quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Você é um funcionário da Coca?


Com o advento da Revolução Industrial em 1760, a produção de produtos disparou. Para que tamanha quantidade de produtos fosse absorvida pelo mercado, era necessário que mais consumidores surgissem. Uma forma de aumentar o número de consumidores era com o aumento da população, entretanto, tal medida levaria muitos anos e a espera por tal incremento populacional era inviável. A forma encontrada de aumentar o contingente de consumo foi com a abolição da escravidão. Dessa forma, os antigos trabalhadores escravos passariam a ter remuneração e, por consequência, capital para adquirirem produtos.

A Revolução Industrial também iniciou a chamada "remuneração variável". Com ela era possível fazer o trabalhador se esforçar um pouco mais em seu trabalho em troca de um pequeno adicional pecuniário no salário, algo impossível de ser feito com o trabalho escravo. Segundo Adam Smith, o pior trabalhador assalariado era melhor que o escravo mais forte.

Passados vários anos da Revolução Industrial e do fim da escravidão, organizações e formas de trabalho tornaram-se cada vez mais complexas. As organizações perceberam que utilizar somente o labor de seus funcionários não era mais suficiente para aumentar sua competitividade no mercado. Para tanto, uma nova forma de trabalho muito mais sofisticada de trabalho foi elaborada: o trabalho involuntário.

Diferentemente do trabalho voluntário, o qual o trabalhador se voluntaria para realizar uma tarefa sem qualquer tipo de ganho pecuniário aparente, no trabalho involuntário, apesar de também não apresentar ganhos pecuniários, o "trabalhador" realiza uma atividade sem perceber que a está realizando. Ao tomar um refrigerante em público, usar uma roupa com a logomarca aparente, falar bem de algum produto para um conhecido são formas de trabalho involuntário.

Quando você pára em um restaurante depois de um dia pesado de labor para tomar uma merecida cerveja gelada, pessoas ao seu redor estão observando que você está tomando aquela marca de cerveja. Se você a está tomando, provavelmente ela tem qualidade e isso pode influenciar positivamente outros clientes do estabelecimento a consumi-la. Ao tomar uma cerveja em público, você deixa de ser um consumidor para ser um garoto propaganda.

Não é à toa o ditado sobre a "propaganda boca a boca" ser o melhor tipo de publicidade. Quando escutamos algo positivo sobre um produto de um amigo, familiar ou pessoa próxima, essa pessoa deixa de ser um cliente e passa a ser um vendedor daquele produto. Um "vendedor" com um poder de influência muito superior ao de um vendedor oficial. A grande sacada da fidelização do cliente não é simplesmente a compra constante do mesmo produto. O feito está em transformar seu cliente em um vendedor não remunerado e com forte poder de influência sobre um grupo.

O ganho das organizações com o trabalho involuntário é dobrado, pois além de darem dinheiro às empresas por meio da compra de produtos e serviços, os clientes trabalham de graça para as mesmas sem qualquer tipo de pesar ou reclamação. O trabalhador involuntário realiza o seu "trabalho" de forma feliz e na maioria dos casos ele deseja fazer isso. Você, provavelmente, conhece pessoas que gostam de estampar a marca de um produto ou falar que adquiriu esse ou aquele bem.

Antoine Lavoisier disse que "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Portanto, o trabalho escravo que todos pensavam que estava morto na verdade sofreu uma transformação para um tipo muito mais sofisticado de trabalho, no qual as pessoas "trabalham" felizes, gratuitamente e sem ao menos darem conta do que realmente estão fazendo. Se Adam Smith estivesse vivo nos dias atuais, ele teria que reconstruir seu pensamento e dizer que "o melhor trabalhador assalariado é inferior ao pior trabalhador escravo".

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