quinta-feira, 12 de junho de 2014

Posso falar mal do cavalo?


Uma das coisas que mais gosto de fazer quando entro em alguma notícia relacionada a esportes é ler os comentários dos leitores. Com a chegada da Copa do Mundo, as páginas esportivas viraram verdadeiros divãs de insatisfeitos com o evento e a atual situação que o país se encontra. Destaco alguns comentários que encontrei:

"Qual beleza natural os turistas verão em Cuiabá, São Paulo, Belo Horizonte ou mesmo Rio de Janeiro que é uma orla cercada de favelas!!!" - Silvio BC.

"TOMARE QUE SEJA O MAIOR VEXAME DA ESTÓRIA... ESTOU TORCENDO" - Laura sis.

"Não existe e nunca existirá benefício algum pra país de terceiro mundo que tenta sediar uma copa. Ponto final." - Felipe Brait.

Em seguida, procurei mais sobre o movimento "Não vai ter Copa" e encontrei uma página no Facebook com 27 mil curtidas. A capa da página é a mascote do evento, Fuleco, portando uma arma de fogo com uma favela ao fundo. Sobre a página, os seguintes comentários me chamaram a atenção:

"Concordo foda-se acopadolixo BRASILLLL" - Carlos Toma Carudo.

"não a droga dessa copa!" - Weslly Peres.

Tais comentários me fizeram lembrar um história sobre dois vizinhos e um cavalo. Nessa história, um dos homens possuía um cavalo e toda vez que encontrava o vizinho sempre elogiava de forma efusiva o animal: "esse cavalo é muito bom! Ele é forte. Ele é rápido. Na cozinha, ele lava a louça, faz comida e serve os pratos. Na lavanderia, ele lava e passa com maestria. É bom de conversa e sempre me acompanha quando vou trabalhar".

Todas as vezes que o dono do cavalo encontrava o vizinho, a conversa era sempre a mesma: elogios e mais elogios sobre o animal. De tanto ouvir enaltecimentos sobre o cavalo, o vizinho decide comprá-lo, pois se o dono estava falando tão bem, era porque o animal realmente era bom. Ele fez a oferta e o dono aceitou.

Passado algum tempo, o vizinho, atual dono do cavalo, encontra o ex-dono do cavalo e mesmo antes de cumprimentá-lo já começa a lamuriar sobre o animal comprado: "esse cavalo é uma droga! Coloquei ele na cozinha e ele destruir toda a minha louça, comeu minha comida e cagou no chão. Na lavanderia, ele pisoteou as roupas e sujou as paredes. Esse cavalo que você me vendeu é uma droga!". O ex-dono do cavalo concordou com tudo e disse: "você está certo, mas nunca fale mal do cavalo".

Quando um rapaz vai a uma festa e encontra uma menina pela qual se interessa, ele nunca se aproxima contando seus defeitos. O rapaz nunca vai dizer que é possessivo, drogado, bêbado, torcedor do Corinthians e que tem síndrome do intestino irritado. Ele vai dizer que é um rapaz legal, atencioso, cuidadoso, trabalhador e responsável.

Ao falarmos de nós mesmos, sempre tentamos nos enaltecer e destacar nossos pontos positivos. Nesse período pré Copa do Mundo, o que vimos foram várias pessoas brasileiras denegrindo a imagem do nosso país corroborando com as notícias que saíam no exterior. Obviamente, não podemos concordar com cabeças baixas a tudo que acontece em nosso território, porém precisamos ter consciência do momento certo de emitir uma opinião.

A Copa do Mundo nos ensinou a nunca falarmos mal do nosso cavalo. Falar bem do cavalo é falar bem de sua empresa, de seu departamento, de seu produto ou, no cenário atual, do seu país. Se falarmos mal deles, será quase impossível vender. Quem vai querer comprar algo ruim? Ninguém.

Perdemos uma chance enorme de enaltecer nossas qualidades e demonstrarmos nossas diferenças que tornam nosso país único. Tudo o que falamos espantou turistas desse evento que poderia ser um grande atrativo para novos visitantes no futuro.

Muito se tem falado que a Copa do Mundo terá poucos legados. Porém, toda essa situação pré evento serve de exemplo para o futuro e é um enorme legado. Se a Copa teve poucos legados, um que posso destacar é: SEMPRE fale bem do seu cavalo, seja ele qual for.

Nenhum comentário:

Postar um comentário