quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Por que não guardo dinheiro?


No dia 30/07, em sua coluna no jornal "A Folha de São Paulo", o economista Samy Dana afirmou que o brasileiro excede seus gastos mensais em restaurantes e bares. As razões para isso podem ser diversas: falta de tempo para o preparo do almoço e do jantar, estilo de vida e preço elevado são alguns exemplos que talvez expliquem o excesso de gastos dos brasileiros com o lazer gastronômico.

Apesar de ser um texto explicativo de como gerir parte do salário gasto com lazer, Samy deixa muito claro em uma passagem do artigo que o brasileiro não sabe como gerir suas finanças. Não existe entre os brasileiros uma cultura de realização de planejamento financeiro. Nós não sabemos a forma adequada de poupar dinheiro ou fazer uma poupança. Poupar dinheiro ou fazer poupança é deixar de gastar agora para gastar no futuro. Porém, planejamento e visão de longo prazo estão longe de serem elementos culturais do Brasil.

A cultura brasileira é muito pautada no imediatismo e curto prazo sem preocupações maiores com o futuro. Porém, isso não ocorre por desleixo, indolência ou baixo nível educacional do povo. Nós somos assim por conta de acontecimentos históricos ocorridos durante as décadas de 60, 70 e 80. As gerações mais novas, nascidas nos anos 90 em diante, não têm, em seus pais e avós, exemplos de pensamento de longo prazo, pois as gerações anteriores viveram e/ou nasceram durante um contexto histórico muito diferente da realidade atual.

Até o surgimento do chamado Plano Real em 1994, o Brasil enfrentou períodos de forte instabilidade econômica: hiperinflação, mudanças de planos econômicos, alterações de moeda vigente e overnight. Tantas turbulências econômicas não permitiam que o brasileiro pudesse armazenar seu dinheiro para consumi-lo no futuro.

Durante muito tempo, o dia do pagamento transformou-se em uma verdadeira corrida aos supermercados. Como o poder de comprar ficava menor a cada dia, era fundamental comprar todos os produtos desejados e estocá-los em casa imediatamente após o recebimento dos salários. Pois, no dia seguinte após receber o pagamento pelo labor, o salário já não era suficiente para adquirir a mesma quantidade de produtos do dia anterior.

Da mesma forma, as grandes mudanças de planos econômicos impossibilitavam as empresas a planejarem-se para um horizonte de longo prazo, pois como os horizontes econômicos mudavam com frequência, um planejamento feito hoje poderia não ser tão efetivo.

A hiperinflação e as mudanças de planos econômicos faziam com que as pessoas tivessem planejamentos curtos e uma necessidade de consumir rapidamente seus recursos financeiros para evitar desvalorização salarial.

O resultado disso é observado nos dias atuais: mesmo com estabilidade econômica e inflação controlada, as pessoas ainda consomem seus recursos financeiros como se estivessem nos anos 80. Entretanto, o cenário futuro é positivo. Mesmo que em um estágio embrionário, uma maior preocupação com as finanças futuras começa a surgir entre o povo brasileiro. Viver cada dia como se fosse o último é um conceito completamente fora de moda.

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