quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Bem vindos ao fascismo cultural


Aparentemente, depois do “marxismo cultural”, vivemos um tempo de “fascismo cultural” onde o mais importante é a união ao invés da polarização. No fascismo cultural a política tende a se unir, deixando de existir a polarização para a convergência de todos os interesses em um único objetivo que é o bem da nação, como se o bem da nação para os mais pobres fosse o mesmo para os mais ricos.

Porém, as diferenças não importam no fascismo cultural. Todos devem deixar seus interesses de lado para lutarem por um país melhor, seja lá o que isso queira dizer. Mas se as pessoas estão unidas, significa que todos estão no caminho.

Em um mundo pós-moderno, a ideia do fascismo cultural é muito sedutora, pois, assim como os gravetos que compõem o fascio, as pessoas são frágeis individualmente. A falta de conexões profundas e duradouras provoca a liquidez do ser humano que passa a adotar formas variadas com o transcorrer das situações. Assim como uma poça d´água na calçada que muda de forma conforme o vento, a vida do homem na pós-modernidade também varia de forma, provocando incertezas e inseguranças com o futuro. Hoje, o indivíduo pode estar casado, amanhã, divorciado; hoje, o indivíduo pode estar trabalhando como médico, amanhã, pode estar trabalhando como advogado. É um mundo de infinitas possibilidades, mas também de muitas incertezas e as relações pessoais frágeis provocam um sentimento de impotência e insegurança nos indivíduos.

Portanto, para sentir-se mais forte e seguro, o indivíduo, cada vez mais individualizado na sociedade, busca a proteção grupo. A poça d´água busca se aglutinar ao lago para poder ter estabilidade. Por conta do seu tamanho e volume, dificilmente o lago sofrerá grandes mudanças porque a quantidade de poças d´água é tão grande que apenas haverá mudanças se algo muito brusco ocorrer. Há uma sensação de segurança dos indivíduos ao fazerem parte de um grupo maior. É a união fazendo a força de todas as varas jutas compondo o fascio e o fascismo.

No estado de união do fascismo cultural, aqueles que pensam diferente do grupo são cooptados a pensarem da mesma forma ou serão severamente punidos. É a concentração do poder pela violência e a hostilidade com a democracia, confundidos com o próprio estado democrático. Tudo por conta de um sentimento de lealdade ao grupo e à figura do líder.

O líder é fundamental para dar rumo e sentido na vida dos indivíduos que incerta. Se os indivíduos possuem incertezas para que qual rumo tomar, a figura do líder mostra o caminho como se fosse um guru ou conselheiro espiritual.

Outra característica fascista presente no fascismo cultural é a vitimização. Quantas vezes políticos fascistas culturais já disseram serem vítimas da maldita polarização que dominou o Brasil?

Assim como o fascismo busca inimigos fictícios, o fascismo cultural encontrou na polarização o inimigo a ser combatido. Todas as pessoas podem emitir a suas opiniões desde que não sejam polarizadas. A política precisa ser pasteurizada, pois a polarização apenas atrapalha o bom andamento da democracia e o desenvolvimento do país.

Os fascistas culturais dizem que enquanto as pessoas brigam na guerra “direita contra esquerda”, o Brasil não irá prosperar. Portanto, deve haver uma união dos pensamentos onde todos pensam iguais, contanto que seja o pensamento do líder fascista.

O leitor e a leitora mais atentos deve ter percebido que evitei posicionar o fascismo cultural na direita ou na esquerda. Obviamente, há um propósito para tal. Isso porque o fascismo cultural, diferentemente do fascista cultural, é democrático. Ele não possui fronteiras ou divisões, podendo existir tanto na esquerda quanto na direita.

Se você, leitor ou leitora, ouviu falar sobre união das esquerdas para derrotarem a direita, fique sabendo que você está de frente para o fascismo cultural.


2 comentários:

  1. Instigante. Provocativo. Vamos para casos concretos? Vamos nos aprofundar nessa existencial liquidez das relações humanas, culturais? Tudo seria relativo? tudo seria volátil? Tudo seria, então, incerto?

    ResponderExcluir
  2. Os pontos que você disserta no texto são relevantes, entretanto, acho que sempre levamos a nos enxergamos dessa forma. A interação de forma superficial e tabus na fala são agregados retroativos. A problemática das relações está em como humano, não se sente e se entende sobre o que se é. Vivemos de acordo e para nos enclausurar no meio, não dividimos nossas peculiaridades e desejos porque tememos o que somos. No final é tudo bicho.

    ResponderExcluir