sexta-feira, 15 de março de 2019

Acenando para os evangélicos pelo Twitter


Em uma época onde os meios de comunicação eram precários, antes mesmo do início da comunicação em massa, a Igreja Católica conseguiu se notabilizar pela sua unidade universal da mensagem. Semanalmente, todos os padres do mundo inteiro e de qualquer idioma transmitem rigorosamente a mesma mensagem para os fieis católicos. A mesma mensagem transmitida para o fiel na celebração no Vaticano é passada para o fiel da cidadezinha no interior de Minas gerais, proporcionando um poder de influência organizacional muito grande.

Com o advento da comunicação em massa, a Igreja Católica, e as igrejas de um modo geral, começaram a perder o seu poder de influência. Entretanto, continuam sendo poderosas agentes influenciadores mesmo não possuindo a mesma força do passado, principalmente as Igrejas Evangélicas no Brasil que têm crescido em número de fieis ano após ano.

De acordo com o último senso demográfico realizado pelo IBGE em 2010, a proporção de evangélicos no Brasil passou de 15,5% em 2000 para 22,2% em 2010. Em contrapartida, o número de católicos caiu de 73,7% em 2000 para 65% em 2010, mantendo a tendência de queda das duas décadas anteriores. Se a tendência de queda dos católicos e a tendência de alta dos evangélicos forem mantidas, é possível que a haja uma mudança na maioria religiosa do país.

Alguns especialistas já questionam os dados do senso 2010 porque muitos católicos não são praticantes, tornando os evangélicos como a maioria religiosa ativa no país.

O crescimento dos evangélicos ocorreu de forma acentuada nas áreas periféricas das grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, emergindo das próprias pessoas da comunidade local. Muitos pastores e bispos evangélicos são negros e oriundos do bairro e da comunidade local, preservando as raízes locais e provocando elevada identificação com os fieis. Diferentemente do catolicismo que possui poucos sacerdotes negros e ligados ao seu local de origem.

Tal ligação com a comunidade faz com o que o pastor seja um líder carismático emergente e influente na localidade, possuindo a capacidade de influenciar e ditar a vida dos moradores devotos de modo político inclusive.
As restrições políticas para bispos e pastores evangélicos são muito diferentes dos sacerdotes católicos, resultando em uma grande quantidade de políticos advindos do evangelismo. O resultado é a chamada “bancada da Bíblia” no Congresso, sendo muito numerosa e influente.

Nas eleições presidenciais de 2018, a comunidade evangélica abraçou Jair Bolsonaro e foi um elemento importante e decisivo para a sua vitória. O discurso conservador de Bolsonaro em defesa da família, da moral e das tradições cristãs foi muito aderente para a comunidade evangélica. Com o crescimento do número de fieis, podendo ser a religião predominante no país na próxima década, o evangelismo novamente será importante para o pleito de 2022.

Por tal motivo e pensando na sua sucessão ou perpetuação de seu poder para 2022, Bolsonaro acena para comunidade com seu infame e de mau gosto tweet do golden shower. Na perspectiva de Andrew Korybko da Eurasia, Bolsonaro fez um argumento poderoso com seu tweet porque conseguiu chamar a atenção das pessoas para costumes sócias da sociedade brasileira considerada em deterioração por normalizar exibições públicas de atos sexuais. Ao criticarem Bolsonaro pelo seu tweet, seus opositores, querendo marcar pontos políticos, estariam, na verdade, normalizando atos pervertidos, contribuindo para o colapso da sociedade. Para a comunidade evangélica, tais atos são assustadores e a defesa de tais práticas a afasta da oposição.

Não à toa, o renomado The Economist chamou Jair Bolsonaro de “mestre das redes sociais”. O presidente utiliza suas redes para agradar seus seguidores porque falta a Bolsonaro uma grande coalizão política, sendo compensada por apoio popular para avançar sua agenda. Segundo o The Economist, Bolsonaro não utiliza suas redes para esclarecer seus seguidores, mas sim para agradá-los.

Se política é a arte da comunicação e o que está em jogo é 2022, Bolsonaro está na frente.


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