quinta-feira, 26 de junho de 2014

Era para ser maior?


Você acha que deveria ter um salário maior? Com certeza sua resposta é "sim". Se essa mesma pergunta fosse repetida para toda a população mundial, 99,97% das pessoas repetiriam a resposta que você teve.

De fato, é raro encontrar alguém totalmente satisfeito com o salário que ganha. Mesmo uma pessoa que receba um bom salário e consiga levar uma vida tranquila e proporcionar conforto para sua família, não se encontra plenamente de acordo com o salário que recebe. Pode ser uma vontade de ganhar mais por simples ganância ou uma percepção que o salário não corresponde com suas capacidades profissionais, mas de fato, a maioria das pessoas não ganha o salário que realmente merece.

Existe dois tipos de salários: o salário real, aquele que todos os trabalhadores recebem ao fim do mês, e o salário merecido, o que realmente deveria ser pago ao trabalhador. Entre esses dois salários existe um deságio, pois como dito anteriormente, o trabalhador recebe menos do que realmente merece. Porém, isso não ocorre porque o local de trabalho é opressor e paga mal seus funcionários, ou por vivermos em um sistema capitalista de mais valia e opressão à classe trabalhadora. Mesmo porque, os chefes ou os donos dos meios de produção também não recebem aquilo que deveriam receber.

A pergunta que surge naturalmente é: o que as pessoas realmente merecem receber de salários? A resposta é muito simples: as pessoas deveriam ganhar um salário compatível com todo o investimento pessoal feito por ela e para ela para ser o profissional que é. Tal investimento não é somente financeiro. É necessário computar o tempo investido, o desgaste emocional, a quantidade de estudo e tudo aquilo que foi abdicado durante o processo.

Por exemplo: para uma pessoa ser um médico, ela deve passar seis anos de sua vida na universidade; após esse período, ela deverá passar outros três anos fazendo a residência, fora os anos de estudos para entrar na faculdade de medicina. Ao fazer essa conta, percebe-se que um médico dedica, no mínimo, dez anos de sua vida apenas estudando. Durante esse processo, há gastos com a educação (compra de material didático para o vestibular, compra de livros para a faculdade, pagamento de mensalidades escolares, pagamento de mensalidades universitárias, etc), gastos com aquisição de equipamentos necessários para desempenhar a profissão, gastos com transporte, tempo gasto com estudos, desgaste emocional com o vestibular e abdicação de prazeres cotidianos.

Portanto, se computado todo o investimento realizado por esse médico, o "salário merecido" deveria ser realmente maior que o "salário real". Entretanto, a diferença, ou deságio, que existe entre os dois salários é compensado pelo reconhecimento social que esse trabalhador possui. O status que a sociedade proporciona-lhe compensa o deságio.

O profissional é visto e reconhecido pela sociedade como um médico, um advogado, um funcionário de uma grande empresa, um empresário de sucesso, etc. Portanto, conclui-se que: salário merecido = salário real + reconhecimento social.

Em um post anterior, foi tratada a questão de alguns jogadores de futebol ganharem muito mais dinheiro do que a média da população. Pode ser que o investimento pessoal realizado, por exemplo, pelo Neymar seja inferior ao de um médico. Entretanto, como dito anteriormente, tais jogadores possuem um talento muito raro e de difícil mensuração de valor. Por isso, mesmo o melhor jogador de futebol do mundo, provavelmente também recebe menos do que ele merece, pois o talento que ele possui é tão raro que esse indivíduo deveria receber mais por possuí-lo. Porém, da mesma forma que acontece com os outros profissionais, o deságio também é compensado pelo reconhecimento social, no caso do jogador de futebol, o reconhecimento torna-se global. Portanto, quanto maior for o deságio, maior será o reconhecimento.

Para finalizar e seguindo a linha de raciocínio do post, nem mesmo Bill Gates, o homem mais rico do mundo, recebe realmente o que ele deveria receber. A invenção do computador pessoal realizada por ele modificou o mundo. Novas formas de interação e negócios foram criadas e geram bilhões de dólares ao dia. Relacionamentos, negócios e informações foram facilitados graças a essa invenção.

Se o Bill Gates não recebe o que realmente merece, seu deságio certamente é enorme. Se um médico é compensado pelo reconhecimento familiar ou no máximo por um reconhecimento na cidade que ele vive e o melhor jogador de futebol do mundo, que certamente possui um deságio maior, é compensado pelo reconhecimento mundial, a compensação social pelo enorme deságio recebida pelo Bill Gates é histórica. O tempo cuidará do ostracismo do médico e do jogador de futebol, porém daqui a mil anos, Bill Gates ainda será lembrado e reconhecido.

Portanto, caro leitor, se você sente-se injustiçado pelo seu salário, fique tranquilo, pois o Bill Gates também é um injustiçado.

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