quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O que você sabe sobre a independência de Londres?


Um dos assuntos principais da geopolítica mundial do momento, pouco noticiado e praticamente despercebido pela mídia brasileira, é a tentativa da Escócia de tornar-se independente do Reino Unido. No dia 18 de setembro, escoceses irão às urnas para decidir se a nação irá ser um país independente ou não. Tal mobilização é acompanhada de perto não só pela Inglaterra, mas também pela Espanha, pois a Escócia possui relações estreitas com a Catalunha.

A independência da Escócia é vista com preocupação, pois uma separação poderá incentivar outros movimentações separatistas pela Europa. Um dos possíveis motivados é a Catalunha, por essa razão o governo espanhol mostra-se contrário a separação escocesa do Reino Unido e já deixou claro que votará contra uma possível tentativa de entrada da Escócia na União Européia.

Entretanto, a principal consequência de uma possível independência escocesa só será sentida no longo prazo. Uma ideia, que está mais para um sussurro na madruga, ainda sem forças para ser um movimento consolidado e praticamente desconhecido no Brasil, começa a emergir na capital inglesa e poderá ganhar proporções após a resolução do movimento escocês: a independência de Londres.

Não há nas ruas londrinas um movimento separatista consolidado como o escocês, o basco ou o catalão. Há apenas um "burburinho" de algumas pessoas que às vezes aparecem na mídia britânica. Porém, tais pessoas argumentam a transformação de Londres em uma Cidade-Estado como sendo mais justificável do que a própria independência escocesa.

A cidade de Londres é um ponto de atração. É existente e nítida a ocorrência de um forte êxodo intelectual de toda a Inglaterra para a capital. Além do mais, o mundo globalizado fez com que imigrantes e pessoas com elevado poder aquisitivo de outros países fossem para Londres em busca de negócios.

Os jovens londrinos estão começando a trabalhar com outras nacionalidades e terem contato com outras culturas. Tal intercâmbio cultural já começa a ser percebido, principalmente no vocabulário dos jovens residentes em Londres.

Toda essa movimentação de pessoas de outros países e contato entre culturas fizeram com que a cidade de Londres pareça mais com o resto do mundo do que a própria Inglaterra. E Londres se sente cada vez mais como uma cidade estrangeira e menos como uma cidade britânica.

Londres, diferente do passado, não é rica por ser a capital do Reino Unido. Ela é rica porque é um desejado centro global de comércio onde os ricos querem fazer negócio. Os londrinos questionam onde está a recessão que tanto aflige o resto do mundo e o resto do Reino Unido: a cidade, nos últimos anos, criou dez vezes mais empregos que qualquer outra na Inglaterra.

A política econômica adotada em Londres não tem condições de atender o resto do país. A separação seria boa tanto para a cidade como para o resto do Reino Unido, pois ambos poderiam executar seu próprios interesses econômicos. Londres precisa de taxas de juros e impostos mais altos para domar um superaquecimento da economia e para aumentas os fundos necessários para os serviços públicos.

Uma Londres independente teria um PIB semelhante a Suíça e Suécia e uma renda nacional duas vezes maior que a de Cingapura, sua maior referência de Cidade-Estado no momento.

É claro que para tudo isso ocorrer são necessários anos, talvez séculos. Os ingleses, de um modo geral, são muito apegados a sua cultura. Questionar para um britânico a utilidade da Família Real é algo semelhante a questionar a existência de Deus a um evangélico. Tornar Londres independente acarretaria em uma mudança geográfica da Família Real, do Parlamento e do Banco da Inglaterra, elementos intimamente ligados à identidade da cultura britânica.

Vale destacar, porém, que a cultura não é algo estático e está em constante construção, mesmo que a passos de tartaruga. É difícil mudar a cultura de um país, entretanto, alterar a de uma única cidade é menos complicado, ainda mais se for uma cidade tão cosmopolita como é Londres atualmente.

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