sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Onde está a concorrência?

Para iniciar o artigo, pensei em propor ao leitor um desafio: tentar encontrar uma empresa com um faturamento de US$ 1 trilhão. Desisti quando soube que a empresa com o maior faturamento, segundo a Fortune, é o Wal Mart com US$ 476 bilhões, nem a metade do valor proposto no desafio. O segundo desafio que eu iria propor era encontrar uma empresa com uma quantidade de funcionários superior a um milhão. Também desisti ao saber que o próprio Wal Mart possui 2,2 milhões de colaboradores, uma quantidade comparável a populações de países inteiros.

Todo esse exercício era apenas para mostrar ser impossível comparar empresas com países. Apesar de o próprio Wal Mart ter um faturamento superior ao PIB da Argentina, por exemplo, ele ainda está muito longe dos US$ 15 trilhões dos EUA, para não entrarmos no quesito população, pois 2,2 milhões são incomparáveis com o 1,3 bilhão da China.

Da mesma forma que as empresas possuem um CEO, um país também possui um, no caso, um presidente. E do mesmo modo que é impossível comparar economicamente e populacionalmente países com empresas, é impossível compararmos as responsabilidades de um CEO e de um presidente nacional. Um presidente nacional precisa zelar pela soberania nacional, pela saúde da população, pela defesa do território, pelos interesses econômicos, pelo bem-estar social e pelas políticas governamentais, para citarmos alguns.

Apesar de tantas responsabilidades, os presidentes das vinte maiores potências mundiais ainda conseguem arrumar um tempo em suas agendas para se reunirem em Brisbane, na Austrália, na reunião do G20. Se pessoas tão atarefadas conseguem se reunir em uma sala para debaterem assuntos de Estado, é perfeitamente normal acreditar que um grupo de pessoas menos atarefadas também consiga se reunir em uma sala num local determinado.

Portanto, é possível para CEOs de empresas de determinado segmento se reunirem no hotel Burj Al Arab em Dubai para debaterem assuntos de interesse. Interesses que incluem preços ao consumidor. Se todas as empresas combinarem uma margem de flutuação de preços, elas evitam entrar em uma "guerra de preços", mantendo assim as margens de lucro.

Apesar de serem concorrentes, esse tipo de cooperação é interessante para as empresas. Se os produtos tiverem qualidades semelhantes, a escolha do consumidor é feita pelo preço. Ou seja, o produto mais barato, na maioria das vezes, acaba sendo comprado. Portanto, as empresas buscam maneiras de levar ao cliente o produto mais barato possível, configurando uma "guerra de preço" e achatamento das margens lucro. Entretanto, se houver um "acordo de cavalheiros" entre as empresas, elas evitam entrar nessa nefasta disputa por preço tão prejudicial aos cofres empresariais.

Com os preços semelhantes, a concorrência é praticamente inexistente, pois se há similaridade entre preço e qualidade de duas marcas distintas, não faz diferença para o consumidor qual produto escolher. Portanto, mesmo duas, três, quatro ou vinte marcas distintas, nesse tipo de situação, a concorrência é zero. Além do mais, tal movimento cooperativo, além de evitar uma "guerra de preços", coíbe a entrada de novos concorrentes ao mercado, pois o poder de barganha junto a clientes e fornecedores cria uma barreira praticamente intransponível que pleiteiam um lugar ao sol nesse segmento.

Se Adam Smith, em "A Riqueza das Nações", em 1776 já dizia que tais reuniões de empresas eram perfeitamente possíveis e ocorriam, imaginem hoje em dia com aviões, carros, telefones, celulares, internet e todos os outros aparatos tecnológicos que encurtaram todas as distâncias.


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