quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A Petro te frustrou?

Nos últimos meses temos acompanhado pela imensa cobertura da mídia um dos maiores escândalos de corrupção do Brasil: o caso da Petrobrás. Quase diariamente, os noticiários são tomados com notícias de novos escândalos e desvios de dinheiro que são revelados com as investigações da "Operação Lava Jato". Hoje em dia, é praticamente impossível não ligar a televisão ou visitar um site de notícias que não traga ao menos uma notícia sobre o assunto.

Mais atentos que a população em geral ao caso da Petrobrás, os acionistas da empresa acompanham e reagem de forma coletiva a cada nova notícia divulgada. Se em 2008 as ações preferenciais da Petrobrás chegaram ao valor aproximado de R$ 41,00, nos dias atuais, seu valor ronda a casa dos R$ 8,00. Tal derretimento no valor acionário, tendo como uma das causas os escândalos de corrupção, resultou em uma ação judicial de acionistas americanos à Petrobrás.

As pressões por parte dos acionistas, mídia e população foram tão grandes que resultaram na renúncia da engenheira química Graça Foster da presidência da Petrobrás. A escolha por Graça Foster ao cargo de presidente da empresa foi uma tentativa de realizar uma opção mais técnica e menos política. Entretanto, como a Petrobrás é um agente importante para controlar a inflação do país, as decisões sobre preços permaneceram a cabo de seu acionista majoritário: o governo.

Uma das últimas pressões que ganhou os noticiários recentemente foi referente à divulgação do balanço contábil da Petrobrás do terceiro trimestre do ano passado. A divulgação do balanço contábil, segundo a mídia, frustrou as expectativas e não divulgou as perdas contábeis por corrupção. A companhia deu a justificativa que não conseguiu encontrar uma metodologia para realizar o cálculo e irá se informar junto às entidades competentes em como realizá-lo.

Entretanto, do ponto de vista contábil, a queixa da mídia não possui qualquer tipo de fundamento. É válido o questionamento se o balanço é lícito por não possuir uma auditoria responsável e também é possível questionar a veracidade dos números apresentados, porém, dizer que o balanço não contém as perdas por corrupção é absurdo. Nos padrões contábeis atuais, não há campos a serem preenchidos com valores referentes à "corrupção".

Calcular contabilmente as perdas com corrupção é a mesma situação que calcular a perda com custo de oportunidade: é possível fazê-lo economicamente, porém sem qualquer valor para a contabilidade. A companhia pode, em uma nota explicativa no balanço, divulgar um valor estimado para as perdas com corrupção. Porém, os números que estamos vendo na mídia são apenas meras estimativas do real valor perdido.

Portanto, o balanço contábil da Petrobrás pode ser frustrante por vários motivos, por ter tido seu lucro reduzido, por exemplo, mas não por ausentar as perdas por corrupção. A "frustração" que a mídia está dizendo é apenas poeira levantada que encobre a verdade da população. É por conta do episódio do balanço da Petrobrás, por exemplo, que precisamos sempre estar atentos e sempre questionarmos a informação que nos chega.

Como artifício político visando à eleição presidencial de 2018, as declarações da mídia sobre a não divulgação das perdas por corrupção nos balanços contábeis da Petrobrás são válidas. Porém, não passam de falácias, pois nenhuma organização do mundo tem condições, contabilmente, de divulgar suas perdas por corrupção. Tal questionamento da mídia brasileira fica ainda mais sem cabimento se levarmos para uma escala global.

A mídia internacional não questiona as perdas contábeis por corrupção das petrolíferas russas, por exemplo. Em ranking sobre a corrupção nos países divulgado pela ONG Transparency International, a Rússia ocupa a posição número 136 dentre 175, enquanto o Brasil está na posição 69. A colocação brasileira é ainda melhor que dos outros BRICs, China e Índia, os quais não possuem suas empresas questionadas por não trazerem perdas com corrupção em seus balanços contábeis.

Criticar uma empresa por não divulgar suas perdas com corrupção em seus balanços contábeis é algo tão absurdo quanto criticar um paralítico por ele não poder andar. A diferença entre ambos está no fato que a impossibilidade do paralitico andar é evidente, enquanto a impossibilidade de uma empresa, para o grande público, apresentar contabilmente suas perdas por corrupção é mais obscura que o balanço da Petrobrás.







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