quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Para onde vai o Euro?

Para começar o texto de hoje, serei direto: a União Europeia está nas cordas. Em uma luta de boxe, quando o lutador fica preso às cordas, sua situação não é das mais privilegiadas. Nesse tipo de cenário, atacar é praticamente impossível; a falta de espaço reduz a mobilidade e impede o recuo, tornando o lutador altamente vulnerável às investidas de seu oponente. Em uma situação como essa, o melhor a ser feito é defender e aguentar o máximo o prejuízo até o gongo soar, caso o contrário, a luta será perdida.

Infelizmente, se o lutador fica preso às cordas logo no início do assalto, o tempo até o soar do gongo é lento e interminável, um calvário angustiante que coloca a fé de qualquer pessoa à prova. No caso da União Europeia, não só a fé está à prova como também a paciência. O motivo apontado pelos europeus tem nome e localização geográfica: Grécia.

A presença da Grécia na União Europeia é um erro antigo desde a sua aceitação como membro do grupo no início dos anos 80. Para evitar um avanço político soviético pelo oeste da Europa, a União Europeia decidiu aderir os gregos como membros em uma manobra mais política do que criteriosa. A manobra europeia foi uma tentativa de contenção da União Soviética que já havia dominado todo o leste europeu e na época buscava estreitar relações com os gregos.

Como se um erro não bastasse, vinte anos depois da adesão ao grupo, no dia primeiro de janeiro de 2001, a Grécia se tornou o primeiro país, fora os fundadores, a aderir ao Euro, a moeda única da União Europeia. Mesmo com os rigorosos critérios de adesão, os gregos conseguiram adotar a moeda única do bloco, provando ser um país estável e seguro. Entretanto, a segurança durou até o primeiro sinal de instabilidade: a crise de 2008.

Com a crise de 2008, a União Europeia necessitou resgatar financeiramente seus membros mais fragilizados para que o bloco não padecesse, pois prosperidade e desenvolvimento dos membros são dois de seus ideais. Entretanto, para que o resgate fosse feito, o dinheiro utilizado teve que ser deslocado das economias mais poderosas para as mais fragilizadas. Dessa forma, o que poderia ser utilizado em prol das economias mais fortes, como a Alemanha, teve que ser utilizado por outros países.

Nessa situação, uma das nações mais afetadas foi a Alemanha, pois por ser o país economicamente e geopoliticamente mais forte do bloco, caberia a ela resgatar seus vizinhos, entre eles a Grécia. Apesar de o resgaste econômico ser praticamente uma obrigação, ele não é visto com bons olhos pela população germânica. A população alemã questiona o dinheiro proveniente de seus impostos serem emprestados aos gregos, por exemplo, ao invés de investido em seu próprio país. Na cabeça dos alemães, se os gregos não souberam se administrar, não é problema da Alemanha.

A situação da União Europeia ficou ainda mais delicada após as eleições gregas vencidas por um partido de esquerda. O novo governo grego propõe ao restante do bloco econômico um afrouxamento da anistia imposta a Grécia e recentemente desistiu de entrar com um ventilado pedido de perdão da dívida. A Alemanha, principal credor do bloco, por sua vez, já afirmou que não enviará mais dinheiro aos gregos sem o programa de anistia.

Enquanto as negociações políticas caminham, a população grega sofre com desemprego e aumento nos níveis de pobreza. A Grécia alega que a não aceitação da Alemanha dos pedidos sobre o programa de austeridade são uma afronta à democracia, pois é o desejo de sua população. Porém, a Grécia esquece que democracia é uma via de mão dupla e não pode desconsiderar o desejo da população alemã.

Para o Banco Central dos EUA, a saída da Grécia da zona do Euro é apenas uma questão de tempo. Para os alemães, a saída grega seria desastrosa e culminaria com o fim da moeda única, pois seria compreendido que países com velocidades de funcionamento tão diferentes não combinam para ter o mesmo dinheiro circulando.






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