sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O Brasil é de esquerda. E agora?


Em pesquisa recente do Instituto Datafolha, foi revelado que o brasileiro tem perfil com tendências à esquerda. Tal informação é muito importante por revelar pontos relevantes do perfil do eleitorado e pautar a disputa para 2022.

Após o período da redemocratização, o Brasil elegeu apenas um candidato visto como representante da direita, Fernando Collor, e está prestes a eleger o segundo, assumidamente um direitista, Jair Bolsonaro. Mesmo Fernando Henrique Cardoso, que fez um governo à direita, era visto como um social democrata quando eleito. Portanto, historicamente, o brasileiro tem uma simpatia com a esquerda.

A pesquisa do Datafolha revela que a vitória de Jair Bolsonaro é mais um voto de protesto contra o Partido dos Trabalhadores do que um “endireitamento” da população. Para embasar o argumento, vamos aos números: 51% acham que a ditadura deixou mais realizações negativas do que positivas, 72% discordam da proibição de greves, 51% discordam da intervenção nos sindicatos, 61% discordam da proibição de existência de partidos, 72% discordam da censura, 71% discordam do fechamento do Congresso Nacional, 62% discordam de prender suspeitos sem a autorização da Justiça e 80% discordam da tortura.

Já que a população possui um viés à esquerda, a pergunta que surge é: por que Jair Bolsonaro irá vencer a eleição?

A pesquisa do Datafolha revela que 42% não acreditam que ocorrerá uma nova ditadura e 19% acham que há pouca chance de ocorrer. As informações mostram que as pessoas confiam na democracia e acreditam em um Estado democrático. Portanto, as campanhas que associam Jair Bolsonaro à ditadura são ineficazes, pois uma parcela considerável da população acha que ela nunca irá voltar a ocorrer. É como tentar assustar um adulto com histórias de monstros que ele deixou de acreditar há tempos.

Também é relevante destacar o descrédito das instituições, sejam elas os partidos políticos, a imprensa, a política em si e a “instituição Lula”, mesmo Lula ainda sendo muito poderoso. Porém, é necessário dizer que aproximadamente 20% da população brasileira é de fato fascista e votaria em um candidato da direita de qualquer forma. Se estiver duvidando, basta ver que 23% concordam com a censura, 21% concordam em fechar o Congresso Nacional e 32% acham que a ditadura foi positiva.

Com os números apresentados, é possível analisarmos o panorama político atual: é bem provável que o governo de Jair Bolsonaro seja um desastre. O motivo para o desastre anunciado é bem simples: falta coesão dentro da equipe presidencial. Jair Bolsonaro nunca foi um neoliberal como Paulo Guedes, muito pelo contrário, as posições do candidato sempre foram estatistas. Os militares que o apóiam são estatistas e outros neoliberais. O seu vice-presidente é insubordinado. Os apoiadores eleitos para o Congresso Nacional são fracos e estão lá por interesses particulares. Será apenas uma questão de tempo para as cabeças começarem a bater.

E, aparentemente, já começaram: Jair Bolsonaro que era contrário ao 13º salário já começa a dizer que haverá um 13º no Bolsa Família, revelando um passo à esquerda. Pois, Jair Bolsonaro sabe que o eleitor brasileiro é simpático com a esquerda e precisará abandonar algumas idéias de direita para governar.

Longe de Brasília, mais precisamente em Curitiba, está o Ex-Presidente Lula que, apesar de todos os seus defeitos, sabe ler e interpretar contextos políticos como poucos. Lula dificilmente poderia comandar o país da candeia. Porém, pode muito bem comandar a oposição. Lula sabe que o brasileiro é simpático à esquerda e tem ciência que a porta de entrada para seu retorno ao poder estará aberta com o provável desastre do governo de Jair Bolsonaro.

Entretanto, existe um obstáculo entre Lula e sua volta ao Palácio do Planalto: Ciro Gomes.

Apesar de Ciro Gomes ter tido apenas 12% dos votos, ele sai extremamente fortalecido da eleição de 2018. Ciro Gomes é o candidato ideal para canalizar toda a simpatia da população com a esquerda: está desvinculado do Partido dos Trabalhadores, tem menos sede por poder do que Lula, é inteligente e, mais importante de tudo, é, até o momento, honesto.

De todos os programas de governo dos presidenciáveis, o de Ciro Gomes era o melhor. O programa de Ciro Gomes era tão bom que todos os debates foram pautados por ele e partes consideráveis foram incorporadas nos programas de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Talvez, somente Geraldo Alckmin possuísse um programa de governo capaz de discutir com o de Ciro Gomes. Entretanto, o programa de Ciro Gomes era tão bom que estará aplicado em 2019, seja por Jair Bolsonaro ou Fernando Haddad.

É importante mencionar que Ciro Gomes conseguiu resistir ao Ex-Presidente Lula. Lula sempre conseguiu colocar em escanteio seus pares políticos de destaque para poder comandar a esquerda de forma absoluta, falhando apenas com Ciro Gomes.

O futuro revela uma disputa ferrenha pelo controle da oposição entre Lula e Ciro até 2022. Enquanto a população está entorpecida com a “caça” aos comunistas da Guerra Fria à brasileira, os bastidores estão fervendo. Talvez, desde o princípio, o que esteve de fato em jogo sempre foi o controle da esquerda, tendo a disputa presidencial ficado em segundo plano. Aquele que comandar a esquerda em 2019 será o presidente em 2023.

Se o plano de Lula era, desde o começo, comandar a esquerda e não o Palácio do Planalto, ele usou todos nós. Se isso for verdade, só posso admitir que Lula é um gênio. Se a inteligência de Ciro conseguirá derrotar a genialidade de Lula, precisaremos esperar mais alguns anos pela resposta. 

Aguardemos.

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