O
vazamento das mensagens entre Sérgio Moro e o Ministério Público causaram um
problema que transcende a esfera do campo jurídico. Ao mostrar que mantinha
relações com um dos procuradores enquanto era juiz, Sérgio Moro violou o artigo
254 do Código do Processo Penal, a saber: o juiz dar-se-á por suspeito, e, se
não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes se, dentre outras situações
previstas nos incisos, for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles
e/ou se tiver aconselhado qualquer das partes.
Ao
violar o código, Sérgio Moro pode ser considerado alguém sem isenção para julgar
o caso, provocando a possibilidade de nulidade do processo. Em termos mais
simples, a nulidade significa a invalidade de um processo que descumpriu
pressupostos previstos na lei. Se o processo for considerado inválido, todas as
sentenças podem ser consideras inválidas e um novo processo pode começar.
Caso
ocorra a nulidade, muitos condenados pela Operação Lava Jato poderiam ser
beneficiados, caso do ex-presidente Lula e do ex-presidente da Câmara Eduardo
Cunha. Na verdade, falar em benefício é equivocado, pois, se o julgamento não
foi imparcial, é impossível dizer se os condenados são de fato culpados ou
inocentes até um novo julgamento ocorrer.
Se
os vazamentos continuarem ao ponto de ficar indefensável o argumento de que não
houve violação do Código do Processo Penal, muito condenado que estão cumprindo
pena poderiam ser libertados até a ocorrência de um novo julgamento.
Se
nós puxarmos na memória, a Operação Satiagraha foi totalmente anulada pelo
Superior Tribunal de Justiça. Na época da operação, a Corte utilizou a tese dos
frutos da árvore envenenada que consiste na idéia que se a árvore está podre,
os frutos gerados por ela também estão por conseqüência.
Para
críticos da Lava Jato, as conversas já reveladas são suficientes para
caracterizar parcialidade do agora ministro e mácula da operação. Mas e se os
eventuais futuros vazamentos agravarem ainda mais a situação?
Se
isso ocorrer, os caminhos disponíveis serão tortuosos.
A
primeira possibilidade é a situação ficar da forma como está. Todos os
processos continuam válidos e todo o judiciário encara as trocas de mensagens
como algo normal. Se isso ocorrer, o país estará rasgando o Código do Processo
Penal e todo o Poder Judiciário cairá em descrédito.
No
cenário internacional, o Brasil passará a ser visto com desconfiança. Entretanto,
uma parcela considerável da opinião pública, composta por integrantes da
classe-média, ficará satisfeita. O idealismo da classe-média brasileira
acredita ser válido descumprir leis para cumprir as leis.
A
segunda possibilidade é a nulidade, seja ela total ou imparcial. Apesar de
parecer ser o mais correto do ponto de vista jurídico, tal caminho precisará
passar pelo descontentamento populacional.
Se
no final a Operação Lava Jato resultar em nada e políticos presos há anos
começarem a ser libertados por falhas legais na condução dos processos e da
operação, qual será o sentimento por parte da população brasileira?
Para
muitos brasileiros, a Lava Jato foi um marco histórico, um ponto de ruptura
onde tempos mais justos viriam para o Brasil. Com a Lava Jato, o brasileiro,
principalmente os idealistas presentes na classe-média, começaram a acreditar
que a impunidade havia terminado. Os poderosos também seriam julgados e
condenados pelo rigor e severidade da lei da mesma forma que ocorro com o povo.
Se
a Lava Jato “acabar em pizza”, o já grande sentimento de incredulidade com as instituições
poderá ficar maior. Muitas pessoas irão acreditar que os vilões venceram.
Entretanto,
se a Lava Jato continuar, nós não estaremos de volta ao patamar onde ela
começou? Se Sérgio Moro não for punido por ter descumprido as regras, ele não
estará passando impune após ter cometido um grave delito? Se a nulidade não
ocorrer por Sérgio Moro possuir relativo prestígio popular, não estaremos
frente à impunidade de uma figura poderosa?
Qualquer
que seja o caminho adotado pela nação, Sérgio Moro trilhou a rota para que
ambos retornem para o ponto inicial. Se eu posso tirar algo de bom em toda a
situação crítica que Sérgio Moro colocou a sociedade brasileira, é a lembrança
de Vida Secas onde, no final do livro, Graciliano Ramos mostra que nós sempre
voltamos para o ponto inicial.
E se os julgamentos forem anulados e os processos continuarem de forma mais justa e imparcial e os atuais condenados forem absolvidos ou condenados novamente em um processo realmente legal ao invés de um jogo de cartas marcadas.
ResponderExcluirA falha de Moro e Dallagnol não inocenta os condenados pela Lava-Jato, mas apenas demonstra o vício desse processo, com a sua completa parcialidade.
ResponderExcluirQue tudo seja devidamente apurado, de forma clara e direta, e sem paixões, para que os culpados sejam condenados e os inocentes sejam absolvidos.
É claro que os lavajatistas, bolsonaristas e olavistas preferem mil vezes colocarem o seu "herói" num pedestal de barro do que encarar a dura realidade, pois não se pode quebrar a Lei para se fazer Justiça.
Que Moro renuncie do seu cargo de ministro, para o seu próprio bem, ou ele arcará com terríveis consequências.