Em pesquisa recente do
Instituto Datafolha, foi revelado que o brasileiro tem perfil com tendências à
esquerda. Tal informação é muito importante por revelar pontos relevantes do
perfil do eleitorado e pautar a disputa para 2022.
Após o período da
redemocratização, o Brasil elegeu apenas um candidato visto como representante
da direita, Fernando Collor, e está prestes a eleger o segundo, assumidamente
um direitista, Jair Bolsonaro. Mesmo Fernando Henrique Cardoso, que fez um
governo à direita, era visto como um social democrata quando eleito. Portanto,
historicamente, o brasileiro tem uma simpatia com a esquerda.
A pesquisa do Datafolha
revela que a vitória de Jair Bolsonaro é mais um voto de protesto contra o
Partido dos Trabalhadores do que um “endireitamento” da população. Para embasar
o argumento, vamos aos números: 51% acham que a ditadura deixou mais
realizações negativas do que positivas, 72% discordam da proibição de greves,
51% discordam da intervenção nos sindicatos, 61% discordam da proibição de
existência de partidos, 72% discordam da censura, 71% discordam do fechamento
do Congresso Nacional, 62% discordam de prender suspeitos sem a autorização da Justiça
e 80% discordam da tortura.
Já que a população
possui um viés à esquerda, a pergunta que surge é: por que Jair Bolsonaro irá
vencer a eleição?
A pesquisa do Datafolha
revela que 42% não acreditam que ocorrerá uma nova ditadura e 19% acham que há
pouca chance de ocorrer. As informações mostram que as pessoas confiam na
democracia e acreditam em um Estado democrático. Portanto, as campanhas que
associam Jair Bolsonaro à ditadura são ineficazes, pois uma parcela
considerável da população acha que ela nunca irá voltar a ocorrer. É como
tentar assustar um adulto com histórias de monstros que ele deixou de acreditar
há tempos.
Também é relevante
destacar o descrédito das instituições, sejam elas os partidos políticos, a
imprensa, a política em si e a “instituição Lula”, mesmo Lula ainda sendo muito
poderoso. Porém, é necessário dizer que aproximadamente 20% da população brasileira
é de fato fascista e votaria em um candidato da direita de qualquer forma. Se estiver
duvidando, basta ver que 23% concordam com a censura, 21% concordam em fechar o
Congresso Nacional e 32% acham que a ditadura foi positiva.
Com os números apresentados,
é possível analisarmos o panorama político atual: é bem provável que o governo
de Jair Bolsonaro seja um desastre. O motivo para o desastre anunciado é bem
simples: falta coesão dentro da equipe presidencial. Jair Bolsonaro nunca foi
um neoliberal como Paulo Guedes, muito pelo contrário, as posições do candidato
sempre foram estatistas. Os militares que o apóiam são estatistas e outros
neoliberais. O seu vice-presidente é insubordinado. Os apoiadores eleitos para
o Congresso Nacional são fracos e estão lá por interesses particulares. Será
apenas uma questão de tempo para as cabeças começarem a bater.
E, aparentemente, já
começaram: Jair Bolsonaro que era contrário ao 13º salário já começa a dizer
que haverá um 13º no Bolsa Família, revelando um passo à esquerda. Pois, Jair
Bolsonaro sabe que o eleitor brasileiro é simpático com a esquerda e precisará
abandonar algumas idéias de direita para governar.
Longe de Brasília, mais
precisamente em Curitiba, está o Ex-Presidente Lula que, apesar de todos os
seus defeitos, sabe ler e interpretar contextos políticos como poucos. Lula
dificilmente poderia comandar o país da candeia. Porém, pode muito bem comandar
a oposição. Lula sabe que o brasileiro é simpático à esquerda e tem ciência que
a porta de entrada para seu retorno ao poder estará aberta com o provável desastre
do governo de Jair Bolsonaro.
Entretanto, existe um obstáculo
entre Lula e sua volta ao Palácio do Planalto: Ciro Gomes.
Apesar de Ciro Gomes
ter tido apenas 12% dos votos, ele sai extremamente fortalecido da eleição de
2018. Ciro Gomes é o candidato ideal para canalizar toda a simpatia da
população com a esquerda: está desvinculado do Partido dos Trabalhadores, tem
menos sede por poder do que Lula, é inteligente e, mais importante de tudo, é,
até o momento, honesto.
De todos os programas
de governo dos presidenciáveis, o de Ciro Gomes era o melhor. O programa de
Ciro Gomes era tão bom que todos os debates foram pautados por ele e partes
consideráveis foram incorporadas nos programas de Jair Bolsonaro e Fernando
Haddad. Talvez, somente Geraldo Alckmin possuísse um programa de governo capaz
de discutir com o de Ciro Gomes. Entretanto, o programa de Ciro Gomes era tão
bom que estará aplicado em 2019, seja por Jair Bolsonaro ou Fernando Haddad.
É importante mencionar
que Ciro Gomes conseguiu resistir ao Ex-Presidente Lula. Lula sempre conseguiu
colocar em escanteio seus pares políticos de destaque para poder comandar a
esquerda de forma absoluta, falhando apenas com Ciro Gomes.
O futuro revela uma
disputa ferrenha pelo controle da oposição entre Lula e Ciro até 2022. Enquanto
a população está entorpecida com a “caça” aos comunistas da Guerra Fria à
brasileira, os bastidores estão fervendo. Talvez, desde o princípio, o que
esteve de fato em jogo sempre foi o controle da esquerda, tendo a disputa
presidencial ficado em segundo plano. Aquele que comandar a esquerda em 2019
será o presidente em 2023.
Se o plano de Lula era,
desde o começo, comandar a esquerda e não o Palácio do Planalto, ele usou todos
nós. Se isso for verdade, só posso admitir que Lula é um gênio. Se a
inteligência de Ciro conseguirá derrotar a genialidade de Lula, precisaremos
esperar mais alguns anos pela resposta.
Aguardemos.
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