quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

É possível ter sustentabilidade?

No domingo 14/12, o Fantástico passou uma matéria sobre caminhoneiros que burlavam a utilização do ARLA 32. O ARLA 32 é um aditivo utilizado em caminhões para reduzir as emissões de gases provenientes do escapamento dos veículos. De acordo com a reportagem, a lei obriga os caminhoneiros a utilizarem o sintético em suas viagens. Porém, na prática, não é exatamente isso que acontece: colocado em um tanque a parte do reservatório de combustível, seu uso é substituído por água ou por um mecanismo eletrônico que inibe os sensores do caminhão de detectarem a ausência do produto.

A reportagem do Fantástico, para dramatizar a situação, iniciou com a apresentadora dizendo "uma fraude que coloca em risco a saúde das pessoas e o meio ambiente". Sem saber, a apresentadora já identificou e respondeu o problema em questão. A preocupação somente com "pessoas" e "meio ambiente" é o problema. A razão dos caminhoneiros não fazerem uso do aditivo deve-se ao fato do encarecimento do custo de transporte.

A utilização do ARLA 32, denunciada pelo Fantástico, é apenas um de inúmeros exemplos de iniciativas de sustentabilidade que fracassaram, ou seria de desenvolvimento sustentável? De todas as iniciativas que fracassaram muitas, para não ser arrogante em dizer todas, já surgiram natimortas. Isso ocorreu, ocorre e ocorrerá porque as pessoas não sabem o que é sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. A grande maioria da população trata os dois termos como sinônimos, o que não está correto.

Apesar de muitos autores realmente tratarem ambos como sinônimos, isso não é o mais apropriado. O termo "desenvolvimento sustentável" remete a ideia de desenvolver o presente sem comprometer os recursos do futuro. Por outro lado, o conceito de "sustentabilidade" é mais complexo e está pautado em três pilares: ambiental, social e econômico.

Tendo em mente o que é sustentabilidade, fica muito trivial descobrir os motivos que fizerem o exemplo apresentado pelo Fantástico fracassar. A utilização do ARLA 32 é viável do ponto de vista ambiental e social, porém, péssimo do ponto de vista econômico. Seu preço encarece os custos de transporte e deixa os caminhoneiros menos competitivos dentro de um mercado de forte concorrência.

Antes de julgar a ação dos caminhoneiros como condenável, abra a sua geladeira e veja se há algum produto de origem orgânica. Se houver, não serão todos. A causa da escassez de produtos orgânicos na sua geladeira provavelmente é o preço. Apesar de serem excelentes para o meio ambiente e para os produtores, os produtos orgânicos possuem um preço maior do que os "não orgânicos", tornando-os pouco atrativos para os consumidores finais, no caso, você.

A situação do ARLA 32 e dos produtos orgânicos é rigorosamente a mesma. Para que uma iniciativa de sustentabilidade tenha êxito, ela deve contemplar todos os três pilares de sustentação: ambiental, social e econômico. Muitas organizações realizam ações sócio-ambientais como se fossem ações de sustentabilidade, porém, para ser considerada uma ação de sustentabilidade de fato, ela também deve contemplar o pilar econômico.

No contexto atual, as ações de sustentabilidade que obtém êxito, em sua maioria, são pautadas na atenuação de desperdícios, pois também há o ganho econômico com a redução da utilização de recursos. Dessa forma, torna-se interessante para as organizações adotarem medidas sustentáveis, em razão de haver um beneficio real para elas.

Em dezembro ocorreu a Conferência Climática das Nações Unidas, em Lima no Peru. Todo o discurso de preocupação climática é muito bonito e louvável, porém, fica limitado à teoria, pois na prática, não deixa de ser utópico. Enquanto não houver medidas que não pretiram o lado econômico em detrimento do social e ambiental, as ações de sustentabilidade irão fracassam sumariamente. Fracassar é desperdiçar. Portanto, as mesmas pessoas que pregam tanto a emergência da sustentabilidade estão sendo "anti sustentabilidade", pois geram desperdício. Antes mesmo de criar ou propor algo, deve-se entender o conceito do contexto para que o tiro não saia pela culatra como sistematicamente está ocorrendo. 

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