sábado, 7 de junho de 2014

Por que água vale menos que diamantes?


O programa Caldeirão do Huck de hoje (07/06/2014) foi até Barcelona visitar a casa de Neymar e fazer uma entrevista com o nosso maior craque no momento. Obviamente, pelo merecido salário que ganha, a casa não poderia deixar de ser uma enorme mansão. 

Minha tia, que estava acompanhando a reportagem, ficou indignada pelo provável fato de Neymar não ter o ensino básico completo e ganhar tanto dinheiro, enquanto várias pessoas com ensino superior (médicos e advogados, por ela citados) não receberem uma fração da quantia que recebe um jogador de futebol. Ela ainda ressaltou que só no Brasil um jogador de futebol é mais valorizado que um médico.

A opinião da minha tia nada mais é do que o nefasto senso comum. Pessoas reproduzem algo sem ao menos tentar entender os reais motivos da situação. Para tentar explicar o motivo disso ocorrer, perguntei se ela achava justo um diamante valer muito mais do que um copo de água. Infelizmente, o elevador chegou e fiquei sem resposta.

Chega a ser engraçado ler os comentários nos sites de esportes. As pessoas criticam os jogadores de futebol por seus altos salários, porém acham perfeitamente normal e aceitável um diamante valer mais do que água. 

A situação é rigorosamente a mesma.

Da mesma forma que um jogador de futebol é menos essencial para a sociedade do que um médico, um diamante também é muito menos essencial do que a água. Se passarmos uma semana sem água, morremos desidratados, enquanto podemos passar a vida inteira sem um diamante que nada mudará. Mas então, por que isso acontece?

Como dito anteriormente, nenhum bem é mais precioso do que a água. Porém, na maioria dos lugares, a água é extremamente abundante. Basta andar poucos metros que encontraremos água em uma torneira. A abundância de água, contra a escassez de diamantes, faz com que o valor pago por ela seja pequeno. Pois, se é possível encontrar um produto em qualquer lugar, não é necessário pagar caro para obtê-lo.

Isso ocorre pela chamada "utilidade marginal": quanto mais uma pessoa tem um produto, menos ela estará disposta a pagar por cada unidade a mais desse produto. Resumindo, se você está com muita fome e vai até uma pizzaria, o segundo pedaço de pizza que você comer, não irá te satisfazer da mesma forma que o primeiro, pois você não está com a mesma fome de antes. Se você pagou R$ 10,00 pelo primeiro pedaço de pizza, pagará menos pelo segundo, pois sua fome já foi saciada. 

Seguindo o raciocínio anterior, quanto mais pedaços de pizza chegarem, menos ele irão valer. Ou seja, quanto mais pizza tiver na mesa, menos ela irá valer. É a mesma situação com a água. Produtos abundantes (água) valem menos, enquanto produtos raros (diamantes) valem mais.

O que faz uma pessoa ganhar mais dinheiro do que a média da população, não é a sua profissão, mas sim a raridade do seu talento.

Portanto, o Neymar não ganha mais do que um médico por ser jogador de futebol, pois dificilmente um jogador do Nacional do Amazonas tem um salário superior a R$ 1.500. O Neymar ganha mais do que um médico por ser um diamante, ou seja, por ser um talento raro, como o raro talento de Picasso para pintar e o raro talento de Paul Mccartney para compor e tocar. Da mesma forma que o cirurgião plástico Robert Rey, o Dr. Rey, ganha muito mais do que o Neymar. Mesmo sendo médico.



3 comentários:

  1. É uma bela analogia.
    A Água potável custa menos por ser abundante, enquanto que o Diamante custa mais por ser raro.

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  2. Que coincidência.. hoje faz 8 anos que publiquei algo sobre o Neymar em outro blog que eu tenho. Um abraço!

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  3. Ora, até que é interessante, mas a afirmação do talento raro me parece um reducionismo significativo. A raridade e a relação entre oferta e demanda naturalmente aumentam o preço. Não obstante, como em quase tudo que é social, não se trata de algo mono causal. Um músico clássico de exímio talento pode não ganhar tanto dinheiro. No caso do futebol há o imenso público mundial e toda a publicidade envolvida para alcançar a todo esse público. A publicidade vem como resposta ao público, mas retroalimenta a demanda pelo conteúdo incentivando-o de inúmeras formas. Aparte dessa discussão, não acha digna a indignação da sua tia? Afinal, a quem é que valorizamos mais enquanto sociedade? A publicidade molda a nossa noção do que é importante. Aquele
    que traz mais visibilidade, tem mais valor agregado, independentemente do mérito e do valor social "real", por assim dizer. Para terminar, um exemplo claro disso é o megafone dado aos criadores simplistas e disseminadores de discursos baratos e/ou de ódio. O discurso é mais apelativo, joga com o sentimento, atrai mais, logo há mais interesse publicitário, mais recursos e mais visibilidade. Essa é uma realidade da criação de conteúdo e que não parece nada virtuosa para evolução da sociedade, do conhecimento, da sensatez e de todas as benesses que os acompanham.

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