sexta-feira, 20 de junho de 2014

Se a culpa é minha, eu posso colocar em quem eu quiser?


Uma gestora, com formação em engenharia, conversa com seu subordinado, formado em administração. O teor da conversa não era dos mais animadores para o subordinado: chamado de arrogante, imaturo, despreparado emocionalmente e desmotivado. Dos quatro adjetivos ditos pela gestora, três são de responsabilidade do subordinado (arrogância, imaturidade e despreparo emocional), tais pontos são características pessoais que só melhoram, talvez, com o tempo. Entretanto, o último, "desmotivado", necessita reflexão. De quem é a culpa da falta de motivação? Do subordinado ou do chefe?

Para responder a pergunta, devemos antes definir o que é motivação. Dizem que motivação é um impulso que faz as pessoas moverem-se para atingirem seus objetivos. É uma força que varia a cada momento durante toda a vida. Por exemplo: se um indivíduo está com muita dor de barriga, o impulso (motivação) que faz ele ir ao banheiro se aliviar (objetivo) é maior do que o impulso para esse indivíduo ir ao banheiro se ele não estivesse com dor de barriga.

Algumas pessoas alegam que a motivação é algo interior. Por tanto, é impossível dizer que alguém, que não nós mesmos, possa nos motivar ou desmotivar. Voltando ao início do texto, pelo discurso da gestora, aparentemente, ela acredita nessa vertente de pensamento. Acreditar nisso é extremamente cômodo para os chefes e líderes, pois os exime de qualquer culpa perante um rendimento abaixo do esperado de seus funcionários, delegando toda a culpa do mau desempenho aos subordinados.

Muitas vezes, a culpa é realmente dos subordinados e os gestores pouco podem fazer quanto a isso. Porém, um bom líder deve saber motivar e isso é uma das competências e capacidades esperadas dele. Dizer que um funcionário é desmotivado, é assumir a incompetência e assinar o atestado de despreparo para liderar. É ser ingênuo o suficiente para acreditar que a motivação de todos os funcionários é a mesma e seus objetivos completamente congruentes com os do gestor e da organização, sendo que muitas vezes, os próprios gestores têm interesses distintos dos da organização.

Pessoas têm interesses completamente diferentes, pois são diferentes. Um bom gestor é aquele que sabe e compreende os interesses dos subordinados e os "manipula" motivando-os para atingir o objetivo que ele deseja, de preferência compatíveis com a organização. Porém, não devemos ver o termo "manipular" de forma negativa.

Vamos a um exemplo: na idade média, havia um selador de cavalos que fazia sua atividade diariamente. Um dia, um homem chega e ordena que ele sele um cavalo. Porém, esse cavalo não seria usado por qualquer vassalo. Ele seria utilizado pelo rei em pessoa que iria comandar as tropas do reino durante as cruzadas para recuperar para Deus a "terra prometida" tomada pelos árabes infiéis. Em questão de segundos, o simples selador de cavalos tornou-se um instrumento legítimo da vontade de Deus. O mesmo trabalho realizado pelo selador, da mesma forma e com os mesmos materiais, mudou de patamar e importância. A atividade passa a ter significância e o funcionário sente-se reconhecido.

Isso é motivar. É mostrar importância e relevância ao trabalho do funcionário. É entender como a atividade do subordinado pode ser valorizada. É saber a habilidade e motivação do subordinado para extrair dele o máximo de produtividade, mesmo que a tarefa seja pouco valorizada pela sociedade e pela própria pessoa.

Um faxineiro de shopping, talvez o funcionário com a remuneração mais baixa, tem a função mais importante dentro daquele ambiente, pois o shopping pode ser o melhor, com as lojas mais famosas e com as opções de entretenimento mais variadas, porém se o estabelecimento não estiver limpo e muito ber organizado, ninguém frequentará o local.

As pessoas possuem a necessidade psicológica de aprovação e reconhecimento por parte das outras. Portanto, não basta somente eu reconhecer a minha importância na organização se as outras pessoas acham que a minha atividade é insignificante. Motivar é atender tais necessidades psicológicas dos subordinados. Fazer tal reconhecimento é função do líder.

Motivar é função do gestor. Infelizmente, poucos profissionais possuem essa compreensão, pois é muito mais fácil, como na história inicial do texto, na função de delegador de tarefas, delegar também a culpa pela falta de motivação.

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