quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Qual o segredo do sucesso?

No dia 28 de novembro de 2014, morreu o diretor, ator, compositor, escritor, comediante e dramaturgo Roberto Gómez Bolaños, também conhecido como Chesperito. O apelido de Chesperito é derivado de "shakespearito", uma alusão ao poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare que significava "pequeno Shakespeare". Tal apelido era proveniente da genialidade do mexicano em seus trabalhos e criação de personagens. Os mais conhecidos do público brasileiro eram Chaves e Chapolin.

Apesar da morte de Bolaños em 2014, o personagem Chaves já havia morrido há muito tempo. No ano de 1995, o dublador Marcelo Gastaldi veio a falecer. Dono de uma voz melancólica, Gastaldi deu vida brasileira a personagens como Charlie Brown e imortalizou Chaves e Chapolin. As causas de sua morte são variadas e não há consenso se foi decorrência de problemas com diabetes ou um fatídico acidente automobilístico.

Além de emprestar sua voz para os personagens, Marcelo Gastaldi foi parte importante para a perpetuação do fenômeno Chaves que as pessoas tanto querem explicar, porém pouco conseguem. Muitos vão dizer que o sucesso é por conta do humor inocente de criança. Talvez sim, mas um seriado em que o garoto gordo é debochado por causa do seu peso, a velha solteira é chamada de bruxa, o menino rico humilha o menino pobre, o homem mais velho agride crianças que não são seus filhos e o professor fuma enquanto ministra suas aulas não pode ser considerado "inocente".

A inocência talvez tenha sido a melhor explicação encontrada para tentar justificar o sucesso do tosco seriado. Entretanto, se a inocência fosse a única razão, outros programas igualmente inocentes também estariam fazendo o mesmo sucesso. Além disso, conversando uma vez com um mexicano, ele se mostrou surpreendido com o fato do seriado ainda passar diariamente em canal aberto no Brasil, algo que já não acontecia a certo tempo no México. Será que a inocência vale apenas para o cenário brasileiro e não para o mexicano?

A inocência pode ser uma das explicações para o sucesso. Porém, o segredo da perpetuação do fenômeno do seriado Chaves no Brasil é a dublagem. Enquanto diretor, Marcelo Gastaldi selecionou de forma sublime um time de atores com vozes e sinergia perfeitas para os personagens criados por Bolaños. Na equipe de Gastaldi havia Nelson Machado, dublador do personagem Quico e responsável por "abrasileirar" os textos em espanhol e criar os principais bordões amados pelo público: "gentalha, gentalha, gentalha", "ta bom, mas não se irrite", "ninguém tem paciência comigo" e "era melhor termos ido ver o filme do Pelé" são alguns exemplos do trabalho de adaptação feito por Nelson.

Mesmo o trabalho de dublagem sendo o principal responsável pela manutenção do sucesso do programa até os dias de hoje, temos que ter cuidado para não desprestigiarmos, mesmo que de forma involuntária, o trabalho realizado por Bolaños. Não podemos esquecer que antes da seleção de atores brasileiros feita por Gastaldi, Bolaños já havia realizado uma triagem meticulosa de atores para darem vida a seus personagens. Portanto, os episódios que chegam a nossos televisores foram desenvolvidos por duas equipes: a mexicana e a brasileira.

O sucesso do programa no Brasil é proveniente dessas duas equipes que juntas possuem uma sinergia muito forte. Caso o seriado não tivesse uma das equipes, ele provavelmente não teria obtido o mesmo sucesso em solo brasileiro. A sinergia do grupo de Gastaldi e do grupo de Bolaños transcende o fator técnico da dublagem impecável e chega a um ponto muito mais complexo: formação de equipes.

A principal lição que o seriado deixa é a importância em formar boas equipes. Tanto Gastaldi quanto Bolaños desempenharam seus papéis de líderes muito bem e formaram excelentes equipes. Ambos são ótimos exemplos de que a seleção e distribuição de papéis é um fator preponderante para o sucesso e, principalmente, para a lucratividade de um negócio.

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