quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A moda é me alienar?

Um fenômeno que tenho observado emergir é o estilo "fones de ouvido". Com certeza, você, leitor, já deva ter visto ou deva conhecer alguma pessoa com estilo "fones de ouvido". As pessoas adeptas ao estilo "fones de ouvido" são facilmente identificadas nas ruas, nos escritórios de trabalho, nas universidades e nos shoppings: são pessoas que sempre estão utilizando fones de ouvido.

Os fones de ouvido, nos dias de hoje, deixaram de ser um aparelho para ouvir música para virarem um acessório da roupa. Os fones não são muito diferentes dos relógios, bonés, brincos, colares e óculos escuros. Eles viraram um estilo de vida que vai muito além do objetivo inicial de ouvir música sem perturbar os vizinhos.

Quando uma roupa ou acessório é utilizado, uma mensagem é comunicada e a todo o momento estamos enviando mensagens às pessoas ao redor. Um homem que anda em um carro de luxo passa a mensagem de bem sucedido, uma mulher de batom vermelho passa a mensagem de sedução, uma roupa de marca passa a mensagem de status e assim por diante. No caso dos fones de ouvido, uma mensagem misantropa.

A comunicação visual de uma pessoa com fones de ouvido é clara e em bom som: "não se aproxime e nem tente conversar comigo". Em uma situação de um grande centro urbano com os barulhos do tráfego ou no transporte coletivo é até compreensível tal misantropia. Porém, em um ambiente coletivo de trabalho, estudos, lazer ou até mesmo familiar, onde pessoas conhecidas estão ao redor, o uso e fones de ouvido é injustificável, a não ser que a pessoa não tenha o menor interesse nas outras a seu lado, o que seria, no mínimo, desrespeitoso.

Nenhuma pessoa é obrigada a gostar ou a se relacionar com todos a sua volta. Em diversos momentos, precisamos de nossa fase de introspecção, porém, fazer disso um estilo de vida misantropo é preocupante. Nós precisamos nos relacionar com outras pessoas, é uma das necessidades básicas do ser humano, mas o uso dos fones nos impede.

Como uma pessoa pode se relacionar com as outras se a mensagem comunicada é de "não me perturbe", ou pior, "não estou interessado em você"? A pessoa "estilo fones de ouvido" está isolada em seu mundo, alheia ao restante do universo que não o seu. Uma situação extremamente arrogante, como se o restante do mundo pudesse desaparecer e nada iria mudar, porque nesse universo particular criado entre um fone de ouvido e outro, aquela pessoa é a mais importante.

O desligamento do mundo real fica explícito quando esses "seres superiores" são requisitados a voltar para a nossa realidade. A reação da pessoa é como se ela tivesse que sintonizar o cérebro para o mundo ao redor. Porém, em alguns casos, a volta ao mundo real é apenas parcial, pois muitos nem se dão ao trabalho de retirar ambos os fones do ouvido, apenas puxar para o lado é o suficiente, ou seja: um recado rápido do tipo "seja breve, não quero desperdiçar meu tempo com você".

A situação está cada vez pior com a moda da ostentação. Hoje em dia, ter e falar que tem já não basta, tudo deve ser grande, porque o importante é ser visto. Por esse motivo, os fones de ouvido estão cada vez maiores, chegando quase ao ponto de fagocitar a orelha do usuário. O tamanho do aparelho e da espuma são tão grandes que a impressão é da orelha estar vedada.

O fato curioso está no público adepto ao estilo "fones de ouvido", são pessoas jovens e de uma geração que se julga altamente conectada ao mundo. Mas com qual mundo essas pessoas estão conectadas? Com o mundo criado por elas entre seus fones ou com o mundo real? Provavelmente, elas estão conectadas com o mundo que eles acreditam ser o real.




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