públicas de
atos sexuais. Ao criticarem Bolsonaro pelo seu tweet, seus opositores, querendo marcar pontos políticos, estariam,
na verdade, normalizando atos pervertidos, contribuindo para o colapso da
sociedade. Para a comunidade evangélica, tais atos são assustadores e a defesa
de tais práticas a afasta da oposição.
Não à toa, o renomado The Economist chamou Jair Bolsonaro de “mestre
das redes sociais”. O presidente utiliza suas redes para agradar seus
seguidores porque falta a Bolsonaro uma grande coalizão política, sendo
compensada por apoio popular para avançar sua agenda. Segundo o The Economist, Bolsonaro não utiliza
suas redes para esclarecer seus seguidores, mas sim para agradá-los.
Se política é a arte da
comunicação e o que está em jogo é 2022, Bolsonaro está na frente.
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